Ítaca
Quando partires de regresso a Ítaca
deves orar por uma viagem longa
plena de aventuras e de experiências.
Ciclopes, Lestrígones e outros monstros,
um Poseidon irado – não os temas!
Jamais encontrarás tais coisas pelo caminho
se o teu pensar for puro, e se um sentir sublime
teu corpo toca e o espírito te habita.
Ciclopes, Lestrígones e outros monstros
um Poseidon em fúria – nunca encontrarás –
se tu mesmo não os levares dentro da alma
ou ela não os puser diante de ti.
Deves orar por uma viagem longa.
Que sejam muitas as manhãs de verão
quando (com que prazer, com que alegria!)
entrares em portos jamais vistos antes!
Em colônias fenícias deverás deter-te
para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes de todas as espécies.
Compra desses perfumes quanto possas!
E vais ver as cidades do Egito
para aprenderes com os que sabem muito.
Terás sempre Ítaca no teu espírito
que chegar lá é teu destino ultimo.
Mas não te apresses nunca na viagem.
É melhor que ela dure muitos anos.
Que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico com o que ganhaste pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.
Porque Ítaca te deu esta viagem esplêndida.
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.
Konstantino Kavafis (Alexandria, 29 de abril de 1863 – Alexandria, 29 de abril de 1933)
Escreveu o saudoso mestre em idos de 1998: “Caro Matosinho, agradecendo sua aula cibernética estou lhe enviando esse lindo poema do velho poeta de Alexandria, tão cheio de sabedoria. Abraço, Sarubbi.”
Valdir Sarubbi (Bragança, Pará, 10 de outubro de 1939 – São Paulo, 8 de novembro de 2000)