Celinha convite

A mocinha, muito da gostosinha, estava jogando frescobol na beira da praia, sob os olhares cobiçosos da plebe ignara (ala masculina). Ela era dessas de fazer motorista de coletivo respeitar sinal e muito desinibida nem dava bola para o êxito que seu corpo moreno e quase pelado, apenas coberto por precário biquíni (desses que parecem feitos com o pano aproveitado de duas gravatas borboletas), fazia junto à moçada.

Foi quando um dos frequentadores do local explicou para os outros:

– Essa daí é a Celinha Convite.

– Convite??? – estranhou o filho de Dona Dulce, que também olhava para a anatomia da moça, embora com aquela discrição que é faceta marcante em minha exuberante personalidade. O informante esclareceu: – Sim, Celinha Convite.

– E Convite é nome de família?

Não, não era. Celinha ficou sendo Celinha Convite depois do último carnaval. Antes era Celinha Pereira. Mas acontece que na época do carnaval, Celinha destacou uma jogada que ficou célebre. E contou a história.

– Nos dias que antecederam o baile do Copacabana-Palace, cujo convite custava uma nota alta, Celinha, talvez com esse mesmo biquini que a despe agora, foi para a piscina do hotel e ficou por ali, onde havia mais paulista rico do que cará no brejo. De vez em quando um paulista se aproximava e puxava conversa com Celinha. Como era tempo de carnaval, a conversa acabava invariavelmente com este assunto. Era a ocasião em que Celinha dizia que adoraria ir ao baile do Copacabana, mas que o convite era tão caro!!! E deixava umas reticências no ar. Ora, paulista, você sabe como é bonzinho, em época de carnaval. O grã-fino providenciava logo um convite para Celinha, ali mesmo na piscina, cheio de esperanças de apanhar Celinha no baile. Para encurtar conversa: Celinha conseguiu bem uns vinte a trinta convites que depois, mesmo vendidos por preço especial aos seus conhecidos, renderam-lhe mais de 200 contos.

– Interessante. E Celinha Convite foi ao baile com qual dos grã-finos?

– Com nenhum. Foi de máscara, com o namorado dela.

– Paulista? Não. Baiano.

Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto (Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1968). Foi cronista, radialista, compositor, homem de teatro e TV. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros. Ele morreu jovem, aos 45 anos de idade, mas deixou obras cheias de humor, em críticas alegres e festivas, maliciosas e amenas de nossas posturas individuais e coletivas. Escreveu diálogos e roteiros para filmes e o antológico “Samba do crioulo doido” que satiriza com muito humor, os enredos das Escolas de Samba.

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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