A Josely Vianna Baptista
Quebra-pedra, for nessa terra
só há se fura o asfalto e vara
a seca e o soco, o fogo e o fato.
As babosas nos quintais vicejam
e aveludam o cabelo de mães.
Ponte aguda entre o ar e o chão
é a espada-de-são-jorge. O sol
não há de estourar mamonas
pelo século todo e a cada hora.
Que samambaia dê logo flores!
e a pipoca estoure em milho
em nossas avenidas, nos sertões.
Esqueceu-se o Conselheiro
de que o vinagre há de virar leite
e o leite há de virar garapa?
Olhem só como já despencam
no colo da hortelã todas as romãs.
Aurora, é porteira escancarada!
Ricardo Domeneck (Bebedouro, São Paulo, 1977). Escritor, poeta e artista visual, desde 2002, vive e trabalha como curador e organizador de eventos em Berlim, Alemanha. Nesse ano de 2024 ficou em 1º lugar no Prêmio Jabuti no eixo poesia pelo seu livro “Cabeça de galinha no chão de cimento”, Editora 34