Seis hai-kais de Millôr Fernandes

Eis o meu mal
A vida para mim
Já não é vital.

*

Passeio aflito;
Tantos amigos
Já granito.

*

À nossa vida
A morte alheia
Dá outra partida.

*

A vida é um saque
Que se faz no espaço
Entre o tic e o tac.

*

É meu conforto
Da vida só me tiram
Morto.

*

Probleminhas terrenos:
Quem vive mais
Morre menos?

Millôr Fernandes (Rio de Janeiro, 16 de agosto de 1923 — Rio de Janeiro, 27 de março de 2012)

Um milhão de páginas visitadas, viva o blog “Redescobrindo”

Hoje nosso blog, que já está no ar há quase 20 anos, e que foi remodelado em maio de 2019, está completando 1.016.799 de páginas visitadas. Ele já tem 137 páginas, 1.367 posts publicados, 310 comentários aprovados, um total de 126.926 visitantes e 108.449 visitantes únicos. Como já comentei anteriormente, “Redescobrindo” foi o título que dei para meu livro de poesia concluído em São Paulo em agosto de 2003 e que aqui foi publicado na íntegra, juntamente com algumas pinturas de minha autoria e outros assuntos variados que julguei interessantes. Acima mostro um painel com fotos minhas do começo do blog e de agora, e uma série de trabalhos artísticos meus já publicados nele.

Muito obrigado pelas visitas e pelo prestígio. Este trabalho é feito com muita dedicação e carinho.

Um abraço e volte sempre,

Eduardo Matosinho

Litogravura

Eu voltava cansado como um rio.
No Sumaré altíssimo pulsava
a torre de tevê, tristonha, flava.
Não: voltava humilhado como um tio
bêbado chega à casa de um sobrinho.
Pela ravina, lento, lentamente,
feria-se o luar, num desalinho
de prata sobre a Gávea de meus dias.
Os cães quedaram quietos bruscamente.
Foi no tempo dos bondes: vi um deles
raiar pelo Bar Vinte, borboleta
flamante, touro rútilo, cometa
que se atrasa no cosmo e desespera:
negra, na jaula em fuga, uma pantera.

Passei a mão nos olhos: suntuosa,
negra, na jaula em fuga, ia uma rosa.

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 1922 — Rio de Janeiro, 1 de julho de 1991), In “Testamento do Brasil”, 1966

Seis frases de Fernando Sabino

“Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!”

“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.”

“Não confio em produto local. Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher.”

“Infidelidade é como apanhar o seu sócio roubando dinheiro do caixa.”

“Os homens se dividem em duas espécies: os que têm medo de viajar de avião e os que fingem que não têm.”

“No dia em que a mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu marido, é também seu cônjuge, coitado dele.”

Fernando Sabino (Belo Horizonte, 12 de outubro de 1923 — Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2004)

Valdir Sarubbi: Falando de açaí…

Selecionei um trecho do conto chamado “Passarinhada”, escrito pelo artista paraense Valdir Sarubbi, que foi meu saudoso professor de pintura. Ele era um leitor muito dedicado e um profundo conhecedor de literatura. Na última fase de sua vida ele se empenhou em escrever memórias e contos. Neste trecho do seu livro “Estórias paralelas” ocorre um diálogo entre personagens que falam sobre passarinhos e comidas, em especial, o açaí.

(…)

“Levanta o bracinho fino e aponta com o dedo mais fino ainda para o galho abarrotado de frutinhas. Com a outra mão leva as frutas à boca. Os olhos estão no galho repleto e por isso, em vez da boca, a azeitona roxa, quase preta, vai para o terreno entre os lábios e o nariz. Aí, com o acalcamento, espoca. O cíclame matiza o catarro que vai para a boca. O galho está cheio de frutas maduras. Caticó bate no galho. O Zeca aparece correndo, afogueado.

– Caticó, o danado tá lá…

As azeitonas no galho.

– Hum?

– O danado… o curió preto…

– Olha como tem azeitona, Zeca!…

– Num gosto de azeitona…M’impresta o alçapão… Onde está?

– Tá lá…

Zeca de novo, correndo, pegando o alçapão de Caticó, desaparecendo no mato. Pimpim cospe fora uma azeitona. Caticó se volta.

– Que foi, Pimpim? Engoliu caroço?

Pimpim tem o rosto assustado.

– Tomei açaí. Faz mal…

Caticó se volta para o outro galho.

– Intão num come mais.

Pimpim faz cara de choro.

– Hu…hu…hu…

– Chora, não, Pimpim. Vai sentá ali, vai…

Pimpim se afasta, manquejando.

– Vô morrê… Hu…hu…hu…

– Morre nada! Vai pr’ali…

(…)”

Estórias paralelas, 1999, 140 páginas

Gravura em metal e segunda capa do livro inédito do artista paraense Valdir Sarubbi- acervo família Sarubbi- edição póstuma

Valdir Sarubbi (Bragança, Pará, 10 de outubro de 1939 – São Paulo, 8 de novembro de 2000)

San Bertini: Exposição coletiva “18. sine qua non”

“É com muito prazer que convidamos nossos clientes e amigos para a abertura da exposição coletiva “18. sine qua non”.

A mostra apresenta nos 3 pisos da galeria 18 obras dos artistas representados pela 18.

Vernissage: 13/11 – 19h
Exposição de 14/11/2024 – 8/3/2025
Visitação de terça das 10h às 19h e sábado das 10h às 18h.
Entrada gratuita.

Galeria 18 – Rua Simpatia, 23 – Vila Madalena- SP.”

18
Galeria de arte

@adam.leef @allisson_opitz @alanberryrhys @andrefelipe.studio @andre_tietzmann @bradleytheodore @eversonfonsecaartistavisual @flaviafabbriziani @flaviorossiart @gabrielpessagno @jamesrowland_art @karendepicciotto @pedro.afonso.visualartist @ricardo6sanchez @rodrigobarralesatelier @sanbertini

www.galeriadezoito.com/links

San Bertini, ou Sandra Bertini (1971), natural de São Paulo, iniciou os seus estudos de pintura em 1982 na Penha, com o Artista Professor César Sarau, com quem estudou durante sete anos.
– Liceu de Artes e Ofícios – Centro Cultural durante dois anos (1986 e 1987), estudos de História da Arte, Perspectiva, Anatomia e Modelo Vivo.
– Ateliê do paisagista Alexandre Reider, (2002 e 2003).
– Workshops de Modelo Vivo Avançado com Gilberto Geraldo de São Petersburgo (2003).
– Curso de Atelier de Técnicas e Manipulação de Tintas a Óleo, seus Vernizes e Pigmentos (2006), Centro Cultural Casa do Restaurador.
– Curso de Atelier de Técnicas e Manipulação de Tintas Acrílicas, seus Vernizes e Pigmentos (2006), Centro Cultural Casa do Restaurador.
– Curso de Pincéis (2007), Centro Cultural Casa do Restaurador.
– Bacharelado em Artes Visuais (escultura, pintura e gravura) no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2008).
Profissionalmente em 1994 executou trabalhos de ilustração para a revista Alquimia, realizando a primeira exposição durante o lançamento da referida revista, no Centro Cultural Moriconi, em Suzano. Em 1995 criou e realizou a capa da revista Alquimia (nº 4 com o título Anjos – Mitos ou Realidades).
Em 1995 iniciou as suas atividades como professora de desenho e pintura.
Professora de desenho do Centro Cultural Casa do Restaurador (2006 a 2008).

Contatos:
www.facebook.com/san.bertini.1
www.instagram.com/sanbertini
san.bertini@gmail.com

Silêncio

Língua das coisas

Mas também: língua de se falar
com as coisas
e com as próprias palavras

O nome das coisas
quando não falamos delas

Único modo que têm os mortos
de cantar

O que há entre uma xícara e outra xícara
entre uma pedra e uma rosa
entre Vênus e uma cadeira

O modo como soa
uma palavra
riscada

Toda fala nasce com a cicatriz do silêncio,
que foi quebrado

Não há palavra que não seja marcada pelo silêncio
como camisas que secaram
presas ao varal

Por outro lado, frequentemente o silêncio
vem manchado por uma palavra
como um espelho sujo

A forma mais próxima do silêncio é o círculo:
forma geométrica da espera

O rastro que deixou
o animal que não passou

É este o meu nome
quando não me chamas

Ana Martins Marques (Belo Horizonte, MG, 1977), In “Risque esta palavra”, 2021. Com graduação em Letras, escreveu uma dissertação de mestrado sobre João Gilberto Noll e concluiu seu doutorado em literatura comparada na UFMG. Nesse ano de 2024 foi indicada entre os 5 finalistas do Prêmio Jabuti no eixo poesia pelo seu livro “De uma a outra ilha”, Editora Círculo de Poemas