A base de toda metafísica

E agora, senhores,
Uma palavra eu lhes dou para permanecer em suas memórias e mentes,
Como base, e fim também, de toda metafísica.

(Também, para os alunos, o velho professor,
No final de seu curso apinhado.)

Tendo estudado o novo e o antigo, os sistemas grego e alemão,
Kant tendo estudado e exposto – Fichte e Schelling e Hegel,
Exposto o saber de Platão – e Sócrates, maior que Platão,
E maior que Sócrates buscado e exposto – Cristo divino tenho muito estudado,
Eu vejo reminiscentes hoje aqueles sistemas grego e alemão,
Vejo as filosofias todas – igrejas cristãs e princípios, vejo,
Sob Sócrates claramente vejo – e sob Cristo o divino eu vejo,
O caro amor do homem pelo seu camarada – a atração de amigo por amigo,
Do marido bem-casado e a esposa mãe de crianças e os pais,
De cidade por cidade, e terra por terra.

Walt Whitman (Huntington, Virgínia Ocidental, 31 de maio de 1819 – Camden, Nova Jérsei, 26 de março de 1892)

Monjolo

Chorado do Bate-Pilão

Fazenda velha. Noite e dia
Bate-pilão.

Negro passa a vida ouvindo
Bate-pilão.

Relógio triste o da fazenda.
Bate-pilão.

Negro deita. Negro acorda.
Bate-pilão.

Quebra-se a tarde. Ave-Maria.
Bate-pilão.

Chega a noite. Toda a noite
Bate-pilão.

Quando há velório de negro
Bate-pilão.

Negro levado pra cova
Bate-pilão.

Raul Bopp (Vila Pinhal, atual Itaara – RS, 4 de agosto de 1898 — Rio de Janeiro – RJ, 2 de junho de 1984)

Dança dos Planetas

Ilumina o Sol –
O que transportam de lá seus raios
Para flores e pedras
Tão poderosamente?

Tece a alma –
O que eleva a vida
Da crença à contemplação
De maneira tão ansiante?

Oh procura, tu alma
Em pedras o raio,
Em flores a luz –
Tu encontras a ti mesma.

Rudolf Steiner (Kraljevec, fronteira austro-húngara, 27 de fevereiro de 1861 — Dornach, Suíça, 30 de março de 1925). Trad. Valdemar W. Setzer (VWS); rev. Sonia A. L. Setzer (SALS)

Edmundo, meu pai, 25 anos sem ele

Na data de hoje completam 25 anos do falecimento de Edmundo de Oliveira Matosinho – que, se estivesse ainda entre nós, teria 103 anos. Saudades!

* Dois Córregos/ SP, 13 de maio de 1921 – + São Paulo/ SP, 6 de agosto de 1999

Eterno farmacêutico!

Por sua alma haverá missa em São Paulo nessa terça-feira, 06/08, às 19 horas, na Paróquia Santa Teresinha, localizada na Rua Maranhão, 617 – Higienópolis – Telefone: (11) 3660-1220; e em Ourinhos/ SP, onde meu pai viveu boa parte de sua vida, devido ao feriado municipal (Dia do Santo Padroeiro, Senhor Bom Jesus), será na quarta-feira, 07/08, às 19:30 horas, na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, conhecida por Seminário Josefino (Rua Amazonas, 1.119 – Vila Perino – Telefone: (14) 3335-9495), encomendada pelo primo Ângelo Silva Neto.

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)