I
Amigo, estou tão poeta
que em versos consumo o dia.
Tomara achar um remédio
que me curasse a mania.
Se queres gelar o estro,
isso está na tua mão:
Lê as odes de Filinto
e os sonetos do Garção.
II
Brevemente sai à luz
obra de um gênio distinto:
Uma versão portuguesa
da Opera Omnia de Filinto.
III
Amigo, tive esta noite
negro, horrível pesadelo;
ainda ao lembrar-me dele
se me arrepia o cabelo.
Deus te livre, e livre a todos,
de sentir o que inda sinto:
Pois não sonhei que me liam
três páginas do Filinto?
IV
Exclamou certo avarento
a um que se ia enforcar:
“– Feliz homem, que três dias
Pôde comer sem gastar!”.
V
André Pinto andar não pode,
manda médico chamar.
Chega o médico… Receita…
E André Pinto põe-se a andar!
António Feliciano de Castilho (Lisboa, Portugal, 28 de janeiro de 1800 – Lisboa, Portugal, 18 de junho de 1875)