“A arte popular brasileira celebra
A natureza
O universo do fantástico
A força do imaginário popular
A ligação com a arte como um todo
A vida de cada dia”
Edna Matosinho de Pontes, colecionadora e pesquisadora
Blog de Eduardo Matosinho – ematosinho@uol.com.br – WhatsApp: (11) 9 9781-4370
“A arte popular brasileira celebra
A natureza
O universo do fantástico
A força do imaginário popular
A ligação com a arte como um todo
A vida de cada dia”
Edna Matosinho de Pontes, colecionadora e pesquisadora
“Imbuídas de um sentido lírico, as esculturas de Efrain Almeida tratam de forma sutil e silenciosa questões relacionadas ao corpo, à sexualidade e à religião. Este livro monográfico percorre mais de vinte anos da carreira do artista, com foco principal na exposição Marcas, realizada em 2007 na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Permeado das referências regionais e religiosas de sua vivência do Nordeste, o livro evidencia a importância das imagens da natureza, do universo mitológico e da cultura popular na criação do artista. O ensaio crítico de Moacir dos Anjos, curador da 29ª Bienal de São Paulo, propõe uma interpretação que alia ao imaginário do artista a força autobiográfica da obra, sem rejeitar a técnica do artesanato em madeira e tecido e o uso do espaço expositivo como elemento formal significativo da obra. Com imagens de vistas gerais e também detalhes minuciosos, esta edição bilíngue possibilita uma compreensão profunda da obra de um dos artistas mais importantes da cena contemporânea.”
Moacir dos Anjos
Efrain Almeida
Efrain Almeida de Melo (Boa Viagem CE 1964). Escultor. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1976. Dez anos depois, inicia sua formação artística na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). Em 1990, participa de curso no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), e inicia pesquisas com diversos materiais, e escolhe a madeira como matéria-prima principal de seus trabalhos, que são compostos de pequenas esculturas. Nesse mesmo ano, trabalha como ajudante do pintor Hilton Berredo (1954). A influência religiosa, recebida na infância em Boa Viagem, e o imaginário popular nordestino são temas presentes em seus trabalhos, que fazem referência a ex-votos. Realiza sua primeira exposição individual, Objetos, no Centro Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, em 1993. Participa da 1ª Bienal do Mercosul, em 1997, e da Bienal Internacional de Buenos Aires, em 2002.
A ArtRio acontece desde 2017 na Marina da Glória (Av. Infante Dom Henrique, S/N – Glória – Rio de Janeiro – RJ).
Leia mais: https://artrio.com/
No baile da Corte
Foi o Conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí.
Oswald de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954), In “Poesia Pau Brasil”, 1925
Na primeira vez que viu a ilha, Marini estava amavelmente inclinado sobre as poltronas da esquerda, ajustando a mesa de plástico antes de colocar a bandeja do almoço. A passageira olhara-o diversas vezes, enquanto ele ia e vinha com revistas ou copos de uísque; Marini demorava em ajustar a mesa, perguntando-se entediado se valeria a pena responder ao olhar insistente da passageira, uma americana entre muitas, quando no oval azul da janela entrou o litoral da ilha, a franja dourada da praia, as colinas que subiam em direção ao planalto desolado. Marini sorriu para a passageira, corrigindo a posição defeituosa do copo de cerveja. “As ilhas gregas”, disse. “Oh, yes, Greece”, respondeu a americana com um falso interesse. Um som breve de campainha e o comissário de bordo se ergueu, sem que o sorriso profissional se apagasse de sua boca de lábios finos. Começou a atender um casal de sírios que queria suco de tomate, mas, na cauda do avião, aproveitou uns segundos para olhar outra vez para baixo; a ilha era pequena e solitária, e o Egeu a cercava com um azul intenso que ressaltava a orla de um branco deslumbrante e como que petrificado, que lá embaixo seria espuma rompendo nos recifes e nas enseadas. Marini percebeu que as praias desertas corriam em direção ao norte e ao oeste, o resto eram montanhas que entravam abruptamente no mar. Uma ilha rochosa e deserta, se bem que a mancha cor de chumbo perto da praia do norte pudesse ser uma casa, talvez um grupo de casas primitivas. Começou a abrir a lata de suco e ao erguer-se a ilha desapareceu da janela: sobrou apenas o mar, um verde horizonte interminável. Olhou o relógio de pulso sem saber por que: era exatamente meio-dia.
Julio Cortázar (Ixelles, 26 de agosto de 1914 — Paris, 12 de fevereiro de 1984), In “Todos os fogos o fogo” – Trecho de um dos oito contos desse livro – Gloria Rodrígues (Tradutora)
“Em Cortázar, o conto é entendido como uma totalidade orgânica, uma narrativa de economia rigorosa, uma estrutura em tensão, limitada quanto ao tempo e quanto ao espaço, na qual todos os elementos devem estar, necessariamente, em função do efeito unitário do conjunto.“
Davi Arrigucci Júnior (São João da Boa Vista, 7 de maio de 1943) é um escritor e crítico literário brasileiro, professor aposentado de teoria da literatura da Universidade de São Paulo.
A mocinha, muito da gostosinha, estava jogando frescobol na beira da praia, sob os olhares cobiçosos da plebe ignara (ala masculina). Ela era dessas de fazer motorista de coletivo respeitar sinal e muito desinibida nem dava bola para o êxito que seu corpo moreno e quase pelado, apenas coberto por precário biquíni (desses que parecem feitos com o pano aproveitado de duas gravatas borboletas), fazia junto à moçada.
Foi quando um dos frequentadores do local explicou para os outros:
– Essa daí é a Celinha Convite.
– Convite??? – estranhou o filho de Dona Dulce, que também olhava para a anatomia da moça, embora com aquela discrição que é faceta marcante em minha exuberante personalidade. O informante esclareceu: – Sim, Celinha Convite.
– E Convite é nome de família?
Não, não era. Celinha ficou sendo Celinha Convite depois do último carnaval. Antes era Celinha Pereira. Mas acontece que na época do carnaval, Celinha destacou uma jogada que ficou célebre. E contou a história.
– Nos dias que antecederam o baile do Copacabana-Palace, cujo convite custava uma nota alta, Celinha, talvez com esse mesmo biquini que a despe agora, foi para a piscina do hotel e ficou por ali, onde havia mais paulista rico do que cará no brejo. De vez em quando um paulista se aproximava e puxava conversa com Celinha. Como era tempo de carnaval, a conversa acabava invariavelmente com este assunto. Era a ocasião em que Celinha dizia que adoraria ir ao baile do Copacabana, mas que o convite era tão caro!!! E deixava umas reticências no ar. Ora, paulista, você sabe como é bonzinho, em época de carnaval. O grã-fino providenciava logo um convite para Celinha, ali mesmo na piscina, cheio de esperanças de apanhar Celinha no baile. Para encurtar conversa: Celinha conseguiu bem uns vinte a trinta convites que depois, mesmo vendidos por preço especial aos seus conhecidos, renderam-lhe mais de 200 contos.
– Interessante. E Celinha Convite foi ao baile com qual dos grã-finos?
– Com nenhum. Foi de máscara, com o namorado dela.
– Paulista? Não. Baiano.
Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto (Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1968). Foi cronista, radialista, compositor, homem de teatro e TV. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros. Ele morreu jovem, aos 45 anos de idade, mas deixou obras cheias de humor, em críticas alegres e festivas, maliciosas e amenas de nossas posturas individuais e coletivas. Escreveu diálogos e roteiros para filmes e o antológico “Samba do crioulo doido” que satiriza com muito humor, os enredos das Escolas de Samba.
Primavera e o mais… Diz minha amiga de longa data Ana Luiza Pellegrini Vergueiro: “Como ouvi outro dia (Derivado de um versículo bíblico, dos Salmos): Onde você estiver, floresça.”. “E que seja uma primavera profícua!“