Meu amor me dá um beijo

Meu amor me dá um beijo
Mexa com meu cotidiano
Balance meu coração regrado
Tire-me do sério e do plantão
Sacuda este terno de tergal
De funcionário mensalista

Meu bem me dá um abraço
Aperte meu esqueleto torto
Amasse uns documentos réis
Machuque os calos metódicos
Pise em minha maleta de ofício
Puída no transporte diuturno

Princesa me prende numa gaiola
Ou numa casinha de interior
Livre-me desta labuta absurda
De buscar a mera sobrevivência
Sem sal e sem carne: dê-me o sentido
De um naco do meu pão no seu corpo

Poema dedicado à Lulu, 10/Mai/2001.

Alex Cerveny: Fábulas de Esopo e Homem-árvore

Alex Cerveny por Suely Grisanti (trecho)

“O apuro técnico é um denominador comum na obra de Alex Cerveny. Ele não se prende a uma única técnica ou material: desenhos, esculturas, pinturas, bordados, colagens, cerâmicas, fotografias e gravuras, estão presentes em sua obra.

Como tema, utiliza-se de referências históricas, “algumas delas biográficas, como as figuras retorcidas e elásticas – lembranças de sua vivência de artista circense; outras literárias, e outras, ainda, dos meios de comunicação em massa, criando uma intrigada alegoria” (Bienal Naïfs, 2010).

Valoriza o processo de trabalho e o diálogo entre suas obras. Como resumiu o artista, “Eu me sinto mais um escritor que escreve imagens, me sinto mais um cronista que um artista. A tradição que me agrada na arte é essa de contar histórias, como retábulos, como os muros assírios que contam histórias de batalhas…”

Alexandro Júlio de Oliveira Cerveny nasceu em São Paulo em 1963. Seus pais, um arquiteto e uma professora especializada em ensino para cegos, foram os primeiros responsáveis por seu interesse pelas artes. O pai, apresentando e fornecendo a ele os vários materiais disponíveis para se expressar através do desenho e a mãe lhe ensinando que as pessoas poderiam ter diferentes formas de olhar e observar o mundo ao seu redor – as distintas formas de visão.

Iniciou seus estudos em uma escola de método experimental (Grupo Escolar e Ginásio Experimental Dr. Edmundo de Carvalho), na Lapa, que se destacava no meio pedagógico, graças à atuação de educadores e pesquisadores como Terezinha Fran, Diva F. Sgueglia, Ana Maria Popovic entre outros. A escola desde cedo lhe proporcionou uma abertura para novas ideias e para as artes.

Formação Artística

Nos anos 1970, conheceu Valdir Sarubbi, na ocasião seu professor de teatro no grupo Experimental. Como educador, Sarubbi incentivava seus alunos a desfrutarem da biblioteca e da discoteca que mantinha em seu ateliê, para desenvolverem o gosto pela literatura e música.

Com ele aprendeu que a arte – o desenho, a escultura, o teatro – deve expressar a percepção interior de cada um. Dizia ele que “o importante não é o engajamento do artista dentro da tendência ou movimentos específicos, mas uma visão aberta de quem olha a obra de arte para apreciá-la naquilo que ela apresenta de sensível, seja sobre que forma for” (Bittar, 2002). Essa ideia foi marcante para a formação de Alex Cerveny.”

Contatos:
www.facebook.com/alex.cerveny
www.instagram.com/alexcerveny
contato@alexcerveny.com
www.alexcerveny.com

Visões de hoje do outrora

Na tenra juventude interiorana
Colecionei de cigarros a moedas
O jabuti que tive eu pintei o casco
No rio aperfeiçoei meu nado
Aprendido na piscina azul do clube

Diacuí e que guarda a memória de 32

Dessa Ourinhos dos anos 70
Guardo pouca coisa: um desenho
Um guache que resiste trazendo a cor
Desse passado que marcou
Esse Eduardo de verde escuro

De marrom de terra, mato, coqueiro

Passei de ano a ano em busca da escola
Da vida em que me procuro ainda hoje
Saltei da Rua São Paulo para a cidade
Homônima e para a origem não volto mais
A não ser nos sonhos que se repetem

E que trazem visões de minha outra casa

E que não me deixam esquecer os tempos
Em que colecionei, pintei e nadei
E que andei de bicicleta e saltei na areia
Da obra do pontilhão que perfurou
A minha rua rumo ao desconhecido

Obs.: Poesia publicada em 2008 no blog “Memórias Ourinhenses”

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Marina Rheingantz: Todo mar tem um rio

Marina Rheingantz (Araraquara, 1983) vive e trabalha em São Paulo. Ela também está atualmente em cartaz até 15 de junho na Carpintaria, Rio de Janeiro, com a exposição “Rebote”, que promove o diálogo entre suas pinturas e as fotografias de Mauro Restiffe. Outras individuais recentes incluem: “Várzea”, Bortolami Gallery (Nova York, 2018); “Galope”, Zeno X Gallery (Antuérpia, 2017); “Terra Líquida”, Galeria Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); “Dot Line Line Dot”, Nichido Contemporary Art (Tóquio, 2016). Entre as mostras coletivas, destacam-se: “On Landscapes” – Biennial of Painting, Museum Dhondt-Dhaenens (Deurle, Bélgica, 2018); “Mínimo, múltiplo, comum”, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2018); “Projeto Piauí”, Pivô (São Paulo, 2016); “Soft Power”, Kunsthal KAdE (Amersfoort, Holanda, 2016); “Prêmio PIPA”, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2015). Seu trabalho está presente em importantes coleções como: Museu Serralves (Porto), Taguchi Art Collection (Tóquio), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio (Rio de Janeiro), Itaú Cultural (São Paulo), entre outras.

“Todo mar tem um rio”, a mais nova exposição de Marina Rheingantz no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel, reúne quatro pinturas de grande formato, reintroduzindo o trabalho da artista sob uma escala monumental. Cada uma das telas possui 3 metros de altura, com larguras que variam entre 3 e 5,5 metros, e juntas formam uma faixa quase contínua que preenche o amplo espaço na Barra Funda.

Serviço:
Todo mar tem um rio
1 Jun – 20 Jul 2019
Abertura
1 Jun, 15h–18h
Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel – Galpão
Rua James Holland, 71 – Barra Funda
São Paulo – SP

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Contato:
www.instagram.com/mrheingantz

Imagem perdida de mulher

Cadê meu amor? Amarelo.
Distrito de número par
De meu coração
Regrado, desregrado.
Um amor, de repente! Uno
Como um cálculo, de conta,
De pedra, empedrado no peito.
Azulejado, lapidado, riscado
Ou desenhado de sangue.
Cadê? Bateu asas, voou.
Foi-se. E o que ficou?
Sua cor colorida, seu cheiro.
Gosto seu, como almíscar.
Movimento, jeito de corpo.
Gesto de mulher com a flor.
Cor, cheiro, magnólia.
Carmim, sua boca; ondulado,
Seu cabelo: longo, cobrindo
Em suas costas o arquipélago
De sardas marrons e pretas.
Seus seios redondos como pêras,
Seu ventre maduro como fruta.
Tudo isso eu vi, mas cadê?
Foi-se como a brisa da manhã.
Perdeu-se como um barco no mar.
Ou como no dizer do navegante:
_ Me deixou a ver navios.
Todo mundo dorme, mas só eu
Sonho com você, na tardinha
Do sítio, onde repouso do trabalho
Que foi te construir nesses versos.

Nova exposição de Gejo, O Maldito no espaço do Memorial da Cultura – MS

Com obras em tinta e spray o artista Gejo, o Maldito apresenta a Mostra “Extinção” no Núcleo de Artes Visuais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) – Espaço Jorapimo – , no saguão do Memorial da Cultura e Cidadania.

Nascido na Bahia, ele ingressou no graffite, hip hop e stencil no meio dos anos 90 e popularizou o graffiti e o hip hop nas escolas públicas. Massificou o termo arte/ educação, participou das ONG’s mais relevantes de São Paulo; expôs em escolas, bibliotecas, museus, galerias e exposições nos Estados Unidos, Alemanha, Israel, Canadá, Bélgica, Cingapura e Itália. É criador da marca de “Hip Hop 9370”, editor da revista Arte na Ruas e criador do evento “Free Art Fest”. Atualmente é proprietário do ponto cultural Elo Perdido e da Free Art Agency, que é uma empresa de artistas brasileiros que realiza oficinas, palestras, presta assessoria para assuntos de Street Art, produz ações artístico-culturais para galerias, espaços culturais, ONGs, Estados e empresas. Suas obras refletem as relações humanas nas áreas das questões ambientais, sociais, educacionais, políticas com tons de humor e muitas vezes de críticas com denúncias sociais.

A mostra “Extinção” é uma ação estética de arte educação, direcionada ao público mais jovem e a espaços educacionais, sejam eles escolas públicas, privadas ou núcleos alternativos. Por meio da técnica do grafitti, o artista procura sensibilizar os jovens aos cuidados de preservação das espécies na fauna, flora e até o momento da cadeia alimentar importante aos animais, não só aos já ameaçados. Existe um nível de perigo para cada animal e a maioria dos retratados na exposição estão já em fase final de extinção.

Serviço:
Espaço Jorapimo
Av. Fernando Corrêa da Costa, 559 – Centro
Campo Grande – MS
CEP: 79002-820
As visitações são abertas de segunda a sexta, das 7h30 às 17h30, até o fim de julho, com entrada franca.
Informações (67) 3316-7449

Instagram de Gejo: @gejo.o.maldito
9370hq@gmail.com

Torto poema sem nome e sem cor

Não escrevi nem vinte poemas de amor,
Nem uma canção desesperada,
Quanto menos uma letra de música

Não tive nem a coragem, nem o brilho de Neruda
Nem o encanto de compositores como Noel, Cartola
E os da vanguarda da Música Popular Brasileira

Sambei, mas não compus nenhum samba
Simplesmente batuquei no teclado algumas cartas
Poucas enviadas – e que falavam de amor

Minha musa se perdeu com o tempo
E o poema de amor que pretendera escrever um dia
O mar levou em ondas de uma maré que já baixou

Quanto à canção desesperada fiquei devendo
Repeti a ciência ensinada no colégio numa prosa fraca
E esta se perdeu na gaveta de algum professor

O que escrevo agora é um lamento, um choro,
Pois a fraqueza da vida me pegou e minha herança
Será apenas esse torto poema sem nome e sem cor