Os fac-símiles dos documentos e as páginas escaneadas do livro de registros acima mostram um pouco do histórico profissional do prático de farmácia Edmundo de Oliveira Matosinho, meu querido e amado pai, “paizinho”, como eu o chamava. Em 1945 ele abriu a primeira farmácia da Vila Odilon, em Ourinhos-SP, que chamou de Farmácia Santo Antônio, e a estabeleceu na antiga Rua Paranapanema, nº. 616, atual Rua Padre Rui Cândido da Silva.
Ele a administrou até agosto de 1972, ou seja, durante cerca de 27 anos, sendo que depois ela teve outros proprietários que mantiveram o mesmo nome original. Ela ficou aberta até o final de 1999, totalizando quase 55 anos de serviços prestados à população da Vila Odilon e adjacências.
Hoje Edmundo é nome de rua, situada no Jardim Recanto dos Pássaros III em Ourinhos/ SP, próxima ao rio Pardo, homenagem criada pela Lei n° 6.062 de 14 de abril de 2014, de autoria do ex-vereador Lucas Pocay Alves da Silva, que foi por duas vezes prefeito ourinhense, e sancionada em 22 de abril desse mesmo ano pela antiga prefeita Belkis Gonçalves Santos Fernandes.
Edmundo teve sua vida toda ligada ao interior paulista. Se estivesse vivo hoje faria 104 anos. Nasceu em 13 de maio de 1921 na pequena cidade de Dois Córregos-SP, bem próximo à Jaú-SP, e viveu a primeira infância na área rural do município.
Conversando na tarde de hoje (14/05) pelo WhatsApp com o primo Paulo Sérgio Vianna Mattosinho, ele me contou que Seu Edmundo começou a atuar em farmácia com o avô dele e tio do pai de Paulo Sérgio, o Quinzote, em Timburi-SP. Quinzote veio de Botucatu-SP para Timburi em 1923 e comprou essa farmácia que se chamava Santa Cruz, depois a vendeu, em 1944, para um funcionário que trabalhou anos com ele chamado Theodoro e mudou-se para São Paulo. Acrescenta Paulo Sérgio que meu avô Hildebrando de Oliveira Matosinho administrava a fazenda do avô dele. Hildebrando era primo de minha avó Euthymia de Oliveira Matosinho, irmã do avô dele, e Hildebrando primo do avô dele. Todos eram Oliveira Matosinho. Disse que pelo que saiba eles vieram para Timburi em 1937, depois do falecimento de outro irmão do avô de Paulo Sérgio, o João, que também administrava a fazenda. O João faleceu em 1935 e foi sepultado em Timburi. Conclui dizendo que meu pai Edmundo foi para Ourinhos em 1939, junto com o seu irmão Mauro, para trabalharem.
* Dois Córregos-SP, 13 de maio de 1921 – + São Paulo-SP, 6 de agosto de 1999
Eterno farmacêutico!
Meu tio amado, muito orgulho, até hoje, quando digo meu sobrenome “MATTOSINHO”, me perguntam o que seu Edmundo era seu, homem honesto e íntegro, era meio sisudo, mas com um coração gigante e bondoso… Saudade eterna!
Competência e generosidade, marcas desse grande cuidador da saúde.
Minha história
Na ocasião em que morávamos na Vila Odilon, em Ourinhos-SP.
Meu pai trabalhava por conta própria, executando serviços de carpintaria. Foi quando ele fazia um serviço no forro do teto de um bar, situado na rua Paranapanema, eu o ajudava cuidando das ferramentas e providenciando algumas coisas que ele pedia, meu pai sofria de pequenas dores de cabeça, queimação e azia no estômago e me mandou ir na farmácia que ficava bem perto dali, para comprar uns comprimidos efervescente. Fui na farmácia e comprei sal de fruta Eno. O farmacêutico me olhando de cima pra baixo, me falou “você não quer trabalhar aqui?” Para mim foi como o céu desabasse na minha cabeça, trabalhar numa farmácia?
Levei os comprimidos para meu pai e contei-lhe o que o farmacêutico falou, meu pai respondeu “vai trabalhar”.
Voltei para a farmácia e o farmacêutico me chamou para dentro, mostrou uma prateleira cheia de vidros vazios e a pia com muitos vidros usados e sujos, explicou como eu deveria fazer para lavar os vidros, usava um pedaço de arame, meio grosso com uma mecha de algodão enrolado numa ponta, com sabão líquido e água, isso foi meu primeiro emprego. Lavar vidros numa farmácia.
Os médicos indicavam para seus clientes o remédio em fórmula e o farmacêutico tinha que preparar os remédios em pó ou líquido, em forma de poção ou xarope, usava um pilão de vidro com um pino grosso para amassar outros comprimidos na fórmula do remédio e utilizava uma balancinha de dois pratos com pesos de chumbo para medir a quantidade de medicamentos usados, utilizava envelopes para acondicionar os medicamentos ou cápsulas feita de farinha de trigo, colocando os remédios numa cápsula e fechava com outra usava um tecido de pano molhado para umedecer a cápsula de tampa .O farmacêutico ia entregar pessoalmente os remédios, para explicar aos doentes como utilizá-los.
Utilizava uma bicicleta Monark importada legítima. Para visitar os clientes e ir a Drogasil buscar mais remédios.
Eu ficava sozinho atendendo os clientes. Conseguia vender algumas coisas como comprimidos, Aspirina, Cibalena, vidros de óleo para cabelos, chamados “bor-bom”, sabão líquido, esmaltes e lixas de unhas, e preservativos…
E muitos remédios preparados em laboratórios, vendia fortificante e xarope, garrafas de água inglesa e também água prata. Durante o dia não tinha muito movimento na farmácia, o senhor Edmundo e a dona Carmita, sua esposa, tinha uma filha mais ou menos com 1 ano e meio de idade.
Dona Carmita me pedia para ajuda lá cuidando da menina que era uma menina bonitinha, muito linda, parecia uma boneca viva alegre. Eu ficava com ela no colo enquanto atendia alguns clientes, quando o senhor Edmundo saía. Tempos depois quando ela estava crescendo já grandinha a dona Carmita contratou uma babá. E eu fiquei mais livre para trabalhar na farmácia, mas a babá não cuidava bem da Edna…
Eu trabalhei durante 5 anos na farmácia e foi meu primeiro emprego, quando recebi o primeiro pagamento fiquei pulando de alegria com uma nota cinco mil reis na minha mão. Me sentia contente demais com uma nota de dinheiro novinha.
Eu frequentava o 4° ano no grupo escolar da vila e no fim de ano na festa de formatura convidei dona Carmita para ser minha madrinha de diploma. No desfile dos alunos formandos que começou na rua Paranapanema os alunos com suas mães usavam roupas brancas e dona Carmita com vestido branco comprido me acompanhava. Foi uma alegria demais, tiraram fotografias da turma.
Depois meu pai mudou-se para a fazenda onde fomos trabalhar na roça, e perdi o contato com a família da farmácia.