Selecionei um trecho do conto chamado “Passarinhada”, escrito pelo artista paraense Valdir Sarubbi, que foi meu saudoso professor de pintura. Ele era um leitor muito dedicado e um profundo conhecedor de literatura. Na última fase de sua vida ele se empenhou em escrever memórias e contos. Neste trecho do seu livro “Estórias paralelas” ocorre um diálogo entre personagens que falam sobre passarinhos e comidas, em especial, o açaí.
(…)
“Levanta o bracinho fino e aponta com o dedo mais fino ainda para o galho abarrotado de frutinhas. Com a outra mão leva as frutas à boca. Os olhos estão no galho repleto e por isso, em vez da boca, a azeitona roxa, quase preta, vai para o terreno entre os lábios e o nariz. Aí, com o acalcamento, espoca. O cíclame matiza o catarro que vai para a boca. O galho está cheio de frutas maduras. Caticó bate no galho. O Zeca aparece correndo, afogueado.
– Caticó, o danado tá lá…
As azeitonas no galho.
– Hum?
– O danado… o curió preto…
– Olha como tem azeitona, Zeca!…
– Num gosto de azeitona…M’impresta o alçapão… Onde está?
– Tá lá…
Zeca de novo, correndo, pegando o alçapão de Caticó, desaparecendo no mato. Pimpim cospe fora uma azeitona. Caticó se volta.
– Que foi, Pimpim? Engoliu caroço?
Pimpim tem o rosto assustado.
– Tomei açaí. Faz mal…
Caticó se volta para o outro galho.
– Intão num come mais.
Pimpim faz cara de choro.
– Hu…hu…hu…
– Chora, não, Pimpim. Vai sentá ali, vai…
Pimpim se afasta, manquejando.
– Vô morrê… Hu…hu…hu…
– Morre nada! Vai pr’ali…
(…)”
Estórias paralelas, 1999, 140 páginas
Valdir Sarubbi (Bragança, Pará, 10 de outubro de 1939 – São Paulo, 8 de novembro de 2000)