Mês: setembro 2024
Segunda-feira
O que é mais triste que um trem?
Que parte quando deve partir,
Que tem somente uma voz,
Que tem somente um caminho.
Nada é mais triste que um trem.
Ou talvez um burro de carga.
Está preso entre duas barras
E não pode olhar para o lado.
Sua vida é só caminhar.
E um homem? Não é triste um homem?
Se vive há muito em solidão,
Se acha que o tempo terminou,
Um homem também é coisa triste.
17 de janeiro de 1946
Lunedì
Che cosa è più triste di un treno?
Che parte quando deve,
Che non ha che una voce,
Che non ha che una strada.
Niente è più triste di un treno.
O forse un cavallo da tiro.
È chiuso fra due stanghe,
Non può neppure guardarsi a lato.
La sua vita è camminare.
E un uomo? Non è triste un uomo?
Se vive a lungo in solitudine
Se crede che il tempo è concluso
Anche un uomo è una cosa triste.
17 gennaio 1946
Primo Levi (Turim, 31 de julho de 1919 — Turim, 11 de abril de 1987)
Setas do oriente
Dez frases de Albert Camus
“Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado“. In “O mito de Sísifo”.
“Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade“. In “O mito de Sísifo”
“Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela“. In “Calígula”
“Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias“. In “A queda”
“Não quero ser um gênio… Já tenho problemas suficientes ao tentar ser um homem“.
“Toda a infelicidade dos homens provém da esperança“.
“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela“.
“O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio“.
“Não há que ter vergonha de preferir a felicidade“.
“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro“.
Albert Camus (Mondovi, Argélia, 7 de novembro de 1913 – Villeblevin, França, 4 de janeiro de 1960)
Lidia Lisbôa: Exposição “O teatro”
Lidia Lisbôa – “O Teatro”
Curadoria: Cristiano Raimondi
Lidia Lisbôa (1970, Terra Roxa, PR, Brasil) apresenta “O Teatro”, sua segunda individual na Millan, com abertura em 14 de setembro. A exposição tem curadoria de Cristiano Raimondi e reúne uma ampla gama de materiais e suportes — têxteis, cerâmica, bronze, desenhos — apresentados em uma instalação imersiva. Ao longo da mostra, o espaço receberá performances e ativações, configurando-se como um palco onde as histórias e os gestos da artista possam ganhar forma.
O trabalho de Lidia Lisbôa é resultado de uma prática que constantemente entrelaça arte e vida, corpo e memória. A nova exposição permite adentrar seu universo poético por meio de uma montagem instalativa, na qual o piso e parte das paredes são recobertos por um carpete rosa. A cor aqui é símbolo de uma força visceral, como define o curador, apontando para as dimensões interna e externa da obra da artista. “Teatro como metáfora e simulacro, teatro como espaço ideal para falar da vida, teatro como lugar de sacralidade e concentração”, afirma Cristiano Raimondi. Esse aspecto cênico também remonta ao início da carreira de Lidia, quando integrou grupos teatrais, além de trabalhar em ateliês de costura e atuar como figurinista.
A exposição reúne séries já consagradas da artista, como os Cupinzeiros, esculturas criadas em cerâmica ou bronze; os Cordões umbilicais, nos quais ela desenha linhas fluidas no espaço empregando fios de arame, botões e porcelana; as Tetas que deram de mamar ao mundo, esculturas têxteis criadas com crochê; e os Casulos, também de crochê, que são objetos vestíveis usados em performances. Em todos esses trabalhos a manualidade é uma característica determinante, atuando como exercício de construção subjetiva.
“O Teatro” também inclui obras sobre papel como a série Frutas (2009), Mulher (1995) — ambas expostas pela primeira vez — e os desenhos recentes da série Memórias de renda. Criados com nanquim ou aquarela, esses trabalhos revelam uma escala mais íntima da poética de Lidia e atestam uma prática incessante, que se manteve vigorosa ao longo dos anos. “A mesma energia que eu coloco em uma bola de argila, coloco também em um desenho no canto do papel ou em uma escultura enorme de crochê”, afirma a artista. “Estamos sempre nos reinventando”.
Lidia Lisbôa também está atualmente em cartaz com as individuais: Têta no MAR – Museu de Arte do Rio até 3 de novembro; e Mulher Esqueleto no Sesc Araraquara até 19 de janeiro. Suas exposições recentes incluem as coletivas: Threads to the South no ISLAA (Nova York, 2024); The Ocean is the Axis na Mariane Ibrahim Gallery (Cidade do México, 2024); Vai, vai, Saudade no Museo Madre (Nápoles, 2024); 37º Panorama da Arte Brasileira no MAM (São Paulo, 2022); e a 13ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2022). Suas obras integram importantes coleções institucionais como ISLAA (Nova York), Museo Del Barrio (Nova York), MARGS (Porto Alegre) e Pinacoteca de São Paulo.
Galeria Millan
Rua Fradique Coutinho, 1.360/ 1.416
São Paulo – SP – Brasil – CEP: 05416-001
Seg – Sex: 10h – 19h / Sáb: 11h – 15h
Tel: (11) 3031-6007
galeria@galeriamillan.com.br
Veja mais: https://millan.art/exposicoes/o-teatro/
Contatos:
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www.lidialisboa.com.br
Artista indicada para o blog por Gejo, O Maldito, que recomenda uma visita.
Estandarte autoral de Jerônimo Miranda
Um espaço
É preciso também não ter filosofia nenhuma
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935)
É fogo
Eu
Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneos de frases ásperas
Onde
forcas
esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres
oblíquas
só
soluçando eu avanço por vias que se encruz-
ilham
à vista
de cruci-
fixos
polícias
1913
Vladímir Maiakóvski (Baghdati, Império Russo, 19 de julho de 1893 — Moscou, Rússia, 14 de abril de 1930), in “Poemas de Maiakóvski”. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982, tradução de Haroldo de Campos