Conhecido como “o artista das lamparinas” Lupércio tornou-se um expoente do artesanato mato-grossense. Nessa segunda-feira, 19 de agosto de 2019, ele se foi. Seu nome eterniza-se na arte regional pela criação de lamparinas coloridas e obras feitas a partir de latas reutilizadas. Ele morreu em Nobres (a 151 km de Cuiabá), com 81 anos. Vivendo na cidade conhecida pelo ecoturismo por mais de duas décadas, Lupércio foi um dos expoentes do artesanato regional.
Foi aos 65 anos, com problemas de locomoção que ele teve que abandonar o trabalho na roça e começou a fazer peças com latas reutilizadas. Em 2018, Lupércio foi homenageado na Feira Nacional do Artesanato (Fenearte), em Recife (PE) e recebeu o título de mestre artesão.
Nasceu na Bahia em 1938, mas foi criado no Paraná. Não sabia precisar quando, mas há mais de 20 anos mudou-se para o Mato Grosso. Ele morava num bairro distante, bastante povoado, mas parecia não ter muita noção de localização ou de distância pois disse que todos o conhecem. Antes trabalhava na roça. Autodidata, foi criando as suas peças na base do ensaio e erro.
“Fui notando devagarzinho, pegando o jeito, trabalhando e conseguindo fazer”.
Teve o incentivo de Ana Maria Braga (apresentadora de programa de TV) que fez um filme com ele, que teve repercussão em outros países, como Portugal e Alemanha. O problema é que, depois dessa divulgação, as vezes recebia pedidos de fora de 500, 700 peças e ele não conseguia fazer tal quantidade. Precisaria trabalhar com muitas pessoas para dar conta.
Atendia a pedidos vindos de várias partes do Brasil e de outros países. Vendia também para quem chegar na sua casa. Não aparentava respeitar muito a ordem dos pedidos. O funcionamento do sistema de encomendas parece bastante confuso. Aparentemente, as compras mais sistemáticas eram feitas através do SEBRAE.
Gostava de criar novas peças, com desenhos diferentes, rebuscados, coloridos e formam um conjunto atraente. A confecção de suas peças exigia várias etapas. Usava como instrumentos furadeira, rebitadeira (instrumento que corta), alicate, tesoura e martelo. A parte mais elaborada e interessante no que fazia eram os desenhos decorativos. Gostava de pintar, embora levasse bastante tempo. É uma espécie de “marca” registrada do seu trabalho, fácil de ser identificada. Sentia satisfação em criar novos desenhos. Conseguia viver da sua arte, teve uma vida modesta, mas pôde construir dois cômodos em sua casa, um para dormir e outro para trabalhar. Via seu trabalho como um “divertimento”. Enquanto trabalha concentrava-se em coisas interessantes e boas, e esquecia as coisas desagradáveis. Além de ser um meio de vida.
“A gente está divertindo, passando o tempo e ganhando uns cruzeirinhos.”
Fotos: José Medeiros (Site “O Livre”)