Sereno… Sereno…
Nem vento bolindo…
Perfume de rosas, de lírios, (meu bem!)
Saudades… que chuva de mágoas caindo!
E esta alma sozinha que penas que tem!
Sereno… Sereno…
E as coisas parecem
Caladas, distantes…
— Ai Pedro, que frio!
Nem árvores! — cessem
murmúrios ondeantes
das águas do rio.
Anseios, que valem?
Serenos se calem,
Serenos, que a vida
Começa amanhã,
E as coisas, coitadas,
Quietas, caladas,
Nem deram por mim…
Não vás acordá-las,
Deixá-las, deixa-las
Que eu fico-me assim…
(E o vento a embalá-las
Serenas… e o mar…)
Oh noite, que exalas
Saudades e luar!
António Pedro (Praia, Cabo Verde, 9 de dezembro de 1909 – Praia de Moledo, Moledo, Portugal, 17 de agosto de 1966). In “Devagar”, 1929