Pascal Dombis -“Spin Machine” na Dan Galeria Contemporânea

São Paulo, Brasil
25/05/2024

Spin Machine
Pascal Dombis
24 de maio de 2024

O artista francês explora campos como linguagem, ruído, controle e irracionalidade por meio de ambientes visuais e obras de arte instáveis e dinâmicas.”

Dan Galeria – Gláucia, Peter, Flávio e Ulisses Cohn

Nosso tempo está indissociavelmente ligado à velocidade. Velocidade do ritmo do fluxo de informações e da multiplicação de imagens, intensificados desde a década passada pela tecnologia digital associada à inteligência artificial.

Ferramentas de conhecimento em sua origem, a internet e seus navegadores, seguidos pelas redes sociais, tornaram-se, nos dias de hoje, instrumentos de propaganda a serviço de uma economia e de um pensamento globalizados.

Essas mudanças abruptas não escaparam a Pascal Dombis, certamente um dos artistas plásticos franceses que mais soube captar, desde meados dosanos 1990, a importância das transformações pós-digitais.

Apresentado ao Brasil em 2008 na fachada do prédio do Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, e mais recentemente, em 2022, em uma exposição monográfica no MACS, em Sorocaba, o trabalho de Pascal Dombis oferece a oportunidade de se descobrir, agora na Dan Galeria Contemporânea, uma obra multiforme e crítica, que desestabiliza a noção universal de tempo utilizando os fluxos digitais como matéria-prima.

No começo dos anos 1990, quando concluía seus estudos em Boston, Dombis descobre as possibilidades abertas pelas ferramentas da informática para a criação artística. Após seu retorno à França, ela passa da prática da pintura à prática dos algoritmos. Integra o primeiro grupo de artistas fractalistas, dos quais acaba por se distanciar para focar seu desejo de experimentar algo que fosse além da temática dos fractais. Desde então, o artista passa a se utilizar de repetições abundantes para criar formas geométricas ou tipográficas por meio de afrescos murais digitais, obras em formato de lente ou instalações de vídeo. A partir de uma forma visual simples, Dombis desenvolve suas obras usando algoritmos para gerar uma proliferação extraordinária de imagens, dando origem a efeitos ao mesmo tempo complexos e inesperados.

A partir dos anos 2000, Dombis adota a técnica lenticular, que marcará suas composições, criando a ilusão de um movimento de fluxos ininterruptos de informações. Propício para a gestação acelerada de incidentes visuais, o recurso lenticular, por meio da luz, filtra as imagens e os textos compondo uma laminação inesperada, que proporciona à obra uma grande profundidade visual. Por meio desse artifício de realidade aumentada, ele leva o espectador a se deslocar diante da obra, de modo a fruir os diferentes pontos de vista possíveis, dando vez, nessa experiência sensorial, ao acaso e ao impreciso.

Embora o artista não assuma adotar à sua maneira o receituário da Op Art, encontramos aqui a mesma instabilidade visual, criada a partir de efeitos ópticos, presente no trabalho dos artistas do Groupe de Recherche d’Art Visuel [Grupo de Investigação em Arte Visual] (Paris 1960/1968), composto especialmente por Sobrino (aqui apresentado em 2022), Le Parc, Morellet, Yvaral e Garcia Rossi. Mas, enquanto o GRAV enfatiza a crítica social, Pascal Dombis questiona a própria natureza das imagens e a maneira de olhá-las considerando a proliferação descontrolada.

Dentre as obras de Pascal Dombis, as mais instigantes são, certamente, as da série Post Digital Mirror e Post Digital Surface, que encarnam o paradigma do reflexo graças a suas inúmeras incidências digitais. O chapeamento desmedido de imagens gera obras monocromáticas, criando uma ilusão real de reflexo, com cores elétricas saturadas. Esses espelhos pós-digitais revelam um efeito de moiré, sendo ativados somente a partir do deslocamento do espectador. Com essa série, Dombis aponta para o vazio da imagem que desaparece, em prol de um jogo de dependência entre a obra de arte e o espectador. A dimensão acidental das obras, com suas formas inesperadas e sua gama de cores descontrolada, torna-se possível a partir do princípio do flicker. Criada em 1959, a famosa Dream Machine de Brion Gysin, amigo do escritor William S. Burroughs, materializa essa experiência sensorial do flicker ao ampliar os limites da incidência óptica com o objetivo de desestabilizar o espectador em sua percepção do espaço-tempo. Spin Machine, apresentada no centro da mostra e que dá o nome a esta exposição, atende ao mesmo princípio da Dream Machine, provocando uma experiência hipnótica por meio do movimento giratório de caixotes que captam a luz e refletem as tramas lenticulares.

Fechando a exposição, a instalação interativa “The end of art is not the end” faz parte de uma série de peças que são as mais icônicas de toda a obra de Pascal Dombis. Composta por mais de 20.000 imagens retiradas de pesquisas no Google sobre “O fim da arte”, ela explora os múltiplos sentidos do fim da arte, mas também de todos os “fins de…” que caracterizam o nosso tempo: o fim do homem, o fim da civilização, o fim das ideologias, o fim da história e, é claro, o fim do mundo. A frase de Ad Reinhardt, o pintor de Radical Paintings, “The end of art is not the end” (1), mistura-se com um fluxo de imagens, criando uma narrativa contínua que adere à parede feito uma pele.

Ao aplicar uma lâmina lenticular, como um revelador da imagem, na superfície texturizada e pictural da grade de informações, o próprio espectador movimenta a obra, descobrindo, nela, o invisível indizível. Por intermédio desse lúdico arranjo fotográfico, o visitante se apropria, de maneira fragmentada, na medida de seu próprio corpo, de uma coleção inútil de dados destinados ao esquecimento.

Lançador de alertas, o artista urbano questiona as mudanças estruturais que acompanham evolução da sociedade. Nosso futuro, bem como a memória de nosso passado, depende dele. Começando, como processo criativo, por um postulado algorítmico simples ou uma consulta permanente em algum mecanismo de busca, o trabalho de Pascal Dombis constitui-se numa procura sem fim. O artista elabora uma obra atravessada pela noção do tempo – de todos os tempos. O tempo que se estende como uma curva infinita, o tempo que se acelera em sintonia com a máquina que calcula, o tempo elástico que desafia a física e se dilata para ocupar o espaço da quarta dimensão.

A exposição Spin machine é uma proposta de experiências de Pascal Dombis através das quais ele capta os sinais de uma falência futura perscrutando a proliferação desmedida de sequências transpostas para suas colagens digitais a fim de conferir, por meio de uma densidade estrutural abissal, um eco à sua própria destruição.

Franck James Marlot
(1) Extraído de Art-as-Art Dogma, Parte III, publicado em março de 1965, Art News, Nova York

Dan Galeria Contemporânea
Rua Amauri, 73
01448-000 São Paulo/ SP, Brasil
Tel: (11) 3063-0315
e-mail: info@dangaleria.com.br

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Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 59 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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