Crônica de Fernando Pacheco Jordão: Ridículos

Fernando Pessoa, por um de seus heterônimos, dizia não conhecer ninguém que tivesse levado porrada. Isto é: que admitisse ter levado porrada. O mesmo, acho, sobre situações de exposição ao ridículo. Quem admite? Pois aqui confesso duas que vivi.

Primeira situação
Eu tinha uns 15 ou 16 anos, era uma festa em casa de família. Dancei bastante, mas me encantei mesmo foi com a copeira da casa, moreninha, risonha, Alice se chamava, até hoje lembro seu nome. Na saída, espremidos no pilar do portão da casa, trocamos demorado amasso, tórridos beijos e roçações. No dia seguinte, voltei lá, atrás de Alice, para quem sabe ao menos um cinema. Atendeu-me a própria dona da casa e, quando eu disse a que vinha, ela me reconheceu e, atônita, explicou que Alice não estava, era sua folga, fora ver os pais, fora de São Paulo. Sentindo-me ridículo, fui embora e nunca mais voltei ali.

Segunda situação
Numa suíte de hotel do interior, meu aniversário, com uma mulher com quem eu tinha um caso já fazia um tempo. Lembrando cenas de Hollywood, quis tomar champanhe no sapato dela. Um desastre, uma porcaria. Champanhe e chulé não combinam. Resultado da noitada: um champanhe desperdiçado, um sapato inutilizado, uma relação dissolvida no ridículo.

Fernando Pacheco Jordão (1937 – 2017) faleceu em São Paulo aos 80 anos. Atuou no jornalismo desde 1957, quando iniciou sua carreira na antiga Rádio Nacional, em São Paulo. Posteriormente, trabalhou como repórter, redator e editor de diversos veículos, como O Estado de S. Paulo, TV Excelsior, BBC de Londres, TV Globo, TV Cultura de São Paulo, revistas IstoÉ e Veja. Como consultor e assessor político atuou nas campanhas dos governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin. Dirigente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do assassinato de Vladimir Herzog, Fernando escreveu o livro “Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte no Brasil”, que já está na sétima edição revista e ampliada e constitui documento fundamental para a História do Brasil. Foi sócio-diretor da FPJ – Fato, Pesquisa e Jornalismo. Hoje é patrono do “Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão”, realizado pelo Instituto Vladimir Herzog desde 2009 e que já está em sua 14ª edição.

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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