Torto poema sem nome e sem cor
Não escrevi nem vinte poemas de amor,
Nem uma canção desesperada,
Quanto menos uma letra de música
Não tive nem a coragem, nem o brilho de Neruda
Nem o encanto de compositores como Noel, Cartola
E os da vanguarda da Música Popular Brasileira
Sambei, mas não compus nenhum samba
Simplesmente batuquei no teclado algumas cartas
Poucas enviadas – e que falavam de amor
Minha musa se perdeu com o tempo
E o poema de amor que pretendera escrever um dia
O mar levou em ondas de uma maré que já baixou
Quanto à canção desesperada fiquei devendo
Repeti a ciência ensinada no colégio numa prosa fraca
E esta se perdeu na gaveta de algum professor
O que escrevo agora é um lamento, um choro,
Pois a fraqueza da vida me pegou e minha herança
Será apenas esse torto poema sem nome e sem cor
Eliana Engler: Carvalho alvarinho e Bosque
“Eliana Engler é uma artista brasileira que hoje mora em Cascais, motivada pela beleza, harmonia e equilíbrio.
Criativa e curiosa, com apurado senso estético e grande necessidade de expressão, transitou por diversas possibilidades artísticas como fotografia, design de produtos, design e modelagem de joias, desenho e assim, se misturando, transformando, fluíram para um novo caminho: a pintura.
Em suas obras vislumbramos múltiplas referências à natureza em fortes elementos, em especial às árvores. As copas, sempre pintadas com cores densas, ou as raízes debaixo da terra, nos envolvem em um silêncio, um equilíbrio de reconexão com as belezas simples e gratuitas da vida. Silenciamos com os horizontes e fortalecemos nossas raízes.
O mar também desliza de sua paleta e os retratos deixam impressos a riqueza e profundidade de sua percepção humana. A intensidade das cores em paralelo à graciosidade de suas pinceladas trazem à tona uma grande sensibilidade, revelando intuitivamente a alma da artista, sua natureza, seus mistérios.”
Bruna Pellegrino
Contatos:
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contato@elianaengler.com
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Rosto com jornal
Desejo de passagem – Segunda versão
Vi uma pomba
Na praça
Buscando
comer
Entre tantos havia
Uma menina suja
Em sua calcinha via-se
Uma roda marrom
Seus braços
Moviam-se numa
Rapidez espetacular
Eu andava por lá
Pensando em somente uma
Coisa: passar
Queria simplesmente
Olhar as coisas de lá
Via velhinhos cansados e babás
Fofocando sobre a vida alheia
Pensava em passar e passava
Alegre como quem não queria
Nada com a vida…
O tradicional cuscuz paulista
Gosto de cozinhar sempre que posso e aprecio a boa culinária brasileira. Anos atrás em minhas pesquisas gastronômicas parti em busca da receita do genuíno cuscuz paulista e é essa a estória que apresento hoje no blog “Redescobrindo” para os apreciadores desse tradicional prato de nosso estado.
O cuscuz é um prato muito antigo, sua origem é africana e se dá na região do Magreb, no noroeste da África, que inclui Marrocos, Sahara Ocidental, Argélia e Tunísia. Já o nosso cuscuz, o paulista, é típico do interior do estado, mais foi incorporado já há bastante tempo ao cardápio dos restaurantes da capital.
Essa comida consiste num preparado de sêmola de cereais, principalmente o trigo, mas também pode ser à base de farinha ou polvilho de milho ou mandioca. Salgada e levemente umedecida, a massa é posta a marinar para incorporar o tempero. Depois passa por uma infusão no vapor.
No Brasil, de acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo, a receita teria sido introduzida no século XVI pelos portugueses e atualmente temos em nosso país dois tipos de cuscuz de concepção bem diferentes: o nordestino e o paulista. O comum entre eles é o fato de terem substituído a original sêmola de trigo africana por um ingrediente nosso que é a farinha de milho.
O cuscuz paulista talvez tenha se originado do chamado farnel de viagem, a refeição dos tropeiros, pois nos séculos XVII e XVIII eles costumavam carregar alimentos como farinha de milho, ovo cozido, cebolinha, banha de porco e torresmo, tudo junto numa espécie de lenço, que amarravam e levavam a cavalo. Durante a viagem, a farinha absorvia os sucos dos alimentos e tudo se misturava formando um virado. Desse farnel, o cuscuz evoluiu para a mesa das fazendas, aí já acrescido de outros ingredientes e feito na cuscuzeira de duas partes. Foi nas fazendas que ele adquiriu ares mais sofisticados, sendo introduzido frango ou peixe de água doce em sua receita e hoje a sardinha é muito utilizada. Foi mais para frente que se resolveu adicionar o requinte do camarão.
Para elaborar a receita que ora apresento conversei bastante com uma cozinheira de prato cheio de minha cidade natal, Ourinhos, minha amiga, e ela me deu algumas dicas que incorporei a essa receita. Seu nome era Dona Nadir. Nesse tempo em que comecei a pesquisa me deparei também com um velho livro na biblioteca de meu pai. Este livro, edição de 1946, adquirido em 29 de setembro daquele ano, ficou como herança familiar de minha saudosa mãe Carmita e denomina-se “Comer Bem – 1001 Receitas de Bons Pratos”, escrito por “Dona Benta”. Ele foi editado pela “Companhia Editora Nacional” em um português antigo e, em resumo, a receita que ficou foi essa:
Ingredientes
- 5 xícaras de farinha de milho em flocos
- 1 xícara de farinha de mandioca
- 2 latas de sardinha em conserva
- 1 xícara de camarões pequenos
- 1 xícara de azeite
- 1 cebola picada
- 2 dentes de alho picados
- 1 folha de louro
- 2 xícaras de molho de tomate
- 3 xícaras de caldo de peixe
- 1 e ½ xícara de ervilhas
- 3 e ½ xícaras de palmito picado
- 2 ovos cozidos picados
- 1 xícara de azeitona
- sal, pimenta-do-reino e cheiro verde
Como fazer
Misture a farinha de milho esfarelada com a de mandioca. Aqueça o azeite e refogue a cebola e o alho. Junte o louro, o cheiro verde e o molho de tomate. Depois que ferver, acrescente o caldo de peixe, a ervilha, o palmito, a sardinha picada e o camarão. Tempere com sal e pimenta e cozinhe por 5 minutos. Coloque o ovo e acrescente as farinhas, mexendo sempre. Quando soltar da panela, despeje em uma fôrma untada e aperte. Desenforme frio e decore com azeitona, ovos cozidos e salsinha.
Bom apetite!
Barbatana
Desejo de passagem – Primeira versão
Ontem vi uma pomba
Na praça Buenos Aires
Buscando desesperadamente
A sua comida
Entre tantos passantes havia
Uma menina toda suja de
Brincar na areia
Na sua calcinha havia uma
Roda marrom e seus braços
Se moviam numa
Rapidez espetacular.
Eu andava por lá
Pensando em somente uma
Coisa: em passar por aquele
Caminho tão conhecido e
Adorado. Queria simplesmente
Observar as árvores e os pássaros.
Via velhinhos cansados e babás
Fofocando sobre a vida alheia
Pensava em passar e passava
Alegre como quem não quer
Nada da vida…
Gravuras de Renata Basile no acervo da Galeria Gravura Brasileira
Renata Basile nasceu em Casa Branca (SP) em 1962 e vive e trabalha em São Paulo, capital. É gravadora licenciada em Educação Artística pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) em 1986, onde estudou xilogravura, gravura em metal e litografia com Evandro Carlos Jardim e Regina Silveira. Em 1988 estudou também desenho com Carlos Fajardo. Além disso estudou xilogravura em papel e tecido com Maria Bonomi em 1995 e fotogravura com Sheila Goloborotko no Museu Lasar Segal em 2008. Atualmente orienta oficinas de linoleogravura, monotipia, cologravura e grafiti no SESC Pompéia, em São Paulo. Já expôs na Galeria União Cultural Brasil-Estados Unidos e na Galeria SESC Paulista. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior.
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