“…Sim senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam… Prosterno-me diante delas… Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as… Amo tanto as palavras… As inesperadas… As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem… Vocábulos amados… Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho… Persigo algumas palavras… São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema… Agarro-as no voo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas… E então as envolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as… Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda… Tudo está na palavra… (…)”
Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973), in “Confesso que vivi”, tradução de Olga Savary, Difel – Difusão Editorial S. A., São Paulo, 1974