I
Era novembro, em Tehuantepec,
E o marulhar do mar calou-se à noite.
Pela manhã desceu sobre o convés
Uma cor morna, como chocolate
Âmbar, como sombrinhas amarelas.
Um verde-éden suavizava a máquina
Do oceano, de uma limpidez perplexa.
Mas quem, naquela doce latitude,
Fez flores líquidas de luz se abrirem,
Mas quem de nuvens fez flores de mar,
Deitando bálsamo sobre o Pacífico?
C’était mon enfant, mon bijou, mon âme.
Dentro do mar, as nuvens alvejavam,
Flores moventes, num verde marinho
E radiante, enquanto o céu fluía
Num antiqüíssimo reflexo em volta
Dessas flotilhas. Vez por outra o mar
Vertia um íris vívido no azul.
Wallace Stevens (Reading, Pensilvânia, Estados Unidos, 2 de outubro de 1879 — Hartford, Estados Unidos, 2 de agosto de 1955), in “Harmonium” (1923/1931)