Pedrinhas da rua,
Por todos pisadas,
Muito hão-de sofrer!
Parece-me, às vezes,
De tão magoadas,
Que as oiço gemer…
Que boa era a vida
Na serra distante
Entre os rosmaninhos!
Só viam de longe
Algum viandante
Passar nos caminhos.
Ouvindo cantar
Com voz sonhadora
Certa pastorinha,
Pensavam: será
A Nossa Senhora
Que está na ermidinha?
À chuva e ao sol
Viviam contentes,
Tinham liberdade.
Mas tudo mudou:
Hoje são diferentes…
Ai! Quanta saudade!
Partidas em mil
Foram torturadas
Até que, por fim,
Cravadas no chão
Sofrem desprezadas,
Tormentos sem fim.
E os pés descalcitos
De alguma criança
Das mais pobrezinhas,
São o único afago
Na vida sem esperança
Das tristes pedrinhas.
…………………….
Pedrinhas da rua
Por todos pisadas
Muito hão-de sofrer!
Parece-me às vezes,
De tão magoadas,
Que as oiço gemer…
Maria Lamas (São Pedro, Torres Novas, Portugal, 6 de outubro de 1893 — Alcântara, Lisboa, Portugal, 6 de dezembro de 1983). Poema publicado sob o pseudônimo de Rosa Silvestre, no suplemento “Semana infantil” do jornal A voz, n.º 279 – Novembro 1927, p. 3