Lendas das mulheres de peito chato

Macunaíma, Maria,
Viajando por essas terras
Com os dois manos, encontrou
Uma cunhã tão formosa
Que era um pedaço de dia
Na noite do mato-virgem.
Macunaíma, Maria,
Gostou da moça bonita.
Porém ela era casada,
E jamais não procedia
Que nem as donas de agora,
Que vivem mais pelas ruas
Do que na casa em que moram;
Vivia só pro marido
E os filhos do seu amor,
Fiava, tecia o fio,
Pescava, e março chegado
Mexendo o corpo gostoso,
Ela fazia a colheita
Do milho da beira-rio.
Que bonita que ela é!… Bom.
Macunaíma, Maria,
Não pôde seguir, ficou.
Que havia de fazer!
Amar não é desrespeito,
Falou pra ela e ela se riu.
Então lhe subiu o peito
A escureza da paixão,
E o apaixonado cegou.
Pegou nela mas a moça
Possuía essa grande força
Que é a força de querer bem:
Forcejava que mais forceja,
Até deu nele! Não doeu.
Macunaíma, Maria,
Largou da moça.
Oh, meu Deus!
Como estava contrariado!
Pois um moço que ama então
Não tem direito de amar!
Tem, Maria, tem direito!
Te juro que tem direito!
Macunaíma fez bem!
O amor dele era tão nobre
Ver o do outro que casou.
Casar ; e uma circunstância
Que se dá, que não se dá
Porém amar é a constância,
Porta num, se abanca, e o pobre
Tem que lha matar a fome,
Dar cama pra ele dormir.
Macunaíma, Maria,
Era como eu brasileiro,
E em todas as moradias
Que se erguem no chão quentinho
Do nosso imenso Brasil,
Não tem uma que não tenha
Um quarto-de-hóspede pronto!
Pobre do Macunaíma,
Não tem culpa de penar!
Foi brasileiro, amor veio,
Ele teve que hospedar!
– Eu te amo, (que ele falava)
Moça linda! Você tem
Esse risco de urucum
Na beira do olhar somente
Pra não ver quem te quer bem!
Olhos de jaboticaba!
Colinho de cujubim!…
Te adoro como se adora
Com doçura e com paixão!
Maria… vamos embora!
(Que ele falava pra moça)
eu quero você pra mim!

Bom. O coitado, Maria,
De tanta contrariedade,
Pôs reparo que é impossível
Se ser feliz neste mundo,.
Em plena infelicidade…
Se vingou. Tinha ali perto
Dois cachos de bananeira.
Cortou deles… você sabe,
Os mangarás pendurados,
Que de tão arroxeados
Têm mesmo a cor da paixão.
Lá no Norte chamam isso
De “filhotes de banana”,
E a bananeira dá fruta
Uma vez, não dá mais não…
Macunaíma, Maria,
Pegou a moça arrancou
Os peitinhos emproados
Do colo de cujubim,
Pendurou no lugar deles
os filhotes da paixão.
Por isso essa moça dura,
De quem nós todos nascemos,
Tem o colo que nem de homem,
De achatado que ficou.
E hoje as donas são assim…

Adianta a lenda que a moça
Ficou feia… Não sei não…

Mário de Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945)

Centro de Artesanato Mineiro

Neste momento de isolamento social, o Centro de Artesanato Mineiro precisa de sua ajuda para manter o pagamento de seus funcionários e dos custos operacionais da sua loja, no Palácio das Artes, que permanece fechada em acordo ao decreto municipal nº 17.304, de 18 de março de 2020, que suspendeu os alvarás de localização e funcionamento de estabelecimentos comerciais com potencial de aglomeração de pessoas no Município de Belo Horizonte.

Estamos vendendo três peças dos mestres da arte popular mineira, GTO e Mário Teles, que participaram da história do Centro de Artesanato Mineiro, e que permitirão a manutenção dos compromissos sociais e financeiros durante este momento de fechamento da sua loja.

A corrente de GTO (Geraldo Teles Oliveira), da década de 1970, foi esculpida em cedro rosa e tem 1,75 m de comprimento, uma das maiores produzidas pelo mestre.

A corrente de Mário Teles, datada de 1985, foi esculpida em cedro rosa, com 65 cm de comprimento, mas de elos fechados, o que a torna ainda mais especial.

A mandala tríplice com duas faces de Mário Teles, datada de 1989, foi esculpida em cedro rosa, na medida 1,75 X 0,55 m, uma das últimas produzidas em grande formato pelo mestre.
Todas estas peças históricas pertencem ao Centro de Artesanato Mineiro e serão acompanhadas de certificado de autenticidade fornecidos pelo mestre Mário Teles.

A sua ajuda manterá a loja do artesanato tradicional e da arte popular de Minas Gerais, com mais de 50 anos de atividade e parceria com os artesãos, com suas responsabilidades e com os seus objetivos de desenvolvimento cultural, econômico e social em manutenção até a sua abertura.

Antecipadamente agradecemos o seu apoio ao Centro de Artesanato Mineiro.

#artepopular #artepopularbrasileira #gto #marioteles #centrodeartesanatomineiro

Hoje, 13/05, se estivesse vivo, Edmundo de Oliveira Matosinho estaria completando 99 anos

* Dois Córregos/ SP, 13 de maio de 1921 – + São Paulo/ SP, 6 de agosto de 1999

Filiação: Hildebrando de Oliveira Matosinho e Euthymia de Oliveira Matosinho

Profissão: Prático de Farmácia

Sua vida profissional sempre esteve ligada à prática farmacêutica, à assistência social e à busca da saúde da coletividade ourinhense. Começou a trabalhar ainda jovem e seu primeiro registro em carteira deu-se em 1939, quando ele atingiu a idade de 18 anos. Trabalhou desta data até 30 de abril de 1945 na farmácia Drogasil, em Ourinhos. Essa farmácia funcionava na rua Antônio Prado, nº. 54 e lá trabalhou cerca de seis anos. Em 1945 abriu farmácia própria na Vila Odilon. Este estabelecimento recebeu o nome de Farmácia Santo Antônio e desde a sua fundação esta farmácia passou a atender aos moradores dessa vila e arredores carentes, até então, deste serviço. Ela foi administrada por Edmundo até agosto de 1972, ou seja, durante cerca de 27 anos, sendo que depois teve outros proprietários que mantiveram o mesmo nome original. Ela ficou aberta até o final de 1999, totalizando quase 55 anos de serviços prestados à população da Vila Odilon e adjacências. Após a venda de sua farmácia ele trabalhou durante um breve período na fábrica de colchões Castor, de propriedade de Hélio Silva, e como prático de farmácia na Drogaria São Miguel, localizada no centro de Ourinhos, na Rua 9 de Julho. Em novembro de 1973 ingressou na Usina São Luiz onde exerceu o cargo de assistente social e de farmacêutico do ambulatório médico da usina onde ficou até a seu desligamento em agosto em 1990 aos 70 anos. Mesmo aposentado ele continuou trabalhando, ficando nos quadros desta usina durante cerca de 17 anos.

Fotos: Ele aos 18 anos e na época do casamento

Felipe Góes: Pinturas (Acrílica e guache sobre tela)

Felipe Góes (1983) vive e trabalha em São Paulo.
Formado em arquitetura, estudou história da arte com Rodrigo Naves, pintura com Paulo Pasta, e filosofia com Rubens Espirito Santo.

Realizou exposições individuais na Galeria Kogan Amaro (São Paulo, 2019), Galeria Murilo Castro (Belo Horizonte, 2018), Instituto Moreira Salles (Poços de Caldas, 2017), Galeria Virgílio (São Paulo, 2016 e 2018), Central Galeria de Arte (São Paulo, 2014), Phoenix Institute of Contemporary Art (Arizona, EUA, 2014) e Usina do Gasômetro (Porto Alegre, 2012).

Participou das exposições coletivas “Mapping Spaces”(Kentler International Drawing Space, New York, EUA, 2016), “2ª Bienal Internacional de Asunción”(Assunção, Paraguai, 2017), “Coletivo Terça ou Quarta + Acervo Municipal” (Araraquara, 2014 – patrocínio: PROAC-ICMS), “Arte Praia 2013” (Natal, 2013 – patrocínio: Funarte) e “20 e poucos anos – portfólio” (Galeria Baró, São Paulo, 2011). Participou de residências artísticas no Phoenix Institute of Contemporary Art (Arizona, EUA, 2014) e Instituto Sacatar (Itaparica, BA, 2012).

Contatos:
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O que penso sobre as políticas públicas de geração de emprego e renda no Brasil

Em agosto de 2006, quando estudava sociologia tentei agregar meus conhecimentos de economia com minha formação em ciências sociais e fiz um projeto de mestrado. Ele não foi aceito na Academia, mais tenho certeza que o tema está tão atual como nunca. Basta ver o que se passa em Brasília com a tentativa do governo de flexibilizar os direitos trabalhistas e o conflito que esse ato político está gerando. Quase dez anos depois desse projeto mostro aos leitores do “Vivendocidade” o que eu pensava sobre esse assunto na época. Esse tema está na ordem do dia e até me lembro dos ensinamentos de Keynes que vi nos cursos de Macroeconomia e de teoria do valor. O Brasil se democratizou mais o pensamento clássico continua tão vivo como nunca. Ora pela direita, ora pela esquerda, se isso ainda tem algum sentido. Vejamos…

Minha pesquisa visava analisar as políticas públicas relacionadas ao mercado de trabalho no Brasil e que tinha como intuito o combate ao desemprego, a proteção dos trabalhadores desempregados e a aplicação dos instrumentos para a promoção, a proteção do emprego e a geração de renda. O objetivo principal daquele estudo era analisar o mercado de trabalho no Brasil, estudar o processo de reestruturação produtiva vivida em nossa economia e fazer uma análise detalhada da desigualdade no país e dos problemas sociais por ela gerados.

A pesquisa pretendia estudar as referidas políticas públicas para a geração de emprego e renda no sentido de aprofundar o conhecimento sobre os seus resultados objetivos alcançados até o ano de 2000 na proteção ao desempregado. Iriam ser analisados os programas que integram o Sistema Público de Emprego, como o seguro-desemprego, o programa de intermediação de mão-de-obra, o programa de qualificação profissional e, mais especificamente, o Plano Nacional de Formação Profissional (Planfor), o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger) e a gestão e o funcionamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Como referencial teórico adotou-se a linha de pesquisa que engloba os temas do trabalho e do emprego e tem como objeto as relações sociais e as formas de organização do trabalho. Seria usada a teoria sociológica elaborada por Karl Marx no estudo das situações de trabalho e da problemática do emprego (e do desemprego).

Na época podia se ver pela nossa história que na conjuntura recessiva que marcou o início dos anos de 1980, embora o tema do desemprego (foco de nossa investigação) tivesse adquirido uma grande visibilidade social, a forma de intervenção de agências estatais, ou os mecanismos do sistema público, eram menos desenvolvidos e atuantes do que o foram nos anos de 1990.

No entanto, salta aos olhos que a importante questão social do desemprego se colocava de maneira particularmente crítica em nosso país e sobre esse tema que resolvi me debruçar. Hoje ele está mais atual do que nunca.

Meu interesse maior era refletir sociologicamente sobre a situação social do desemprego e as suas implicações institucionais e públicas, pois esse tema se constitui num interessante fenômeno para interrogar e compreender sociologicamente as mudanças do mundo do trabalho e, em decorrência, da sociedade brasileira. Observa-se que tanto a noção de desemprego quanto o modo pela qual o desemprego é figurado como uma questão social são reveladores da compreensão que nossa sociedade tem do trabalho, do emprego e do lugar que se atribui a estas importantes dimensões sociais.

Justamente a preocupação era que o desenvolvimento das políticas públicas de geração de emprego e renda desenvolvidas pelo Estado brasileiro, tentando medir quantitativamente através das estatísticas oficiais e explicar qualitativamente em que medida foram enfrentadas institucionalmente as questões claramente sociais do desemprego e da baixa renda.

O interesse por esse assunto remonta à minha experiência como sociólogo e economista atuando no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) por quase quatorze anos, onde o tema do emprego (e do desemprego) e das políticas públicas para estimulá-lo, no caso do emprego (e enfrentá-lo, no caso do desemprego) estiveram sempre presentes. Esse ano esse departamento fará em dezembro 60 anos.

Vê-se que, historicamente, a questão do desemprego procurou ser melhor entendida e foi inserida na agenda social por volta da década de 1980, em meio a um grande esforço de fazer cumprir as promessas de modernização e de democratização da sociedade brasileira, onde era importante reconhecer a responsabilidade que essa mesma sociedade teria sobre o destino dos trabalhadores.

O tema do projeto que pretendi desenvolver seguia a linha de pesquisa da área da sociologia do trabalho e essa pesquisa procuraria dar um enfoque multidisciplinar ao tema proposto. A sociologia pode ser entendida como uma área do conhecimento humano que possui uma grande abrangência, possibilitando uma visão de conjunto dos vários acontecimentos da vida social, sejam eles relativos à economia, à política, à esfera simbólica e cultural.

Partindo de um tema social que é a questão do emprego, estudaria as políticas públicas adotadas no Brasil para gerá-lo tendo a preocupação de entendê-las em algumas de suas esferas como a social, a política, a econômica e a estatística. A esfera social aparece quando estudamos os problemas das desigualdades sociais gerados pelo desemprego.

Ambicionava trabalhar a temática sociológica do trabalho e sociedade, sendo que um dos objetivos da pesquisa era analisar as mudanças no trabalho no mundo contemporâneo e seus desdobramentos quanto à gestão do tempo social, as propostas institucionais de geração de emprego e renda e aos movimentos sociais. Esse projeto não foi aceito. Hoje vemos que nada mudou, pelo contrário, se agravou.

O período estudado pode ser justificado pelo fato de que os problemas do mercado de trabalho se agravam desde a década de 1980, mas é somente a partir da década subseqüente que o governo brasileiro começou a adotar alguns tipos de políticas sociais com o claro caráter reativo, voltadas basicamente para a correção pontual das distorções de ordem trabalhistas.

As políticas públicas de emprego que visam a formação e a qualificação profissional e que prestem serviços de intermediação e recolocação de mão-de-obra passaram desde os anos de 1990 a assumir maior importância no país. Observamos que também se ampliou a cobertura do seguro contra o desemprego, porém em ritmo e escala bem menores do que o que se poderia esperar.

Entre as políticas públicas de geração de emprego e renda destacam-se no Brasil o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger), instituído em 1994; o Plano Nacional de Educação Profissional (Planfor), instituído em 1996; e o Programa de Seguro-Desemprego, instituído em 1986, confirmado pela Constituição de 1988 e estruturado em sua forma definitiva em janeiro de 1990.

O Proger e o Planfor tratam-se de dois programas, gestados e geridos no âmbito do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o maior fundo público que mobiliza recursos para o planejamento de ações no âmbito do trabalho. O Proger é uma linha de crédito subsidiado, voltada para as micro e pequenas empresas, cujos propósitos são a ampliação de seus recursos tecnológicos, a capacitação técnica de seus proprietários e trabalhadores e a melhoria de suas condições de inserção nos mercados em que atuam. Nesse programa tem-se que a contrapartida pelas taxas subsidiadas de juros está exatamente no compromisso de geração de empregos formais.

No Brasil foram tentadas no passado algumas experiências locais de programas de geração de emprego e renda. No entanto, essas experiências se caracterizaram por serem ações inteiramente desarticuladas. De acordo com Beatriz Azevedo na obra denominada “Políticas públicas de emprego: a experiência brasileira”, escrito e, 1998, somente a partir de 1994 é que foram criadas condições jurídico-institucionais para que o governo federal pudesse tomar a iniciativa de propor e coordenar programas nacionais visando redefinir a amplitude e o conteúdo das políticas públicas de emprego.

O mercado de trabalho brasileiro é caracterizado pelo elevado grau de informalidade, pelas relações precárias de trabalho, pelo desemprego de longa duração, pelas deficiências crônicas no sistema formal de educação, pelos baixos níveis salariais e pelas limitadas políticas sociais. Sendo assim, o problema de nossa pesquisa será investigar esse mercado de trabalho e estudar quais seriam as principais políticas públicas que vem sendo desenvolvidas pelo estado brasileiro para minimizar os problemas sociais oriundos desse quadro adverso.

Desde àquela época o Sistema Público de Emprego no Brasil estava estruturado para atender a cinco programas de atendimento aos trabalhadores: o seguro-desemprego; o programa de intermediação da mão-de-obra; o programa de formação, treinamento e qualificação profissional; o programa de créditos para a geração de emprego e renda; e o programa de apoio à produção de um banco de dados sobre o mercado de trabalho.

Levaria em conta que a formulação de políticas de emprego não deveria desconsiderar alguns aspectos fundamentais do mercado de trabalho brasileiro, com destaque para a sua grande heterogeneidade, o elevado e persistente desemprego, o aumento recente da precariedade das relações de trabalho assalariadas e a enorme desigualdade de rendimentos e de salários, além dos baixos níveis de educação da força de trabalho. Esses fatores somados, além de dificultarem o mapeamento e a formulação de políticas públicas de emprego, exigem também que estas políticas não estejam diretamente atreladas a ele mesmo e que sejam ativas em relação aos rearranjos das políticas macroeconômicas.

Assim sendo, uma de minhas hipóteses é que em países como o Brasil nem deveria existir opção estratégica entre políticas passivas ou ativas. Definem-se políticas passivas como sendo aquelas que consideram o nível de emprego como um dado, tendo por objetivo apoiar financeiramente o trabalhador desempregado.

Como já foi dito anteriormente, essa pesquisa se insere dentro da teoria sociológica no tradicional núcleo teórico já trabalhado por importantes autores clássicos como Durkheim e Spencer, em uma linha denominada funcionalista, e por Marx, que segue uma abordagem conhecida como teoria crítica ou dialética. Seguiria na elaboração dessa pesquisa a linha de abordagem elaborada por Marx e atualizada por seus seguidores.

Resumidamente, as técnicas de investigação seriam a consulta à bibliografia existente sobre o tema, a pesquisa junto aos bancos de dados sobre mercado de trabalho e as entrevistas com os agentes sociais ligados ao assunto abordado. Averigüei que o material a ser pesquisado encontrava-se em bibliotecas e na Internet. Outras fontes seriam os órgãos do governo e institutos de pesquisa, além de entrevistas e conversas com autoridades, informantes e especialistas. Serão consultados também CD-ROM’s, anuários, jornais, revistas, entre outros.

O tratamento dos dados seria feita na forma de tabulações das entrevistas coletadas e na confecção de tabelas sintéticas, separadas por temas de acordo com os dados estatísticos coletados junto às fontes de dados descritas acima.

Clássico é clássico seja de esquerda, como essa visão, ou de direita, como Keynes, que na época não abordei. Mais como ele próprio disse um dia “no longo prazo estaremos todos mortos”. E viva a democracia tupiniquim!

Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (08/04/2015)

O Dia Internacional da Mulher visto por um homem simples e por uma mulher de garra

Nessas faltas de água de março peço a ajuda de Fátima Pacheco Jordão, socióloga e pesquisadora da FPJ (Fato, Pesquisa e Jornalismo), para contar um pouco da história desse dia tão falado. Vamos aos fatos:

A origem histórica do dia 8 de março se deu há 158 anos atrás quando, em 1857, 130 operárias americanas morreram queimadas após serem impedidas de sair de uma fábrica têxtil em Nova Iorque. A atitude dos patrões era uma represália ao movimento grevista das costureiras, que pleiteavam redução da jornada diária de trabalho. Naquela época, as mulheres não tinham voz – nem socialmente, nem politicamente. Eram discriminadas no trabalho, não tinham direito a voto e nem podiam participar dos espaços de representação política.

Dando seqüência aos fatos, em 1910 foi decidido em uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca comemorar esse dia como o “Dia Internacional da Mulher” em homenagem àquelas mulheres americanas mortas. Naquela ocasião as mulheres reivindicavam, além do direito de voto e de participação pública, o direito de trabalhar, de treinamento vocacional e do fim da discriminação no trabalho.

Desde 1975, em sinal de apreço pela luta das mulheres, as Nações Unidas decidiram consagrar também o dia 8 de março como o “Dia Internacional da Mulher”. Seria importante lembrar que aquela data histórica teve um grande impacto na legislação trabalhista americana e mundial e as péssimas condições de trabalho das mulheres sempre foram invocadas em todas as comemorações do “Dia Internacional da Mulher”. E essa luta continua até os dias de hoje.

No Brasil temos como marco das conquistas das mulheres a data de 24 de fevereiro de 1932, quando foi instituído o voto feminino. Desta forma, as mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no Executivo e Legislativo.

Na política brasileira o espaço ocupado pelas mulheres tem crescido bastante, mais ainda temos muitos desafios pela frente. Um dos principais é trazer para o mundo político a competência e a sensibilidade do trabalho feminino. Espero, cada vez mais, que consigamos superar as dificuldades conseqüentes do próprio gênero que, muitas vezes, ao impor obrigações maternas, reduzem o espaço de participação das mulheres na vida política.

As mulheres que colaboraram nessa conquista foram, entre tantas outras, Alice Tibiriça, uma mineira de Ouro Preto, que sugeriu ao presidente Getútio Vargas, em 1932 a criação do Dia das Mães e também trouxe as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher ao Brasil em 1947. Outras foram Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga, a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, e Pagu, do Modernismo de 1922.

Temos muito que avançar e estabelecer igualdade de participação nos partidos e ampliar ainda mais a presença delas no Parlamento e na vida pública. Segundo o ranking do IPU na posição das mulheres brasileiras nos países da América Latina está em 18º lugar, atrás de países como Cuba, Chile, Paraguai, Colômbia e Uruguai. Torcemos para que a cultura de participação política brasileira das mulheres se consolide dia após dia, para que as lideranças femininas tornem-se, efetivamente, quadros políticos de relevância.

Espero que tenham gostado, homens e mulheres, leitores desse site, e que voltem sempre a nos prestigiar com sua visita.

Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (06/03/2015)

Batalha do Jenipapo: importante luta pela independência do Brasil, no Piauí

Dia 13 de dezembro do ano que terminou viajei por vinte dias pelo Piauí e visitei o monumento dos heróis da Batalha do Jenipapo ocorrida em 13 de março de 1823. Confesso que me impressionei muito com a história viva que vi de parte desse nosso enorme Brasil e com o desconhecimento geral aqui no sul maravilha sobre esse importante acontecimento. Convido os leitores do “Vivendocidade” para mergulharem nessa história que escrevi em parceria com o professor de história piauiense Paulo Silva de Sousa.

Campo Maior, onde a batalha aconteceu próxima ao Riacho Jenipapo, fica a 84 km da capital do Piauí (Teresina) e caracteriza-se pela presença marcante da palmeira Carnaúba (“Copernicia prunifera”), que lhe rendeu o apelido de “Terra dos Carnaubais”. Sua principal atração turística é o Açude Grande, hoje infelizmente bem poluído e maltratado.

Essa luta foi a mais violenta e única batalha sangrenta pela Independência do Brasil e pela consolidação do território nacional, e foi vencida pelos portugueses.

Seus principais líderes foram Leonardo Castelo Branco, José Pereira Filgueiras, Luis Rodrigues Chaves, Alexandre Nereu, João da Costa Alecrim e Tristão Gonçalves Alencar, cujos corpos estão enterrados no cemitério localizado atrás do monumento, em túmulos rústicos de pedra e cruz de madeira. As estatísticas mostram que houve entre brasileiros e portugueses um total de 200 mortos ou feridos e 542 prisioneiros.

Além da população do Piauí, maranhenses e cearenses participaram do levante popular contra as tropas lideradas pelo major João José da Cunha Fidié (veterano das guerras napoleônicas), que desejavam manter a região sob domínio português e sufocar os movimentos de independência. O embate pode ser visto como um dos momentos chave da adesão da província piauiense ao processo emancipatório brasileiro.

Os brasileiros lutaram com instrumentos simples, não com armas de guerra e não tinham experiência de guerra. Perderam a batalha, mas fizeram com que a tropa desviasse o seu destino.

A data não consta nos livros de História e poucos sabem do ocorrido, mesmo no Piauí, onde ocorreu a batalha. Contudo, após alguns movimentos por parte de políticos, de historiadores e da população, a data foi acrescida à bandeira do Piauí e está em curso a implantação do estudo da Batalha do Jenipapo na disciplina de História.

A história foi mais ou menos assim: Após a declaração da independência do Piauí feita a 19 de outubro de 1822, em Parnaíba, o comandante português reúne suas tropas e parte de Oeiras em direção à Parnaíba, a 13 de novembro, para combater os emancipacionistas brasileiros.

Fidié chega a Campo Maior e, no dia 13 de março de 1823, pela manhã, tem início a batalha entre suas tropas bem armadas e experientes e brasileiros sem treinamento militar, utilizando paus, pedras e outros materiais de pouco poder ofensivo. Devido a superioridade bélica, o que se viu à beira do Jenipapo foi um massacre.

Mesmo com a derrota do movimento popular, a Batalha do Jenipapo tornou-se decisiva para afastar o major Fidié do Piauí e consolidar a independência e a unidade territorial do Brasil. Enfraquecidas, as tropas fiéis à coroa seguiram para Caxias, no Maranhão, onde foram derrotadas por piauienses, maranhenses e cearenses, a 31 de julho de 1831.

Essa Batalha é um capítulo fundamental no processo de consolidação do território brasileiro e o 13 de março passou a ser estampada na bandeira do Piauí, a partir de 2005, após aprovação da Assembléia Legislativa daquele estado. Lá é feriado estadual.


Legenda das fotos:

1) Arte pictórica de Francisco Paz retratando o conflito;

2) Afresco patrocinado pela Prefeitura de Campo Maior;

3) Cemitério dos heróis da batalha localizada na parte de trás do Monumento da Batalha do Jenipapo.

Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (28/01/2015)