Para evitar a aglomeração
De shenanigans do circo
Risco os dias no almanaque
& canto aquela do
fotografei você na minha rolleiflex
Assim foi como abandonei a escola
Com método & perícia
& virei-me para a tradução
De livros de auto-ajuda
– – –
A pensar naquela foto tua na ria
Era curioso como assim
Rolleiflexada no negrume
Da alvorada
Ainda eras sem dúvida
O príncipe pequenino
Com todos os medos que por direito
Pertencem aos poetas do século xix
& a um ou outro que ainda anda por aí
A chutar pedras pelo caminho
Quando vai trabalhar
Naqueles tempos a sorte era
Uma medalha de ouro na mão
Sermos netos dos lavradores mais volúveis
Desta terra
Era benzer-nos com os cantos
Da filosofia oriental
& quando os pegos de água doce secavam
Acabávamos no mar
Frente à ilha deserta de madrugada
Acabávamos na cafetaria
Dos trabalhadores do mercado
Empastados pelo cheiro a maresia
Sempre na cafetaria
[insira memória nostálgica e conclusiva]
Bicho, risquei do almanaque
O quadradinho de amanhã
Fico à tua espera a folhear o jornal
Mariano Alejandro Ribeiro (Buenos Aires, Argentina, vive em Portugal, 1993)