Velhice

Alto quem vem lá
Sou eu – a sombra de seu passado
Esquecido no meio de um livro grosso
Nunca lido, mais seguro
Como uma nota de dinheiro
Ela se revelou para mim e disse:
– Vim para te assombrar e lembrá-lo
Que não quero ser esquecido
Como aquela flor que ficou noutro livro
Até murchar…

Antonio Prado: Fotos na Itália

Antonio José Corrêa do Prado nasceu em Bebedouro – SP e é economista (FEA-USP) e um pouco sociólogo, porque estudou três anos de sociologia (FFLCH-USP). É mestre e doutor em economia pelo Instituto de Economia da UNICAMP e foi professor da PUC-SP. Trabalhou por 23 anos no Dieese. Atuou também na Cepal-Chile. Atualmente trabalha na FAO em Roma, Itália.

Contato:
www.facebook.com/tonjose.prado

Poema em processo

Pensamento: fui na sua trilha e cheguei a esse poema que ora coloco no papel
Confesso que o parto não foi fácil e faltou coragem para iniciar essa empreitada
Partir de um papel em branco e colori-lo com idéias é um tanto duro
Mas temos que partir um dia para essa pintura, quer queiramos ou não
Para mim o dia foi hoje, cercado de tintas por todos os lados, saturado até
Pensei em várias coisas: infância, mulheres, literatura, alquimia, música, calor
A forma foi aparecendo, surgindo a partir de uma mancha de tinta, carbono
Fiz patinhas, dois olhos, um fundo (o espaço), pus ponto, um nome, vírgulas
A cabeça da gente dá voltas, rodopios, o medo de errar e não fazer feio: cinema
Escrever sem pensar, pintar sem saber a técnica, criar um oiro da pedra puída
Alquimia de tubos de ensaio e canos de vidro, de cores, químicas, fumaça, fedor
Literatura, pintura, magia – passaram todas pela minha mente, demente, doente
Com febre, cólera, espasmos, tremores, desmedida de acordo com o pensamento
Em um pulso contado (um, dois, …), oscilando entre o relaxamento e a taquicardia

Fernanda Eva: Paraísos

Fernanda Eva é artista plástica formada em pintura pelo “Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo” 1996, e “Historia da arte” na FAAP 1996 – São Paulo. É Mestra em poéticas visuais pela ECA – Universidade de São Paulo (2011). Seu mestrado fala da sua produção de obras com a temática do Paraíso. Nos anos de 2015 e 2016 fez residência artística em Portugal onde desenvolveu a temática dos azulejos portugueses com seus animais, monumentos e personagens típicos. De volta ao Brasil desenvolveu a serie com azulejos portugueses no Brasil e animais brasileiros.
Em 2017 fez residência em Paris e em 2018 fez residência na Dinamarca no ateliê Debora Muskat. Atualmente está pintando em Monchique no atelier da Porca Preta para sua exposição em Setembro.

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Na vila

I

Ia muito à casa do Wanderlei e levava minha vitrolinha
Vinha o Sílvio e outros amigos da escola
Ouvíamos discos de piadas e conversávamos bastante
Ele tinha primas bonitas e eu gostava de observar
Começou a trabalhar cedo e usava óculos grossos
Mexia com olaria e não se destacava na escola

II

Quando ia cortar o cabelo me divertia lendo revistas de futebol
Cuja assunto dominava sempre as nossas conversas
Era um salão simples, mas funcional
O corte era tradicional e não tinha hora marcada

III

Nos bares que vendiam pinga
Gostava de ver os troféus ganhos no futebol
E assistir a jogos de sinuca valendo dinheiro
E movidos à cerveja e à cigarro
Via também muito à jogos de bocha
Sempre no início da noite
Gostava do movimento

IV

Atrás de casa tinha um campão de futebol
De terra batida e riscas de cal
Todo domingo tinha jogo
Comi muito amendoim e tomei sol nas costas
A mata de eucalipto servia de vestiário para os times
E a torcida sentava no barranco mesmo
Vinha jogar o Musão e o São Cristóvão
Fizesse chuva ou fizesse sol

V

Tinha também os bailinhos no Comunitário
Como eu me divertia e aprontava
Sempre entrava de graça, pois conhecia todo mudo
O Chimpanzé na portaria, o Zico no som, o Badu nas bebidas
Lá me engracei com a Fia, bela menina sapeca
E conheci uma morena clara que beijava muito bem
E que encontrei outras vezes
Gostava de dançar vendo as luzes roxas nas camisas brancas
E me encostar nas mulheres para sentir o calor de seus corpos