Três frases curtas de Machado de Assis

Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.”, In “Obra Completa de Machado de Assis”. vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Nota: Conto “O Empréstimo.”

Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.”, In “Memorial de Aires”, 1908.

Dormir é um modo interino de morrer.”, In “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881. Nota: Trecho ligeiramente adaptado do original “preferi dormir, que é um modo interino de morrer”.

Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908)

Sonho domado

Sei que é preciso sonhar.

Campo sem orvalho, seca
A frente de quem não sonha.

Quem não sonha o azul do voo
perde seu poder de pássaro.

A realidade da relva
cresce em sonho no sereno
para não ser relva apenas,
mas a relva que se sonha.

Não vinga o sonho da folha
se não crescer incrustado
no sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas sem deixar nunca
que o sol do sonho se arraste
pelas campinas do vento.

É sonhar, mas cavalgando
o sonho e inventando o chão
para o sonho florescer.

Thiago de Mello (Barreirinha – AM, 30 de março de 1926 – Manaus – AM, 14 de janeiro de 2022)

Mauro Silper: Exposição coletiva “Cores e sensações”

Mauro Silper, artista plástico brasileiro, paisagista contemporâneo autoral, cuja pintura examina a dinâmica da natureza em sua grandiosidade, beleza e alcance em conexão com o ser humano. A poética visual de sua obra se conduz pelos elementos que compõem os cenários urbanos e naturais, conectados com o cotidiano e com o estilo agitado das cidades, convergindo para a relação ideal da humanidade com a natureza preservada. Sua temática pictórica é caracterizada pela presença das montanhosas, lagos e mares, remetendo às vivências nas metrópoles onde residiu. A paisagem em meio a arquiteturas urbanas fluídas e eterizadas é a identidade de sua pintura, na qual permeia toda a natureza, inserida em uma atmosfera de sublimidade, além de um profundo sentido espiritual.

Breve Trajetória Artística

Nos últimos 25 anos, as realizações artísticas englobam 15 exposições individuais, 52 exposições coletivas, 6 premiações, 6 feiras de arte internacionais, 2 bienais de arte contemporânea, presença em 16 livros/catálogos e uma fortuna crítica apoiada em aproximadamente 35 textos de críticos de arte e curadores.

As principais exposições individuais ocorreram no Centro Cultural Câmara dos Deputados (“Quietude Íntima”), Centro Cultural Vallourec (“Luminescências”), Galeria de Arte Beatriz Abi-Acl, representante do artista no Brasil (“Segmentações” e “Intracenas”), na Colorida Art Gallery, representante do artista em Portugal e França (“Mauro Silper – Pintura”), além de exposições coletivas no Museu de Artes e Ofícios e no Museu Inimá de Paula.

Foi agraciado com prêmio aquisição nas edições 2016 e 2018 da Bienal de Arte Contemporânea de Brasília, sendo as obras adquiridas incorporadas a coleção institucional da Pinacoteca do SESC, em nível nacional.

Possui ainda, inúmeros trabalhos em coleções particulares e institucionais, no país e no exterior, como a Fondation Danielle Mitterrand (França), Museu Câmara dos Deputados DF, Vallourec, Museu Histórico Abílio Barreto, entre outras.

Sobre sua obra escreveu Rogério Zola Santiago, mestre em Crítica de Arte pela Indiana University (USA): “O mago das cidades e da natureza mesclada – suavidade e luz permeiam a obra de Mauro Silper. Ele residiu em Nova York quando as Torres Gêmeas estavam sendo construídas, então internalizou o bailado de concretude das megalópoles em contraponto com o fato de que o ser humano, lá, pode se apequenar ou crescer forte.

Permanece o traçado etéreo, que deixa vislumbrar através de tons acrílicos e aguadas impressionantemente expressivas. O insinuado “devoramento” do humano pela paisagem não se concretiza, pois Mauro Silper pinta esperança na colocação filosófica grega do homem numa contextura que sugere a tênue posição na relação com o ambiente, na possibilidade do cataclismo, em suposta lassidão, mas, em implícita vitória. A Arte nos redime (universalmente) na compensação estética do caos sublimado em beleza no qual Silper se desloca, trafega, e nos leva, em abandono inexorável”. (2023)

Brasil – Belo Horizonte

Contatos:
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Mauro Silper Art Studio
Produtora do artista | Cristina Fonseca

Confrontado diante da poesia/ Confrontado ante la poesía

e diante de mim mesmo. Profundas
bordas do mar. Escuros
os seus sobressaltos.
Uma herbívora gaivota sobrevoa.
me sobrevoa.
Confrontado com meus seres queridos,
com minhas queridas amizades.
Tê-los traídos todos eles.
Menos na lágrima desnuda.
Menos no desejo incandescente.
Já sou outro homem.
Alguém que abre portas
e vai embora. Algum outro que não procurei.
Que veio assim e foi me tingindo
desde as meias até o gorro.
Alguém que abre a porta
e se vai. Que vai embora para sempre.

Confrontado ante la poesía

y ante mí mismo. Hondos
costados los del mar. Oscuros
sus sobresaltos.
Una herbívora gaviota lo sobrevuela,
me sobrevuela.
Confrontado con mis seres queridos,
con mis queridas amistades.
Haberlos traicionado a todos.
Menos en la desnuda lágrima.
Menos en el deseo incandescente.
Yo soy otro hombre ya.
Alguien que abre puertas
y se marcha. Algún otro que no busqué.
Que vino así y me fue tiñendo
desde los calcetines hasta el gorro.
Alguien que abre su puerta
y se va. Que ya se marcha para siempre.

Pedro Granados Agüero (Lima – Perú, 1955). Tradução de Antonio Miranda

Minha especialidade é viver – era a legenda

minha especialidade é viver – era a legenda
de um homem (que não tinha renda
porque não estava à venda)

olhar à direita – replicaram num segundo
dois bilhões de piolhos púbicos do fundo
de um par de calças (morimbundo)

E. E. Cummings, (Cambridge, Massachusetts, 14 de outubro de 1894 — North Conway, Nova Hampshire, 3 de setembro de 1962). Tradução: Augusto de Campos (São Paulo, 14 de fevereiro de 1931)

Le Corbusier

         II

Risco à régua
um ritmo reto
retém o rumo
rude da pedra

milimetrado voo
via viaduto vão
respira a planta
trevo sem trégua

calado cálculo
concreto decalca
as ruas na cal
calçadas: calmas

avenidas claras
avançam: vazias
janelas vidradas
fachadas frágeis

pilotis plantados
cubos de granito
blocos de cimento
fixos: edifícios

iluminados traços
de alumínio: vivos
veículos vestidos
de ferros e vidros

gestos e linhas
vínculos e vigas
faixas e listras
cinética imagem

cidade.

Armando Freitas Filho (Rio de Janeiro, 1940), In Dual (1966). Tirado da internet em um site que apresenta uma seleção de cinco poemas dele com curadoria de Luís Araujo Pereira