Eduardo Besen convida: Vivo I Ernesto Bonato

Programação:

Abertura da exposição, 29 de junho, das 13 às 17h

Performance com Ernesto Bonato e Shen Ribeiro (shakuhachi), 29 de junho, às 15h

Conversa com Neto Leão e Isabelle Cedotti co-editores da revista Conspiratio, sobre o texto do filósofo e educador Ivan Illich, Tools for conviviality, ilustrado pelo artista. 20 de julho, das 15 às 16h30

Performance com Ernesto Bonato e Chieko Donker Duyvis (violoncelo e voz), 3 de agosto, às 15h

De 29 de junho a 3 de agosto de 2024.

“Desde a idade de 6 anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos 50 havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos 60 não deve ser levado em conta. Aos 73 compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos. Em consequência, aos 80 terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrarei no mistério das coisas; aos 100, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento – e quando eu tiver 110 anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será Vivo.”

Katsushika Hokusai (1760 – 1849)

(Sombra – a dança do incenso – cinza)

Ocaso.

Sentou-se sobre a esteira de palha e mergulhou no silêncio

Nem tempo, nem espaço,
nem esteira de palha,
nem sentar-se, nem silêncio,
nem som algum

Vivo!

Noite.

Envolto no negrume poroso do céu, o incenso desprendia uma caligrafia rebuscada e branca,
uma dança e um canto.
Lê-la era esquecê-la

O ponto vermelho consumiu-se até esfriar na areia
as pálpebras apagaram-se antes

Manhã.

Na manhã seguinte, o solzinho de outono colibrizava em sua janela, despejando sombras no leito vazio e limpo

No jardim, flores miúdas atraiam os insetos
“Tudo tem a sua perfeição” – ouviu
“A vida começa na manhã das coisas” – escutou

Dies sicut umbra

Riscou de giz um ideograma feito com duas colunas de um portal e um sol no meio. sussurrou: “ma”

Sentiu como um conselho: “entrega, integra”

Estava nu
Estava vazio
Estava vivo

O sol o atravessava

Do pincel rijo e vibrante, um gozo mananciava sinais no papel de fibra clara

Era manhã

Ernesto Bonato. Junho de 2024

o que sabemos um do outro
.
amanhece. nas árvores o viajante descansa. cabelo curto. pele queimada. quando levantou viu a baía em silêncio. muitos pardais. o sol entre as nuvens. a água salgada. o sono nas pedras. ventava. continuou o caminho do calor. uma borboleta ou outra pousou no ombro. encontrou a casa de papel. roupas largas sendo arrastadas. pairava na mancha um jardim úmido. brilhante. o viajante levava nas mãos a cabeça decapitada. a coisa foi protegida por tiras de juta. dentro da casa havia um velho riscando a areia. o viajante foi em sua direção. o velho sem tirar os olhos da areia disse:

“… que sombra é essa”?

… uma vespa atrás da aranha – retrucou o viajante vendo o desenho próximo do mar.

“… então a sombra se move”.

… e na água é totalmente transparente – respondeu o viajante com uma flauta na mão.

“… senta” – disse o velho com a vara numa saliência talhada. “… trouxe o que pedi”? – olhando para o pano. o viajante levantou e desatou a juta. entregou um rio de cabelos escuros que logo desabrochou. o velho gargalhou: “hahahahahahahahaha” e disse “… flores de inverno”. então o viajante soprou na flauta o sonho do ancião – a cabeça de um dançarino do abismo que jamais cortou o cabelo.

“… esperei anos por este momento” – disse o velho com borboletas saindo da boca. o viajante pulou para trás reparando nas órbitas abertas. o ancião ergueu o morto. os pássaros circularam. “… continue tocando.” – disse a cabeça para espanto do viajante. o cabelo foi arrancado numa tacada. amarrado na vara. o pincel feriu o ar. o corpo mergulhou no caos. as ondas quebravam cinzentas. o sol sumiu. vieram todas as árvores do litoral. a faca pousou na casca do mexilhão e a asa do mundo caiu numa chispa preta. viva. noturna. “… a lua minguante”! – gritou o viajante. o olho laranja gorduroso. na casa de papel deitou um bode que se espalhou. feliz.

Ulysses Bôscolo

… dedicado a Ernesto Bonato. Inverno de 2024

Galeria Gravura Brasileira
Rua Ásia, 219, Cerqueira César, São Paulo, SP – CEP: 05413-030

Segunda a sexta: 14h00 às 18h00 I sábado 13 às 17h ou com hora marcada

Contatos:
contato@gravurabrasileira.com
Fone: (11) 3624-0301
WhatsApp: (11) 9 8258-9842
www.gravurabrasileira.com

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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