A feira de Caruaru

A feira de Caruaru
Faz gosto a gente ver
De tudo que há no mundo
Nela tem pra vender
Na feira de Caruaru

Tem massa de mandioca
Castanha assada, tem ovo cru
Banana, laranja, manga
Batata, doce, queijo e caju
Cenoura, jabuticaba
Guiné, galinha, pato e peru
Tem bode, carneiro, porco
Se duvidar inté cururu

Tem cesto, balaio, corda
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu
Tem fumo, tem tabaqueiro
Feito de chifre de boi zebu
Caneco alcoviteiro
Peneira boa e mé de uruçu
Tem carça de arvorada
Que é pra matuto não andar nu

Tem rede, tem balieira
Mode menino caçar nambu
Maxixe, cebola verde
Tomate, cuentro, couve e chuchu
Armoço feito nas torda
Pirão mexido que nem angu
Mobilha de tamburete
Feita do tronco do mulungu

Tem louça, tem ferro velho
Sorvete de raspa que faz jaú
Gelada, cardo de cana
Fruta de palma e mandacaru
Bonecos de Vitalino
Que são conhecidos inté no Sul
De tudo que há no mundo
Tem na Feira de Caruaru

Composta por Onildo Almeida (Caruaru, Pernambuco, 13 de agosto de 1928) e interpretada por Luiz Gonzaga (Exu, Pernambuco, 13 de dezembro de 1912 – Recife, Pernambuco, 2 de agosto de 1989)

Quotes

“De sede fátima devoras a firmeza
e tão fecunda ou dor
tornaste a tua fala
que és teu próprio alimento e teu sustento
na solidão imensa em que
resvalas”

§

“- Dorme sossegada
minha água lisa
face onde me estou.”

Maria Isabel Barreno (Lisboa, Portugal, 10 de julho de 1939 – Lisboa, Portugal, 3 de setembro de 2016). In “Novas cartas portuguesas”. Nota: “Quotes”, em inglês, pode ser traduzida para o português como citações, citar, orçamentos, cotações ou aspas

Edney Cielici Dias | “Espaços brancos entre substantivos: diversos, verticais, humilíssimos, incandescentes”

Edney é, entre tantos predicativos, um poeta devotado ao ofício da palavra. Economista, mestre e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo, jornalista, editor e escritor. Tem 2 livros de poesia lançados.

Abaixo, as resenhas e os links pra comprar seus livros:

Cartas da alteridade – 22 outubro 2020

Cartas da alteridade consolida de forma singular quatro décadas de anotações poéticas de Edney Cielici Dias. Não se trata de uma antologia ou algo similar, mas de um exercício de revisão do passado à luz do presente, ou de uma ressignificação do presente sob as lentes do passado. A literatura daí resultante é expressão do vivido, do confronto com o transitório na busca da transcendência; filia-se assim a uma longa tradição existencial da poesia, mas com uma dicção pós-moderna peculiar. É o livro de estreia de um poeta maduro, em um compromisso intransigente com a criação e a depuração da linguagem.

https://bit.ly/4oqZ1bI

Languagem – 24 maio 2024

Eis um poeta. Dos que procuram o som e o senso das palavras. Dos que fazem do poema uma viagem, um desafio, um mergulho, uma graça. Dos que se aplicam à tarefa de compor a massa teimosa de ideias e palavras com a paciência, o orgulho e a humildade do artesão.
[…]
Finda a leitura, fica a percepção de que o poeta realizou neste livro seu objetivo de destilar sua poesia, considerando essa palavra como depuração: determinada, buscada, teimosa, obsessiva.
Ivan Angelo, escritor

Languagem é um presente, um elogio à inteligência, ao talento, à cultura, à erudição, à arte. Sou suspeito, suspeitíssimo para falar deste livro, que conheço desde a sua fecundação. Generoso, Edney volta e meia me manda densas pílulas do seu fazer poético. Aliás, “fazer poético” é, na essência, um pleonasmo, visto que “poesia” vem do latim “poesis”, que, por sua vez, vem do grego “poíesis”, que significa “fazer”, “produzir”. E Edney faz, produz. Como um Cabral, mexe e remexe até que o prazo estoure, o que o obriga a entregar os originais, do contrário ele os alteraria e alteraria e alteraria. Essa inquietação no fazer se vê nas soluções (meta)linguísticas que Edney encontra, por exemplo, no antológico Notas Laterais, em que italiano e português se misturam em versos que metaforizam a metáfora e criam intensos focos de luz poética e linguística. Pois é aí que está o busílis de toda a obra de Edney, que dá à velha questão forma/conteúdo forma e conteúdo ímpares. Languagem é a própria sagração da linguagem criativa, inventiva, subversiva, criativamente subversiva. Como se sabe, a subversão da linguagem não é por si só uma virtude. Subversão sem criatividade é simplesmente um equívoco, um engano, um engodo. Em Languagem , nada sobeja. Destaque-se também o comovente trabalho operário de Edney na elaboração de poemas de clara inspiração concretista, na melhor “tradição” do que fizeram os nossos mestres dessa escola literária. Prepare o fôlego, caro leitor!
Pasquale Cipro Neto, linguista e professor

https://bit.ly/4o3fP8i

O nome lírico

Esta manhã
hoje
é um nome

Nem mesmo amanheceu
nem o sol
a evoca

Uma palavra
palavra só
a ergue

Com um nome
amanhece
clareia

Não do sol
mas de quem
a nomeia

Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, Portugal, 15 de agosto de 1938 — Lisboa, Portugal, 19 de janeiro de 2007). In “Líricas portuguesas”, Edições 70, 1983

@oartistasemgaleria (LS): Suaves camomilas e telinhas em acrílica

LS
Artista
Telas expostas na Amollis Gelato (@amollisgelato) e no Taiyoo Mini Market (@taiyoomarket)
Telas, cards e impressões das pinturas originais à venda

No ano de 2015 rememoro minha infância e retorno à rabiscar alguns desenhos sem compromisso, por sugestão de um amigo. Logo depois, inicio a minha caminhada artística autodidata através da pintura. Hoje, em 2021, apresento estes trabalhos com o propósito de divulgar ao público o meu processo artístico evolutivo através das principais obras realizadas neste curto período de aprendizados, tendo sempre a natureza como grande fonte inspiradora das diferentes vibrações das cores.
Boa apreciação!

Leonardo Santiago

Contatos:
www.instagram.com/oartistasemgaleria
leopicto@outlook.com
WhatsApp: (11) 9 4757-5087

XI – Aquela senhora tem um piano

Aquela senhora tem um piano
Que é agradável mas não é o correr dos rios
Nem o murmúrio que as árvores fazem…

Para que é preciso ter um piano?
O melhor é ter ouvidos
E amar a Natureza.

1-1-1930

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa (Lisboa, Portugal, 13 de junho de 1888 — Lisboa, Portugal, 30 de novembro de 1935). In “O Guardador de Rebanhos, Poemas de Alberto Caeiro”. Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993) – 41