Sinto o apalavrar de suas letras
A aproximarem-se lentamente
Sorvendo cada sílaba como mostra
Do verbo que vaza absorvente
Vejo o eclodir da língua em sua boca
A alastrar o que em mim transcende
A carne que o fonema evoca
E a alma que segue cedente
Lambem-se lóbulos, unem-se dentes
Frases harmonizam-se em concento
Vertendo-se preguiçosas pela garganta
Até em meus ouvidos encontrar acento
Vogais escalam minhas pernas
E promovem um movimento desconexo
Seguem envolvendo minhas coxas
Molhando a pele e lambendo o nexo
Jorram as sentenças em meu corpo
Com signos brotando em pevides
Da rima para onde agora zarpo
Do poema que há muito se lapide
Cintia Alves (Pseudônimo: Amadeus) – Nascida em 1972, dramaturga, roteirista, diretora teatral e pesquisadora de acessibilidade estética. Gestora do Museu Vozes Diversas.
Comentário da autora: “O poema Língua me deu o Prêmio Barueri de literatura na categoria Poesia Adulto Residente 2022.”
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