Beno Filho: Cavalier Lilica, Pontilhado e Desenho em pastel

Antonio Beno Bassetti Filho começou a pintar em 1973, época em que pintou dezenas de quadros à óleo, sempre gostou muito de pintar cavalos. Muitas dessas obras estão hoje em casa de amigos e familiares. Depois que se formou em direito acabou deixando a pintura de lado por conta da atividade profissional por alguns anos, mas sempre manteve contato com a sua arte. Em 2008 retomou sua atividade artística, criando novas obras em pintura à óleo. Começou então a estudar e desenvolver novas técnicas de nanquim, pastel, e lápis. Em 2018 decidiu focar ainda mais em pontilhismo, luz e sombra (lápis), passou a usar o nome Beno Filho e tem se dedicado à esse estilo desde então. Hoje vende suas obras online por encomendas e vendas direta, e continua aprimorando sua técnica e criando novas obras com o tema de animais e pessoas.

Advogado / Artista Plástico / Espiritualista

Contatos:
www.instagram.com/benofilho
WhatsApp: (11) 9 4332-5619

Comigo me desavim

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.

Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

Sá de Miranda (Coimbra, Portugal, 28 de agosto de 1481 — Amares, Portugal, 15 de março de 1558), Cantiga

Poema enviado por WhatsApp pelo amigo Edney Cielici Dias, poeta e autor do livro “Cartas da alteridade”, que comentou: “Ah… Sá de Miranda…”.

Mulheres

Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido…
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos eu vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma,
É fraco! fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas…

És linda como uma história da carochinha…
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no
[morro atrás de casa e tinham cara de pau).

Manuel Bandeira (Recife, Pernambuco, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968), in “Libertinagem”

Sérgio Roberto de Paula: O Quebra-Santa

“Fez roleta-russa na via Dutra – atravessando a estrada com os olhos fechados – e depois foi quebrar a verdadeira imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, em 165 pedaços. Era a terrível noite de 16 de maio de 1978: o início do inferno na vida de Rogério Marcos de Oliveira. Eu conheci o cara em 1994. Ele me contou tudo.

Em 1978, fiquei sabendo do atentado à imagem da Padroeira do Brasil como todo brasileiro, pelo rádio e TV. Não imaginava que, anos depois, fosse conhecer o autor desse atentado. Primeiro como jornalista e depois como vizinho em São José dos Campos onde a partir dos anos 90 moramos muito próximos, separados por poucos quarteirões. Sempre tive interesse pela história protagonizada por Rogério Marcos e, por este motivo, conversei com ele por diversas vezes.
Nessa época Rogério Marcos estava totalmente livre das crises de esquizofrenia e apresentava uma de suas recuperações mais prolongadas, graças às inovações que vinham ocorrendo na área psiquiátrica da cidade de São José dos Campos. Depois de conhecer a versão dele sobre os fatos, assumi o compromisso de escrever o livro contando sua história.
Para colher as informações passei meses encontrando-me com ele. Tivemos longas conversas sobre sua vida e sobre os acontecimentos que envolveram a imagem da Padroeira. Ele estava muito bem de saúde, muito lúcido. Por decisão própria continuava recolhido e morando só. Cheguei a visitá-lo em sua casa e talvez tenha sido um dos únicos jornalistas com permissão para tal.
As narrativas que estão neste livro ocorreram ao longo desses encontros, inclusive em instituições psiquiátricas como no então hospital Francisca Júlia, em São José dos Campos, onde ele voltou a ser internado em nova crise.”

Sérgio Roberto de Paula, jornalista, in “O Quebra-Santa”

Imagem: A Folha de São Paulo divulgou em 30/06/1978 a versão de que Rogério já era conhecido como Quebra-Santa.

O Quebra Santa: História do atentado contra a imagem da Padroeira do Brasil em 1978
Por Sérgio Roberto de Paula (Autor)
Formato: eBook Kindle

“Fez roleta-russa na via Dutra – atravessando correndo a estrada com os olhos fechados- e depois foi quebrar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, em 165 pedaços. Era a terrível noite de 16 de maio de 1978: o início do inferno na vida de Rogério Marcos de Oliveira. Eu conheci o cara em 94. Ele me contou tudo.

Sérgio Roberto de Paula- velho jornalista

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Amazon: https://bit.ly/4evXYCe

A Bomba

A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores

A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido

A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles

A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna

A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem

A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio

A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece

A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está

A bomba
mente e sorri sem dente

A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados

A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada

A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar

A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação

A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés

A bomba
faz week-end na Semana Santa

A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia

A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos
interplanetários

A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose,
de verborréia

A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa

A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer

A bomba
continua a envenená-las no curso da vida

A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais

A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba

A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai

A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera

A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro,
cobalto e ferro além da comparsaria

A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.

A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave

A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos

A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar

A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe

A bomba
saboreia a morte com marshmallow

A bomba
arrota impostura e prosopéia política

A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living

A bomba
é podre

A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado

A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo

A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade

A bomba
tem um clube fechadíssimo

A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel

A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris

A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos
de paz

A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas

A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger
velhos e criancinhas

A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer

A bomba
é câncer

A bomba
vai à Lua, assovia e volta

A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação
em cadeia

A bomba
está abusando da glória de ser bomba

A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba
o instante inefável

A bomba
fede

A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina

A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve

A bomba
não destruirá a vida

O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987). In “Lição de coisas”. José Olympio, 2ª edição, 1965