O Pensamento
O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
*
Hora de ter saudade
Houve aquele tempo…
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
*
Cigarra
Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.
*
Consolo
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
*
Chuva de primavera
Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.
*
Noturno
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
*
Os andaines
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
*
Tristeza
Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?
Guilherme de Almeida (Campinas, 24 de julho de 1890 — São Paulo, 11 de julho de 1969), Alguns de seus hai-kais