Dentes ao sol

Passei a tarde – dentes ao sol – boquiaberto pensando na tua figura. Nos beijos dados e nos que ficaram por dar. Na tua magnitude, no balanço do teu corpo. Nos teus olhos ofuscando os meus, no brilho da pouca luz da fogueira.
Teu olhar vagava ao longe, neutro, enquanto admirava teu rosto penumbrado sob a lua cheia. Tua boca – sorriso aberto. Ainda posso sentir o sal poroso da tua gengiva.
Teu sentimento vagueia em pulsações ultracolores (entre fazer e não fazer o cabido).
Articula as palavras que vão acumulando-se no lenço que balança, com liberdades mil – de tua simpatia. Absorve vacâncias que se articulam em palavras que vão amalgamando ao xale tremulante (representante de tua liberdade conquistada) juntando movimento de corpo, gestos posições fixadas ao acaso estáticas que lhe dão enorme simpatia ao expressar-se.
Lábios que eu quero beijar de ângulos que não existem – de dentro para fora, transmitindo a minha inquietação em tê-la suave no passar dos dedos devagar para sentir a tua forma escultural.
Teu rosto é a maior expressão do cubismo picassiano para meu olhar de admirador deste grande mestre. Olhado sobre raios de luz refletidos mostra vários planos que se sedimentam de uma forma bem simples e de pictoria equilibrada, chamando o olhar de lado, vejo pedaços de todo teu rosto dando amplidão a tua existência. Você não é uma figura.
Roubo-lhe beijos ao olhar para teus lábios, pois sei que são dádivas dos deuses, ares, cores… que te habitam. Que são extremamente circunspectos por uma camada de mel e de um álcool de pêra que faz me degustar demoradamente tua boca.
Dou uma forte tragada no aroma, aroma, de teus cabelos, curto um barato e solto uma baforada de calor nos teus ouvidos. Teu “sussurro” (resmungo) é fumaça que se perde lentamente subindo para o ar.
Janto um detalhe de teu pescoço que serve de pratos variados: espaguete de cabelos.
Danço contigo um tango um som imaginário que se concretiza no ato de fazê-lo.
E espero pela próxima música…

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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