Meu trabalho como economista no Dieese

Graduado em economia pela USP em 1989, trabalhei quase quinze anos no cinqüentagenário Dieese, após uma rápida passagem por uma instituição financeira de renome. Hoje estou envolvido com administração de galeria de arte e dando aulas de informática. Naqueles tempos de economista, além de muito trabalho, tive anos de muita luta. Quero compartilhar com os internautas leitores do site “Vivendocidade” um pouco dessa minha experiência tratando de um tema bastante atual que é o da redução da jornada de trabalho. Boa leitura!

O Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) completou, em 22 de dezembro de 2005, meio século de existência. Ele é dirigido pelos sindicatos de trabalhadores brasileiros e vem desenvolvendo pesquisas e assessorias técnicas desde o seu início. Tem como seu diretor técnico o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, que coordena o trabalho de uma grande equipe técnica formada por economistas, sociólogos, estatísticos e engenheiros de produção, entre outros tantos profissionais. Durante 23 anos de sua existência o Diesse teve importante suporte técnico do economista e ex-deputado federal pelo PSDB Walter Barelli. O Dieese possui escritórios regionais em 16 estados brasileiros. Ao longo de sua história essa instituição desenvolveu intenso trabalho na área de negociação e assessoria sindical, banco de dados, educação e pesquisas.

Em alguns dos vários estudos que fiz naquela época apreendi que a luta pela redução da jornada de trabalho começa como uma luta pela sobrevivência. E este tema continua bastante atual. Não se tratava de gerar mais postos de trabalho, mas sim de impedir o massacre das longas horas de trabalho sob condições agressivas e desumanas, que freqüentemente implicavam mortes e mutilações de trabalhadores que desmaiavam de sono sobre as engrenagens das máquinas.

Permitir a realização das pessoas enquanto seres humanos, com a redução da jornada de trabalho, não era apenas um palavreado bonito, mas a busca pelo direito básico da vida.

As sucessivas revoltas operárias no século XIX e a organização dos trabalhadores em sindicatos e partidos começam a gerar regulamentações da jornada de trabalho e sua redução. Em 1847, os ingleses conquistaram a jornada de 10 horas e em 1848, os franceses. A luta dos americanos também foi repleta de violências, como o enforcamento dos 5 operários que em 1886 lutavam, em Chicago, pela jornada de 8 horas. O dia 1º de Maio, em todo mundo, menos nos EUA, é o dia dos trabalhadores, em memória desses mártires. No século XX, as grandes guerras implicaram compensações aos operários, no amadurecimento de políticas de “welfare state” e conquistas sindicais mais substantivas. Vale lembrar que a Convenção número 1 da OIT, lançada em 1919, normatiza a jornada de quarenta e oito horas semanais para os trabalhadores da indústria.

Após os anos 30 e a segunda guerra mundial, as reduções da jornada de trabalho não estavam apenas associadas à questão das condições de vida, mas também ao esforço de geração de empregos e da apropriação dos ganhos de produtividade. Durante o “New Deal”, o presidente americano F. D. Roosevelt reduziu a jornada para 40 horas semanais, como parte do esforço de reversão da crise dos anos 30. De um modo geral, o século XX foi marcado pelas reduções generalizadas das jornadas de trabalho, até os anos 1990.

Caíram tanto as jornadas em relação ao século XVIII, que alguns teóricos, como o sociólogo Domenico De Masi, começaram a projetar a sociedade do tempo livre.

Espero que tenham gostado dessas histórias meio econômicas e que voltem mais vezes a este site se inteirar das novidades.

Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (12/10/2012)

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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