Moça morena e ágil, o sol que nasce das frutas,
e que dilata os trigos, e que retorce as algas,
fez o teu corpo alegre, os luminosos olhos
e essa boca que tem o sorriso da água.
Um sol negro e ansioso enrola-se-te nos fios
da negra cabeleira, quando estende os braços.
Tu brincas com o sol como se fosse um esteiro
e ele deita-te nos olhos dois escuros remansos.
Moça morena e ágil, nada de ti me abeira.
Tudo de ti me afasta, como do meio dia.
Tu és a delirante juventude da abelha,
a embriaguez da onda, a força que há na espiga.
Porém meu coração sombrio te procura
e eu amo teu corpo alegre, tua voz solta e fina.
Borboleta morena, suave e definitiva,
como o trigal e o sol, como a papoila e a água.
Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973), in “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”, tradução de Fernando Assis Pacheco, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1977