Janela

Tarde dominga tarde
Pacificada como os atos definitivos.
Algumas folhas da amendoeira expiram em degradado vermelho.
Outras estão apenas nascendo,
verde polido onde a luz estala.
O trono é o mesmo
e todas as folhas são a mesma antiga
folha
a brotar de seu fim
enquanto roazmente
a vida, sem contraste, me destrói.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)

Metaléxico

economicopia
desenvolvimentir
utopiada
consumidoidos
patriotários
suicidadões

José Paulo Paes (Taquaritinga, São Paulo, 1926 — São Paulo, 9 de outubro de 1998)

Poema enviado pelo amigo Edney Cielici Dias, poeta e autor do livro “Cartas da alteridade”.

Obra de Eneida Sanches e fotos de Wagner Celestino

Artista visual. Gravadora. Co-founder of Lazy Goat Works with Tracy Collins.

Esta obra foi criada em 2011. Ela discorre sobre questões raciais, enriquecimento e cultivo da terra.
Na primeira versão, uma perna masculina. Nesta versão de 2022 a artista usa como molde sua própria perna, pontuando também questão de gênero X poder.

Eneida Sanches

Crédito da foto da obra de Eneida Sanches, Laura Corcuera; e a última imagem são fotos de Wagner Celestino, um dos maiores fotógrafos afro-brasileiros, com ele em primeiro plano.

Artista indicado para o blog por Gejo, O Maldito, que comenta que “na semana mando fotos dessa exposição legal.”

Contatos:
www.instagram.com/eneida.sanches
www.lazygoatworks.com

Fazendo 5 anos…

Convidei minha família para participar de minha festa de auauniversário virtual de 5 anos comemorado hoje, dia 8 de abril. Na foto estamos eu (Poke), minha irmã gêmea Luna e meu pai Duby (in memoriam).

Poke

Fotos da minha família enviadas pela dona de minha irmã Júlia Patrícia Coutinho (@juliapatricia68)

Narciso cego

Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio — não me frequento.

Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me, íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto contemplar
aquilo que ignoto sou;
distinguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.

Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.

Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhado
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo — pânico mudo —
entre o sonho e o sonhador.

Thiago de Mello (Barreirinha – AM, 30 de março de 1926 – Manaus – AM, 14 de janeiro de 2022), publicado no livro “Narciso Cego; Seguido do Romance do Primogênito” (1952).

Poema enviado por WhatsApp pela amiga Maria Isabel Pellegrini Vergueiro que me fala assim: “Vai um poeminha para você… há dias que estou com ele na cabeça.