Graças quero dar ao divino
labirinto dos afetos e das causas
pela diversidade das criaturas
que formam esse singular universo,
pela razão que nunca cessará de sonhar
com um plano do labirinto
pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
pelo amor que nos deixa ver os outros
como os vê a divindade,
pelo firme diamante e a água solta,
pelas místicas moedas de Angel Silésio,
por Schopeuhauer
que decifrou talvez o Universo,
pelo fulgor do fogo
que nenhum ser humano pode olhar sem um assombro antigo,
pelo mistério da rosa
(…)
pelos minutos que precedem o sonho,
pelo sonho e a morte,
esses dois tesouros ocultos,
pelos íntimos que não enumero,
pela música, misteriosa forma do tempo.
Trecho tirado de um longo poema de Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, Suíça, 14 de junho de 1986), quase filosófico.