Domingos paulistas

Comer pasta em uma tratoria
Seguida de uma taça de vinho tinto
Lembra os domingos paulistas
Dos tempos de faculdade
Com os colegas da Liga
Cinema e apostas na corrida

Quando morava no Brooklin
No Brooklin Paulista
Saia sempre para passear de bicicleta
Nos domingos vadios e sonolentos
Virava a direita e depois seguia pela esquerda
Até o final da rua Laplace
Tinha muito verde por lá
Além de famílias alemãs

Entre dois papéis brancos

Entre dois papéis brancos
Fiz um sanduíche com meus sonhos
De noites escaldantes de amor
E dias vividos lá fora
Foram trabalhos já realizados
E amigos presentes
Fotos de criancinhas recém nascidas
Recebidas pelo correio
Bingos de uma festa junina
Ganhos por uma velhinha de preto
A espera em um ponto de ônibus
Com o dinheiro trocado na mão
O trajeto de sempre esquecido
Na leitura de um poema de João Cabral
Deixei passar o meu ponto
E fui parar perto da Paulista
Na caminhada de volta
Parei em uma farmácia
E comprei o meu remédio
Reforço para o dia que virá
Na solidão da cidade grande

Bicharada: fotos

“7 bichinhos são explorados e maltratados por seus patrões. Cansados dessa situação, alguns fogem de suas casas, outros são expulsos e ficam sem lar. É nesse momento que eles se encontram e iniciam uma aventura em busca da felicidade. Será que conseguirão atingir seus objetivos? Venha se emocionar e cantar com a gente!”

Musical encenado no Teatro Escola Macunaíma em 2 seções no dia 22 de junho e dirigido por Rafaela Cassol, inspirado no conto “Os Músicos de Bremen” dos irmãos Grimm, com a participação de João Alexandre Matosinho como o personagem Jumento.

Com uma blusa puída

Com uma blusa puída
Saí para a rua para encontrar o sol
E a aurora de minha vida
Caminhei entre passantes apressados
Vi cachorros e pássaros
E um museu aberto ao público
Minha infância passou pela minha cabeça
Recordei amigos antigos
E passagens de meu passado
Como uma partida de futebol
E um footing na praça
Tomei um cafezinho no bar
E caminhei um pouco mais
Pois tinha outras coisas para encontrar
Como um sonho, um átimo
Um amor acabado
E uma garrafa de guaraná

Galeria Pontes apresenta seu acervo de Antônio Poteiro

Poteiro – Antônio Batista de Sousa (Antônio Poteiro) nasceu em Santa Cristina de Pousa (Portugal) no ano de 1925 e faleceu em 8 de junho de 2010, aos 84 anos. Chegando ao Brasil ainda criança, morou sucessivamente em São Paulo e Minas Gerais, viveu na Ilha do Bananal entre os Carajás e, finalmente, radicou-se em Goiânia. Ganhando a vida como fabricante de cerâmica utilitária (de onde lhe adveio o epíteto de Poteiro), aos poucos foi imprimindo qualidade artística a seus potes, estimulado por Antonio de Melo e pela pintora e folclorista Regina Lacerda. Com o passar dos anos muitos de seus potes assumiriam a condição de autênticas esculturas em cerâmica, superando pela carga estética sua condição primeira de simples recipientes caseiros para revelar, na forma cada vez mais complexa e na elaborada ornamentação, uma imaginação dominada pelo insólito e o fantástico. Passando posteriormente a pintar, a conselho de Siron Franco e de outros artistas goianos, levou para a pintura os mesmos elementos utilizados em suas peças de cerâmica, priorizando uma temática nascida do sonho e do pesadelo. É, dentre os artistas brasileiros, dos mais conhecidos e apreciados no exterior, em função do grande número de exposições internacionais de que tem participado desde 1972.

Bunico

O canto dos pássaros anunciou
E a mata em revoada: uno, mais um
Meu filho chegou…
Bunico – mamãe disse no dezembro.
Meu primeiro sobrinho, no passado, como escrevi na porta
Do guarda-roupa de casa em Ourinhos: Biriba.
É sorte grande ver um rebento chegar:
Boneco, buneco, bunico,
Martim, Tim, Nico, Nenê – Tantos pássaros.
Um pandeiro por tocar e uma peteca em repouso esperando
Seu toque mágico com as mãos firmes que Deus te deu.
Um séquito de aves na praça que meu pai gostava
E onde conheci tua mãe e comecei a sonhar contigo,
Te esperam para a comitiva que te seguirá.
O pio da mata ecoou no ventre da mãe Luiza e te acalentou.
O girino, o ovo, o feto, o bebê, o homem, o ser.
A mágica da vida e a eterna música do tempo.
No belo canto do curió e do uirapurú.
A Amazônia, o Pantanal, a mata ciliar do Paranapanema,
As curvas do pai Tietê, o céu de minha terra que é São Paulo
Que a todos recebeu e que é tua também.
As veredas de um João e o os Severinos de outro.
O Piauí todo correndo em suas veias.
Portugal e Holanda: tantas histórias
Do vaqueiro Pedro Branco e do caipira Edmundo de Dois Córregos
Da Maria no céu e da Raimunda na terra de Campo Maior.
Um João para nos ajudar a nos redescobrir.

Rua Alagoas, 29/Dez/2005.