Domingo no jardim público pensativo.
Consciências corando ao sol nos bancos,
bebês arquivados em carrinhos alemães
esperam pacientemente o dia em que poderão ler o Guarani.
Passam braços e seios com um jeitão
que se Lenine visse não fazia o Soviete.
Marinheiros americanos bêbedos
fazem pipi na estátua de Barroso,
portugueses de bigode e corrente de relógio
abocanham mulatas.
O sol afunda-se no ocaso
como a cabeça daquela menina sardenta,
na almofada de ramagens bordadas por Dona Cocota Pereira.
Rio, 1924.
Murilo Mendes (Juiz de Fora, MG, 13 de maio de 1901 — Lisboa, Portugal, 13 de agosto de 1975)