Esmeralda

Esmeralda é a pele da ilha…
Verde desde o basalto
este é o petróleo vegetal
que segura o vento
e se aquece nas raízes.

Por aqui passaram os vulcões
no seu tempo calmo de ter tempo.
Verdes são as mãos da ilha:
tapete de pão
esta terra boa para os dentes
para os dentes se encontrarem
enquanto o pão é a enxada de anzol curvo.

O vento canta na erva
E o trigo faz caminhar os moinhos
e decepa trezentas nespereiras bravas
numa noite sem barcos no porto
e um céu de faróis apagados.
Espelho verde
O chão faz de esmeralda aérea
Poisados nos olhos!…

Karlos Faria, pseudônimo de Carlos Patrício Barata Faria (Golegã, Portugal, 2 de maio de 1929 — Cascais, Portugal, 16 de janeiro de 2010). In “Jorge (Ciclo da Esmeralda)”, Deleg. da Coop. Semente em Lisboa, 1979

Cantiga

Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d’alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

Manuel Bandeira (Recife, Pernambuco, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968). In “Estrela da manhã”

Tirado de momentos postais

Me imagino descrevendo, como os antigos cancioneiros e poetas,
Momentos que retratei um dia analisando sonhos, sentimentos e emoções
Que de onírico viraram desenhos que já nasceram mortos
Assim penso que também hão de haver crianças
Anjos embebidos por um emaranhado de cores e luzes
Nessa difícil tarefa de retratar sonhos passados onde,
Num deles, cheio de bexigas coloridas e homenzinhos
Sendo transportados em seu interior,
Que depois, com os balões deformados e murchos
Com os homenzinhos caindo em um fundo próximo do verde musgo
Terminam com os pequenos personagens caídos em um terreno
Que futuramente os sugará para dentro, como uma areia movediça
Em direção a túneis e cavernas labirínticas

Rodrigo Pecci: Trabalhos novos

Rodrigo Pecci
Pintor e gravador – Porto Alegre/RS, 1976.
Tendo as ruas, becos, prédios, portos, trens e o céu, por vezes cinza, da paisagem urbana como sua principal temática, Rodrigo percebe nos lugares esquecidos, nas pessoas invisíveis, nas relações contraditórias e nos conflitos do cotidianos os elementos constituintes de sua poética e pesquisa estética. Em sua trajetória, já atuou como técnico, impressor e professor de gravura em metal para a Fundação Iberê Camargo e para o Museu do Trabalho em Porto Alegre, prestigiadas instituições culturais, onde teve a oportunidade de trabalhar com renomados artistas, tal como Maria Tomazelli, Carlos Vergara, Daniel Senise, Carmela Gross e Nelson Felix. Recebeu, em 2009, o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria “Destaque em Gravura”. Desde 2011, reside em São Paulo, onde realizou diversas exposições e ministrou cursos e oficinas de gravura para diversas Instituições, entre elas o Instituto Tomie Ohtake e a Oficina Cultural Oswald de Andrade. Atualmente, trabalha em seu atelier particular (Atelier Trabalhoso) e ministra cursos e oficinas de gravura no Estúdio Lâmina.

Contatos:
www.facebook.com/rodrigo.pecci.798
www.instagram.com/rodrigo_pecci
rodrigoepecci@gmail.com
WhatsApp: (11) 9 5050-0057

Ordenes e farei

Meu amor
Minha flor
Teu olhar reluz, inspira amor, seduz
Quando te vejo, sinto em mim um calor
Só por ti
Sofrerei
Até condenado à morte serei
Meu amor
Os teus olhos tão lindos, da cor do luar
Os teus olhos que fazem meus olhos chorar
Escravizado para sempre serei
Estarei a teu lado, o que precisares ordenes, farei
Os teus olhos tão lindos, da cor do luar
Os teus olhos que fazem meus olhos chorar
Escravizado para sempre serei
Estarei a teu lado, o que precisares ordenes, farei

Cartola, pseudônimo de Angenor de Oliveira (Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1908 – Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1980)