Classes e conflito social em Marx
Depois de uma pausa nos textos sociológicos, marcado pela publicação de um poema de minha autoria, sigo com minha contribuição ao site “Vivendocidade” abordando um importante tema do pensamento sociológico. Refiro-me aos conceitos de classes, que são centrais no desenvolvimento da sociologia, e um importante impulso foi dado por Karl Marx em sua obra clássica. De acordo com Ralph Miliband em seu artigo “Análise de classes” o ponto de partida da análise de classes no marxismo foi a famosa passagem do Manifesto Comunista na qual Marx e Engels declaram que “a história de toda a sociedade que existiu até agora é a história da luta de classes”.
Pensando em termos dos conflitos vê-se de imediato que nessa concepção a análise de classes é, com efeito, uma análise da luta de classes, ou seja, é um modo de análise que procede da crença segundo a qual a luta de classes constitui o fato crucial da vida social desde o passado remoto até o presente. Para Miliband, Marx está preocupado com a base e os mecanismos dessa luta, com o caráter dos protagonistas, as formas que a luta assume, as razões das diferenças nessas formas de um período para outro em qualquer sociedade e entre sociedades, entre outros fatores.
Nessa visão os protagonistas da luta de classes são, de um lado, os proprietários dos meios de produção e, de outro, os produtores e esses protagonistas estão engalfinhados num conflito que é eminente, “estruturalmente” determinado e implícito em sua respectiva localização no processo de produção. Os proprietários (burgueses) são inelutavelmente levados a tentar extrair a quantidade máxima de mais-valia que é possível extrair dos produtores (proletariado) nas condições históricas dadas, enquanto os produtores são similarmente levados a tentar minimizar essa quantidade e a produzir sob as condições menos onerosas possíveis.
A relação entre proprietários e produtores é uma relação de exploração que num sentido técnico denota a apropriação da mais-valia e a alocação do produto excedente por pessoas sobre as quais os produtores têm pouco ou nenhum controle. A exploração não é um desenvolvimento peculiar do capitalismo e a questão da apropriação e da alocação da mais-valia é muito mais complicado do que essa formulação sugere.
Para Miliband a análise de classes está preocupada basicamente com um processo de dominação e de subordinação de classes, o que constitui uma condição essencial do processo de exploração e sempre foi o principal objetivo da dominação. Para Marx, a exploração é de crucial importância, mas é a dominação que a torna possível. Marx visava criar uma “sociedade verdadeiramente humana”, onde seriam abolidas as relações de dominação e coerção.
A obra central de Marx “O Capital”, segundo Miliband, bem que poderia ser chamada de um tratado acerca da dominação sob o modo de produção capitalista.
Uma classe dominante em qualquer sociedade de classes é constituída em virtude de seu controle efetivo sobre três fontes principais de dominação: os meios de produção, onde o controle pode envolver a propriedade desses meios; os meios de administração e coerção do Estado; e os principais meios para estabelecer a comunicação e o consenso.
Nessa análise a importância da propriedade é fundamental na vida da sociedade capitalista. Ela é a principal fonte de poder administrativo nas empresas capitalistas de médio e pequeno porte, mas ela não é pré-requisito essencial para o controle das principais fontes de poder na sociedade capitalista, ou seja, o poder corporativo e o poder do Estado.
O próprio Estado é um extrator maior da mais-valia, tanto como empregador quanto como coletor de impostos. Ele é capaz de envolver-se no processo de extração em virtude de seu controle do poder estatal, sem ter nada a ver com a propriedade pessoal que intervém nesse processo. Para Miliband a tributação sempre foi e continua sendo um aspecto crucial nesse processo de extração de mais-valia e requer não a propriedade, mas o controle efetivo dos meios de administração e coerção.
Os elementos comerciais e profissionais da classe dominante compõem a burguesia das sociedades capitalistas avançadas da atualidade. Essa burguesia se distingue da elite do poder em virtude de não ter nada que possa ser chamado de seu poder. No entanto, ela faz parte da classe dominante porque seus membros exercem um grande poder em termos econômicos, sociais, políticos e culturais, não apenas na sociedade em geral, mas também em várias partes do Estado.
A classe dominante, como todas as outras, está longe de ser homogênea e divergências e choques muito pronunciados ocorrem constantemente entre diferentes segmentos dessa elite. Essa elite permanece suficientemente coesa para assegurar que seus objetivos comuns sejam eficazmente defendidos.
A outra seria a classe subordinada da sociedade capitalista e que compreende uma vasta maioria de sua população e cuja maior parte se compõe dos trabalhadores e seus dependentes. Ela é uma classe extremamente variada, diversa, dividida com base na ocupação, habilidade, gênero, raça, etnicidade, religião, ideologia, entre outras.
Essas divisões são de grande importância política e têm um peso muito grande na história das sociedades capitalistas, sem falar nos movimentos trabalhistas. O autor lembra que a classe operária como um todo tem aumentado com o passar dos anos.
A classe trabalhadora compõe-se atualmente de operários e de funcionários de escritório e seus dependentes e de uma variedade de homens e mulheres dedicadas a ocupações voltadas para os serviços e distribuição.
Entre os conflitos temos as lutas que assumem uma multiplicidade de formas e expressões, mas pode-se situá-los em duas categorias gerais. De um lado, a classe dominante (classe conservadora) que procura defender, manter e fortalecer a ordem social, e o faz em nome do interesse nacional, da liberdade, da democracia ou de que quer que seja. Do outro lado, a classe subordinada, ou pelo menos a minoria ativista dentro dela que está envolvida num processo permanente de pressão de baixo para cima. Pode ser exercida ou para modificar ou melhorar as condições nas quais a subordinação é vivenciada ou para erradicar por completo a subordinação. A primeira preocupa-se, sobretudo com as melhorias e reformas dentro da estrutura do capitalismo, e não procura ir além dessa estrutura. Já a segunda procura ultrapassar essa mesma estrutura, sendo portando revolucionária.
Segundo Miliband é a oposição e as lutas geradas por esses objetivos contraditórios descritos acima que constituem o fato crucial da vida social.
É importante destacar as maneira pelas quais as classes dominantes procuram usar o sistema político para seus próprios fins. A mais importante dessas instituições é o Estado, visto que ele desempenha um papel único e indispensável na defesa e no fortalecimento da ordem social e nenhuma outra instituição é capaz de intervir com a mesma eficácia na vida social. Isso ocorre por mais “não-intervencionista” que ele possa querer ser na vida econômica. Mesmo assim ele desempenha um papel crucial no âmbito dos conflitos e poderes na experiência social, nem que seja para atenuar os custos sociais da empresa capitalista.
O Estado é importante também porque ele é responsável pela previdência social e pelos serviços coletivos que servem também para assegurar a manutenção e a reprodução de uma força de trabalho eficiente e atenuam as queixas das pressões vindas de cima. Ele está profundamente envolvido na decisiva propaganda e na doutrinação e está encarregado do imenso aparato de coerção e repressão que está sendo operado na sociedade de classes. O Estado procura desempenhar um papel importante na manutenção da ordem social baseada na dominação e na exploração de classe.
A análise de classes está também preocupada com a crucial e incessante luta empreendida de cima para baixo com o objetivo de impor aos produtores as disciplinas que tornam possível a extração da mais-valia, processo que ocorre no ponto de produção e no local de trabalho, mas que depende também de toda uma série de condições sociais e políticas.
Quanto à pressão de baixo para cima, Marx acreditava que a classe trabalhadora deve inevitavelmente adotar as lutas pela modificação e melhoria das condições em que a subordinação e a exploração são vivenciadas e a luta pela abolição total da subordinação, onde Marx destaca a última.
Nessas lutas tem-se que destacar a influência da democracia capitalista sobre os movimentos trabalhistas. A democracia capitalista revelou-se um sistema extraordinariamente flexível, resistente e com poder de absorção, e desempenhou um papel fundamental na contenção e neutralização da pressão de baixo para cima.
Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (06/06/2013)
Abstrato Rio
Elias e Goffman: duas interpretações da sociologia contemporânea
Nessa nova contribuição ao site “Vivendocidade” apresentarei dois autores, um alemão e outro canadense, cujas obras mostram tendências contemporâneas da teoria sociológica. O primeiro autor analisado será Norbert Elias (Breslau, 22 de junho de 1897 – Amsterdã, 1 de agosto de 1990) e enfocarei seus livros “Os alemães” e “A sociedade de corte”. Uma outra tendência comentada está no trabalho de Erving Goffman (Mannville, Alberta, 11 de junho de 1922 – Filadélfia, 19 de novembro de 1982) intitulado “Estigma, notas sobre a manipulação da identidade deteriorada”. Espero que a leitura seja proveitosa e que você retorne mais vezes a este site para se inteirar sobre sociologia, cotidiano, espaço urbano e política.
A obra de Norbert Elias aparece hoje com uma destacada vitalidade e a pesquisa de nossos dias encontra nele um precursor brilhante e estimulante. Ele procura pensar as relações entre as várias cadeias de processos históricos e considera essas relações como um tema central da própria história, que transforma cada época em um todo indissociável. Sua obra também se preocupa com o espírito de cada época que a historiografia até então dominante tomava como explicador da história. Para ele esse é o ponto que é preciso verdadeiramente explicar.
Um livro que se destaca em sua obra é sem dúvida “Os alemães” e eqüivale a uma exposição quase contínua, do ponto de vista cronológico, do desenvolvimento social alemão. Nessa obra o autor aponta os muitos caminhos em que as características do “habitus”, da idiossincrasia, da personalidade, da estrutura social e do comportamento alemão se combinam para produzir a ascensão de Hitler e os genocídios nazistas podem ser entendidos como resultantes do passado da Alemanha. Ele mostra um hábil entrelaçamento de provas empíricas e argumentos teóricos para desenvolver o seu estudo.
Seu conceito de “habitus” significa basicamente “segunda natureza” ou “saber social incorporado”. Esse termo é usado em grande parte para superar os problemas da antiga noção de “caráter nacional” como algo fixo e estático. Ele implica um equilíbrio entre continuidade e mudança, onde o “habitus” muda com o tempo precisamente porque as fortunas e as experiências de uma nação continuam mudando e acumulando-se.
Nessa obra Norbert Elias foi capaz de escrever uma verdadeira “biografia” dos alemães. Ele faz a seguinte comparação: “assim como o desenvolvimento de uma pessoa individual, as experiências dos períodos anteriores de sua vida continuam tendo um efeito no presente, também as experiências passadas influem no desenvolvimento de uma nação”.
A tese central desse livro é de que a facilidade e rapidez com que Estados centralizados emergiram na Europa Ocidental dependeu, ceteris paribus, do tamanho das formações sociais envolvidas e, assim, da extensão das divergências geográficas e sociais existentes. Sua análise é profundamente histórica e mostra a trajetória do povo alemão em função das marcantes derrotas nas guerras em que estiveram envolvidos, desde o Império “Romano Germânico” até a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial. Analisa em detalhes as conseqüências sobre o povo alemão dessas derrotas e como ele reagiu a essas adversidades.
Outra obra importante desse autor e que aponta algumas tendências contemporâneas da teoria sociológica é “A sociedade de corte”. Nela Elias analisa a corte régia do antigo regime e mostra as relações sociais que levaram uns aos outros por estranhas obrigações nas quais os homens se beneficiavam e eram vítimas. Ao mesmo tempo estavam ligados por uma ordem hierárquica mais ou menos rígida e por uma etiqueta minuciosa. O autor discute qual era a estrutura do contexto social no seio do qual pôde surgir esta formação. Analisa também quais exigências que decorriam da estrutura da sociedade de corte para com aqueles que nela desejavam triunfar ou simplesmente manter-se.
A importância do tema é que a corte revestia-se de um caráter representativo e central na maior parte dos países europeus nos séculos XVII e XVIII. Nessa época, não era a cidade que irradiava sobre todo o país, mas a “corte” e a “sociedade de corte”. As heranças dessa sociedade foram muito fortes e, como diz Elias, a sociedade aristocrática de corte representa uma figura central dessa fase histórica que foi suplantada pelo período da burguesia-profissional-urbana-industrial, ao fim de um processo de muitas lutas. No entanto, ela sobreviveu e manteve-se na vida social e cultural dessa mesma burguesia, em parte como herança, em parte como imagem invertida da sociedade de corte. Seu objetivo último é compreender a nossa própria sociedade atual estudando detalhadamente a sociedade de corte que foi a última grande formação não burguesa do Ocidente.
Já Erving Goffman em sua obra “Estigma, notas sobre a manipulação da identidade deteriorada” retoma o tema do estigma, ou seja, a situação do indivíduo que está inabilitado para a aceitação social plena. Goffman realiza um exercício no sentido de separar o material sobre o estigma de fatos vizinhos, de mostrar como esse material pode ser descrito de uma forma econômica no interior de um único esquema conceitual, e de esclarecer a relação do estigma com a questão do desvio.
Quando aborda a questão do estigma e da identidade social o autor menciona três tipos de estigma. Em primeiro lugar aparecem as várias deformidades físicas, em segundo, as culpas de caráter individual, como vontade fraca, paixões tirânicas, crenças falsas, desonestidade e, por último, ele aponta os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família.
O interessante é que em todos os exemplos apontados encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social cotidiana possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Essa pessoa possui um estigma, uma característica diferente da que a prevista.
Segundo Goffman ocorre uma das cenas fundamentais da sociologia quando indivíduos normais e estigmatizados realmente se encontram na presença imediata uns dos outros, especialmente quando tentam manter uma conversação. Isso ocorre porque, em muitos desses casos, esses momentos serão aqueles em que ambos os lados enfrentarão diretamente as causas e os efeitos do estigma. Nessa cena o estigmatizado pode descobrir que se sente inseguro em relação à maneira como os normais o identificarão e o receberão. Surge nele a sensação de não saber aquilo que os outros estão “realmente” pensando dele. Além disso, é provável que o indivíduo estigmatizado sinta que está “em exibição” e leve sua autoconsciência e controle sobre a impressão que está causando a extremos e áreas de conduta que supõe que os demais não alcançam.
Após analisar vários casos de estigma o autor aborda também outros pontos bastante atuais como o controle de informações e identidade pessoal, o alinhamento grupal e identidade do eu, o eu e o outro (onde analisa os desvios e as normas e o estigma e a realidade) e os desvios e comportamento desviante.
Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (30/01/2013)
Eduardo Turski: Somente triângulos (“Only triangles”)
Eduardo Turski
Nasceu em 1994 em Porto Alegre – RS. Artista visual, atualmente trabalhando com a pintura e pensando-a em distintos modos de construção em meio aos processos tais como graffiti e a intervenção urbana, mas também a pintura sobre tela e refletindo sobre os limites do universo pictórico, do plano à expansão para além do suporte. Desse modo, articulando distintas associações conceituais, filosóficas e existenciais, através da repetição da forma triangular como potência para a constituição de espacialidades por meio de um viés das estruturações constituídas pelo processo de auto-organização intrínsecos à natureza e ao cosmos; assim, abordando a forma do triângulo enquanto estética que através de um mesmo formato triangular constantemente se reinventa e se reconstitui junto à significação conceitual que a própria forma traz consigo através da história enquanto símbolo usado por distintas civilizações, articulando essas cargas simbólicas de significações como reflexão sobre o triângulo e sua constituição enquanto tal, vivenciando o processo criativo enquanto exercício de significação da existência; assim se dá a Triangulogia: um raciocínio que cruza o trabalho desenvolvido e a vivência processual em uma totalidade que desenvolve-se em si mesma.
Contatos:
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Meu trabalho como economista no Dieese
Graduado em economia pela USP em 1989, trabalhei quase quinze anos no cinqüentagenário Dieese, após uma rápida passagem por uma instituição financeira de renome. Hoje estou envolvido com administração de galeria de arte e dando aulas de informática. Naqueles tempos de economista, além de muito trabalho, tive anos de muita luta. Quero compartilhar com os internautas leitores do site “Vivendocidade” um pouco dessa minha experiência tratando de um tema bastante atual que é o da redução da jornada de trabalho. Boa leitura!
O Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) completou, em 22 de dezembro de 2005, meio século de existência. Ele é dirigido pelos sindicatos de trabalhadores brasileiros e vem desenvolvendo pesquisas e assessorias técnicas desde o seu início. Tem como seu diretor técnico o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, que coordena o trabalho de uma grande equipe técnica formada por economistas, sociólogos, estatísticos e engenheiros de produção, entre outros tantos profissionais. Durante 23 anos de sua existência o Diesse teve importante suporte técnico do economista e ex-deputado federal pelo PSDB Walter Barelli. O Dieese possui escritórios regionais em 16 estados brasileiros. Ao longo de sua história essa instituição desenvolveu intenso trabalho na área de negociação e assessoria sindical, banco de dados, educação e pesquisas.
Em alguns dos vários estudos que fiz naquela época apreendi que a luta pela redução da jornada de trabalho começa como uma luta pela sobrevivência. E este tema continua bastante atual. Não se tratava de gerar mais postos de trabalho, mas sim de impedir o massacre das longas horas de trabalho sob condições agressivas e desumanas, que freqüentemente implicavam mortes e mutilações de trabalhadores que desmaiavam de sono sobre as engrenagens das máquinas.
Permitir a realização das pessoas enquanto seres humanos, com a redução da jornada de trabalho, não era apenas um palavreado bonito, mas a busca pelo direito básico da vida.
As sucessivas revoltas operárias no século XIX e a organização dos trabalhadores em sindicatos e partidos começam a gerar regulamentações da jornada de trabalho e sua redução. Em 1847, os ingleses conquistaram a jornada de 10 horas e em 1848, os franceses. A luta dos americanos também foi repleta de violências, como o enforcamento dos 5 operários que em 1886 lutavam, em Chicago, pela jornada de 8 horas. O dia 1º de Maio, em todo mundo, menos nos EUA, é o dia dos trabalhadores, em memória desses mártires. No século XX, as grandes guerras implicaram compensações aos operários, no amadurecimento de políticas de “welfare state” e conquistas sindicais mais substantivas. Vale lembrar que a Convenção número 1 da OIT, lançada em 1919, normatiza a jornada de quarenta e oito horas semanais para os trabalhadores da indústria.
Após os anos 30 e a segunda guerra mundial, as reduções da jornada de trabalho não estavam apenas associadas à questão das condições de vida, mas também ao esforço de geração de empregos e da apropriação dos ganhos de produtividade. Durante o “New Deal”, o presidente americano F. D. Roosevelt reduziu a jornada para 40 horas semanais, como parte do esforço de reversão da crise dos anos 30. De um modo geral, o século XX foi marcado pelas reduções generalizadas das jornadas de trabalho, até os anos 1990.
Caíram tanto as jornadas em relação ao século XVIII, que alguns teóricos, como o sociólogo Domenico De Masi, começaram a projetar a sociedade do tempo livre.
Espero que tenham gostado dessas histórias meio econômicas e que voltem mais vezes a este site se inteirar das novidades.
Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (12/10/2012)
Lápis de santos
Veja alguns dos lindos lápis de santos confeccionados pelo artesão Fran de Alagoas e que a Galeria Pontes comercializa. Eles são feitos em madeira, medem cerca de 17 x 0,5 cm e custam R$ 20,00 cada.
Esses lápis podem ser adquiridos através do e-mail galeria@galeriapontes.com.br, pelo telefone: 11 3129-4218 ou pelo WhatsApp: 11 9 9781-4370.
Boi Paciência: Os rios de nossa São Paulo
A meditação sobre o Tietê – Trecho (Mário de Andrade)
“Eu vejo; não é por mim, o meu verso tomando
As cordas oscilantes da serpente, rio.
Toda a graça, todo o prazer da vida se acabou.
Nas tuas águas eu contemplo o Boi Paciência
Se afogando, que o peito das águas tudo soverteu.
Contágios, tradições, brancuras e notícias,
Mudo, esquivo, dentro da noite, o peito das águas,
fechado, mudo,
Mudo e vivo, no despeito estrídulo que me fustiga e devora.
Destino, predestinações… meu destino. Estas águas
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,
Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses.
Nem as ondas das suas praias cantam, e no fundo
Das manhãs elas dão gargalhadas frenéticas,
Silvos de tocaias e lamurientos jacarés.”
Convidamos você a navegar comigo e com o amigo Pacca pelo site “Vivendocidade” nas curvas dos rios de nossa cidade.
Resgatando a memória de Vila Nova Savóia, situada na Zona Leste, um bairro pouco conhecido até mesmo por seus próprios moradores, devido à dificuldade de identificar seus limites e a inexistência de uma linha de ônibus com seu nome desde a sua formação em 1924. Contudo, o córrego Gamelinha, existente no bairro, é conhecido por todos. Mesmo após a sua canalização em 1991, com a construção da av. Margarida Maria Alves, atualmente av. Dr. Bernardino Brito Fonseca de Carvalho, o nome do córrego é usado para denominar a avenida, mostrando a importância do caminho das águas para a população local. O nome do rio é um referencial antigo, que dificilmente é alterado. Apesar da urbanização ter canalizado muitos cursos d’água, os seus nomes ainda são utilizados pela população para denominar as vias públicas que seguem os seus trajetos. Outro exemplo é o da Avenida Jacu-Pêssego, que recebeu esse nome como herança dos imigrantes japones que na década de 20 se instalaram em uma área verde no extremo leste da capital para produzir pêssegos. Para comercializarem as frutas, abriram uma pequena estrada de terra, à margem do Rio Jacu, que era conhecido pelo nome do pássaro comum naquelas paragens. Só em 1996 a antiga estrada recebeu o nome de Avenida Jacu-Pêssego.
Esse também é o caso das avenidas marginais Tietê e Pinheiros, onde os rios são muito mais importantes e reconhecidos do que a denominação das vias. Curiosamente, esse mesmo fenômeno acontece com as pontes da Marginal Tietê: os nomes de bairros a que dão acesso as pontes são mais usados que o nome oficial. Por exemplo, a antiga ponte da Vila Maria, teve seu nome oficialmente substituído por ponte Presidente Jânio Quadros, mas a maioria dos paulistanos ainda usa o nome antigo.
Aliás, o Tietê, nem sempre se chamou Tietê. Até o início do Século XVIII era o Rio Anhembi, nome de origem indígena, registrado pela primeira vez pelo viajante e Governador do Paraguai, D. Luiz de Céspe des Xeria: “Anhembi quer dizer rio de unas aves animais” – aves que causavam espanto ao europeu com seu unicórnio frontal, os esporões das asas, os pés grandes e o grito que, segundo o Padre Anchieta, lembrava um burro zurrando.
Em Caminhos e Fronteiras, Sérgio Buarque de Holanda nos confirma que “Anhembi quer dizer rio das Anhumas ou de Anhimas”, aves que desde o início do povoamento eram procuradas pelos caboclos, que buscavam nelas o remédio para toda sorte dos males, “Especialmente do unicórnio, mas também dos esporões e até dos ossos, faziam-se amuletos e mezinhas contra ramos de ar, estupor, mau-olhado, envenenamento e mordedura de animais”.
Há os que viam a origem do nome diferente. Para Teodoro Sampaio, Anhembi significaria perdiz, ave que existia em quantidade nos campos de Piratininga. Para Afonso de Freitas, significaria rio de veado, da simbologia dos tupi-guaranis (anhan – correr e anga – alma, espírito) e a fama de mais ágil e veloz do animal.
Em 1748, o nome Tietê foi pela primeira vez registrado cartograficamente no Mapa D’Anville. Referia-se apenas ao trecho situado entre a nascente do rio e o salto de Itu, mas acabou por prevalecer sobre o resto.
Ainda naquele século, o nome Tietê foi associado, por José Gonçalves Fonseca, às aves conhecidas por tetés, semelhantes aos pintassilgos, que eram muito comuns nas margens. Mais tarde, Teodoro Sampaio levantou duas hipóteses: Tietê viria de tiê, a voz onomatopaica de uma família de aves das quais fazem parte o tié-piranga e o tié-juba; ou viria da junção de ty – águas, líquido, vapor -, e ete – verdadeiro -, significando rio bastante fundo, rio verdadeiro -, tratava-se do primeiro curso d’água considerável que o forasteiro encontrava ao penetrar no sertão.
Em 1929, Plínio Ayrosa, em parecer para o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, contestaria essa hipótese, afirmando que o nome Tietê não era indígena, mas dado pelos portugueses, mesmo porque, nem pelo seu volume, nem pela comparação com outros cursos d’água, os índios seriam levados a atribuir-lhe o significado de rio grande Tietê, rio das anhumas, e também das perdizes, dos veados, dos tetés, dos tiés: qualquer que seja a origem do nome, todos nos remetem à fauna abundante que habitava suas margens.
Um afluente do rio Tietê é o Rio Pinheiros. Este foi retificado na primeira metade do século passado, transformado em canal, teve seu curso revertido para comportar um importante projeto de engenharia que proporcionou uma fonte de eletricidade segura para o desenvolvimento da cidade (A Usina Henry Borden)
Já o Pinheiros, tem um afluente bastante conhecido pelos moradores da zona oeste que é o “Pirajuçara”. Trata-se de um termo tupi que significa “juçara de peixe”, através da junção dos termos pirá (“peixe”) e yu’sara (“juçara”).
O Córrego Pirajuçara nasce no município de Embu das Artes, passa por Taboão da Serra e corre no oeste da Região Metropolitana de São Paulo. No município de São Paulo, o Pirajuçara é canalizado passando sob a Avenida Eliseu de Almeida, voltando a emergir próximo à Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, onde deságua no Rio Pinheiros.
Contudo, provavelmente o rio mais destacado historicamente para a cidade é o Rio Anhangabaú, também conhecido nos primeiros tempos de colonização como Córrego das Almas, formava, ao lado do Tamanduateí, os limites naturais do núcleo urbano original de São Paulo, chamado de “Triângulo”. É um pequeno ribeirão que nasce a céu aberto entre a Vila Mariana e o Paraíso, passa pela Avenida São João e deságua no Rio Tamanduateí, nas imediações da Rua 25 de Março. Hoje, o ribeirão encontra-se canalizado e corre debaixo do metrô.
Os índios tinham muito medo desse rio. Atribui-se ao nome Anhangabaú várias origens e significados, mas todos indicam o caráter suspeito de suas águas: Anhangaba: diabrura, malefício, ação do diabo ou feitiço; Anhangabahú: anhangaba-y, rio do malefício, da diabrura, do feitiço; Anhangabahy: o mesmo que anhangá-y, rio ou água do mau espírito. Segundo Teodoro Sampaio, esse rio era para os índios “um bebedouro de assombrações”. Provavelmente com o crescimento da população às suas margens, as suas águas impolutas se tornaram um vetor de doenças para os desavisados. De fato, para o jornalista Levino Ponciano, o temor dos índios explicava-se pelas suas águas salobras que causavam doenças, conforme constatou um exame feito no final do século XVIII. Além disso, na época das enchentes, acreditava-se que o ribeirão transbordava e disseminava mais doenças à população. Em 1790, foi construída uma ponte, a Ponte do Lorena (ou do Piques), que permitia a travessia do vale, depois de ter descido e subido as suas encostas. Em 1892, inaugurou-se o Viaduto do Chá.
Outro córrego que tem história é o Ipiranga. Foi lá a proclamação da independência do Brasil. O riacho, que dá o nome ao bairro onde se situa, tem como nascente o Jardim Botânico de São Paulo e como foz o Rio Tamanduateí. Foi às margens do Ipiranga que foi simbolicamente declarada a Independência do Brasil por dom Pedro, em 7 de setembro de 1822. Com esse ato, o príncipe herdeiro se converteu no primeiro imperador brasileiro, futuramente denominado dom Pedro I.
As nascentes do Ipiranga encontram-se no Parque Estadual Fontes do Ipiranga, reserva natural de mata atlântica encravada em plena zona sul da cidade ao lado da rodovia dos Imigrantes. No entanto, como todos os demais rios metropolitanos, atualmente, o córrego sofre com a poluição, por receber altas quantidades de dejetos industriais e domésticos ao longo de seu trajeto de cerca de 9 km até desaguar na margem esquerda do Rio Tamanduateí. Seu nome veio da junção das palavras tupis ‘y (“água, rio”) e pirang (“vermelho”), significando, portanto, “rio vermelho”.
O Ipiranga é um afluente do Tamanduateí, que em tupi, significa “rio de muitas voltas”. O curso original do rio Tamanduateí explica esse nome. Onde atualmente se encontram a Avenida São João e o vale do Anhangabaú, por exemplo, o Tamanduateí fazia uma curva de sete voltas antes de se encontrar com o seu afluente mais importante, o Anhangabaú. O Tamanduateí nasce na Serra do Mar e deságua no Tietê. Sua bacia hidrográfica possui 320 km2. Seu principal afluente era o Rio Anhangabaú, que atualmente jazem sob a cidade junto com a cultura indígena que os denominou. O modelo de urbanização de São Paulo prescindiu da ocupação da área de drenagem dos rios e de até mesmo de seus leitos por vias de transporte de rodagem. .
O Tamanduateí parece comportar-se de forma rebelde contra a concepção de progresso que o transformou num bueiro a céu aberto, depósito de todo o lixo social em perímetro urbano. Canalizado e poluído ele corre com maior velocidade procurando o rio Tietê para desaguar. Sem ter por onde se espraiar, sem encontrar os remansos que continham sua ânsia de desembocar, ele enche e invade impiedosamente a Avenida do Estado que corre ao seu lado.
Foi às margens do Tamanduateí, no centro velho da cidade, que os jesuítas construíram a primeira capela, rezaram a primeira missa e fundaram a vila de Piratininga, marco inaugural de São Paulo. Até o início dos anos 70, o Tamanduateí demarcou a topografia do poder: a riqueza nas terras altas e a miséria nas baixas. No lado oeste, numa colina triangular, concentrava-se a cidade dos templos cristãos, das confeitarias com nomes franceses e dos sobrados imperiais. No leste, ficavam a várzea, as enchentes e os terrenos pestilentos. Contudo, as terras altas, a começar pela colina histórica, no centro, perderam destaque e charme há muito tempo. Ficou a pobreza, que transbordou para todos os lados.
Esperamos que tenham gostado e que nadem mais vezes nas águas sem paradeiro da internet.
Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (21/08/2012)
Hoje se comemora 15 anos de nosso casamento religioso!
A importância da Escola Sociológica de Chicago e a obra de William Thomas
A consolidação da Escola Sociológica de Chicago, que foi por quase duas décadas a mais importante dos Estados Unidos em sua área e marcou a história da sociologia com um conjunto de contribuições originais e duradouras, tem na teoria social de William Thomas um marco. E isso está no fato dele ter sido um dos primeiros sociólogos americanos que conseguiu unir a teoria à pesquisa de campo, abrindo caminho para o avanço implementado depois pelo trabalho inovador de Robert Park e Ernest Burgess na década de 20.
Como vimos em artigo anterior ao “Vivendocidade” a Universidade de Chicago foi fundada em 1892, com o apoio dos Batistas e da filantropia capitalista e teve Albion Small, um fervoroso praticante deste grande grupo da religião evangélica, como o primeiro diretor de seu Departamento de Sociologia. Os sociólogos de Chicago tiveram a influência de duas forças: por um lado, os preceitos morais do modo de vida de um “bom americano” e, por outro, o poder do capital privado.
Pode-se distinguir três gerações de sociólogos em Chicago. A primeira, vinda desde a fundação dessa Universidade até o fim da Primeira Guerra Mundial, período durante o qual Albion Small manteve a direção do Departamento e do “American Journal of Sociology”. Nesta fase, Small compartilhou o trabalho, no Departamento junto a John Dewey, George Hebert Mead e Thorstein Veblen; todos eles de forte influência na intelectualidade acadêmica americana, mas nenhum era de fato sociólogo; o segundo período corresponde ao de duas grandes figuras da sociologia e particularmente da sociologia urbana, Robert Park e Ernest Burguess, prolongando-se até a década dos 30. Esses dois autores publicaram “Introduction to the Science of Sociology” (Introdução à Ciência da Sociologia), em 1921, contendo a proposta de trabalho que a Escola haveria de seguir durante os próximos anos. Park abandonou a Escola em 1933, data que marca o declínio desta segunda geração, ao mesmo tempo em que começam a surgir outros centros acadêmicos importantes na área da sociologia. O terceiro período corresponde à presidência de William Ogburn, estendendo-se entre 1936 e 1951. Além de introduzir os métodos estatísticos, Ogburn contribui para o estabelecimento da relação entre o Departamento de Sociologia e o governo federal. Seus colegas de trabalho foram na maioria formados pela segunda geração: Everett Hughes, Samuel Stouffer e Louis Wirth e, como estudantes encontram-se Franklin Frazier, Paul Cressey, Howard Becker, todos posteriormente figuras de importância na sociologia americana.
Temos ainda uma quarta geração que, na verdade, desdobra-se em duas: uma correspondente ao chamado interacionismo simbólico, tendo como principal expoente Hebert Blumer, que busca suas raízes nos trabalhos de Hebert Mead, William Thomas, Robert Park e Everett Hughes. Esta linha de trabalho afasta-se dos estudos sobre o urbano, procurando seu objeto de pesquisa na procura do “self”. A outra, associada à figura de Morris Janowitz, retoma, de alguma forma, o interesse teórico e metodológico pelas questões urbanas. Janowitz chefia o Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago entre os anos de 1967 e 1972.
Pode-se dizer que a partir dos anos 20 e início dos 30, se deu a origem ao desenvolvimento de um método de pesquisa na Escola de Chicago. A literatura mostra que nos primeiros tempos seus sociólogos estavam simplesmente inventando métodos de pesquisa, pois isso era uma coisa que não existia. Depois os pesquisadores criaram métodos para si próprios, coletando autobiografias de camponeses, analisando suas cartas ou fazendo entrevistas. Até esse momento, os estudos das relações entre indivíduos e seu meio ambiente permaneciam abstratos. É a partir da incorporação de novas fontes primárias de pesquisa – cartas pessoais, autobiografias, histórias de vida, monografias de bairros, etc. – que se inova no conhecimento direto da realidade humana e social.
Para ilustrar esse fato comentarei o livro clássico da sociologia americana “The Polish Peasant in Europe and America” (O Camponês Polonês na Europa e na América), escrito por William Isaac Thomas em parceria com o sociólogo polonês Florian Witold Znaniecki, publicado em 1918 e reeditado em 1927 e 1958.
Em “The Polish Peasant”, Thomas e Znaniecki procuraram dar uma explicação exaustiva das transformações dos estilos de vida, modos de ver o mundo, modos de percepção e orientações morais que se seguiram à transferência dos camponeses poloneses de suas aldeias nativas para a cidade moderna americana. Nesse trabalho eles empregam novos métodos de pesquisa, entre os quais a coleta de biografias e outros documentos pessoais.
“The Polish Peasant” caracteriza-se por ser um longo e detalhado estudo e que apresenta uma mistura de descrição, análise, especulação teórica e evidência empírica, sendo esta última coletada em jornais, agências de trabalho social, sociedades de migrantes e cartas pessoais.
A “Nota Metodológica” foi apresentada como um capítulo introdutório desta obra e foi dividida em cinco partes. Ela apresenta resumidamente três tipos de fenômenos: o de natureza individual e social, as relações causais e as leis da ciência social, como relações constantes, propiciando as explicações sociais. O fato social é explicado tanto do ponto de vista sociológico (social), como psicológico (individual).
Na parte I os autores definem evolução social como representando a crescente importância que uma técnica consciente e racional tende a assumir na vida social. Nessa parte os autores incorporam a visão de ciência que vem do Pragmatismo americano, onde o conhecimento faz parte da vida prática das pessoas.
Na parte II eles apresentam a idéia de que a teoria social é a análise da totalidade do devir social feitos em uma sistematização que nos permitam compreender as conexões entre esses processos. Mostram também que somente se a teoria social for bem sucedida em determinar leis causais ela poderá se tornar uma base da técnica social. Afirmam também que os resultados sociais da atividade individual dependem, não somente da própria ação, mas também das condições sociais em que é desempenhada; e, portanto a causa de uma mudança social deve incluir tanto elementos individuais como sociais. Destacam que o princípio metodológico fundamental é que a causa de um fenômeno social ou individual nunca é apenas outro fenômeno social ou individual, mas é sempre uma combinação dos dois.
Thomas e Znaniecki mostram na parte III que o resultado final da aplicação e do desenvolvimento sistemáticos das regras metodológicas tem como resultado final um sistema de leis do devir social, em que as definições desempenhariam o mesmo papel que desempenharam na ciência física, construindo instrumentos, ao auxiliar e analisar a realidade, e a encontrar leis, ao auxiliar a compreender o significado científico geral e a conexão das leis. Os autores destacam o problema das leis como sendo o mais importante problema da metodologia apresentam exemplos concretos para provar essa afirmação.
Na parte IV os autores estudados mostram qual será o efeito que ocorrerá caso a teoria social cumpra sua tarefa e avance na descoberta de novas leis que possam ser aplicadas para regular o devir social. Mostram quais são os obstáculos para o desenvolvimento de uma prática social e que a dificuldade mais importante que a prática social tem de superar antes de alcançar um nível de eficiência comparável àquela da prática industrial está na dificuldade de aplicar as generalizações científicas. Afirmam também que, enquanto as situações práticas são concretas, as leis da ciência são abstratas e que o técnico social deve ficar em permanente contato tanto com a vida social como com a teoria social.
Na parte V eles afirmam que seu objeto de estudo é uma classe de uma sociedade moderna e que a seleção da sociedade camponesa polonesa tornou-se ao longo de sua investigação uma seleção feliz. Esclarecem que usaram em sua análise o método indutivo e que a base do trabalho constitui-se de materiais concretos e que somente foi usada alguma discriminação na seleção desses materiais. Concluem assinalando que foram sugeridos por eles oito problemas a serem pesquisados em seu estudo.
Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (21/03/2012)