Heroismos

Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.
Eu temo o largo mar, rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,
No ser dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e nágua quase assente,
E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!

Cesário Verde (Lisboa, Madalena, 25 de Fevereiro de 1855 — Lisboa, Lumiar, 19 de Julho de 1886), In “Poesias Completas de Cesário Verde”. Rio de Janeiro. Ediouro, 1987. Texto-base digitalizado por Emerson Kamiya

Jorge Luis Borges e o “Livro das mil e uma noites”

Desde a infância, o escritor argentino Jorge Luis Borges foi um ávido leitor do “Livro das mil e uma noites”, cuja tradução, realizada por Richard Burton, constava na biblioteca paterna. Essa tradução foi considerada escandalosa por seu teor erótico em plena era vitoriana. Ao longo da vida, Borges também conheceu as traduções de Antoine Galland, de Enno Littmann, de J.C.Mardrus e de Edward W.Lane, as quais estudou e comparou a fim de extrair de cada uma a contribuição do estilo individual, do estilo de época e da cultura de seus tradutores. O autor argentino se inspirou nos contos árabes para escrever alguns de seus contos, como “Os dois reis e os dois labirintos”, no entanto, ele afirma apenas ter feito a tradução de um conto perdido das noites. Apenas muitos anos depois de sua publicação, ele assume a autoria desse conto. Surge, assim, uma nova forma de intertextualidade: a pseudo-tradução. Neste estudo, é feita uma análise dos temas, das estruturas e do estilo próprios dos contos árabes que Borges retomou através de várias formas de intertextualidade, modernizando um gênero literário atemporal: o conto árabe das “Mil e uma noites”.”

Por Thaís de Godoy Morais, In “Livro das mil e uma noites” e suas relações transtextuais com a obra de Jorge Luis Borges – 29 agosto 2017

Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, Suíça, 14 de junho de 1986)

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Oswald de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954), In “”Poesia Pau Brasil”, 1925

Seis pensamentos de José Cândido de Carvalho

Digo, modéstia de lado, que já discuti e joguei no assoalho do Foro mais de um doutor formado. Mas disso não faço glória, pois sou sujeito lavado de vaidade, mimoso no trato, de palavra educada.”

Só de uma regalia não abri mão nesses anos todos de pasto e vento: a de falar alto, sem freio nos dentes, sem medir consideração, seja em compartimento do governo, seja em sala de desembargador.”

A beleza dela morava em casa avarandada, com um jardim de bogari que ainda hoje, tantos anos passados e rolados, remexe em minhas lembranças.”

Esse menino tem todo o sintoma do povo de política. É invencioneiro e linguarudo.”

De letra eu nem queria sentir o cheiro. O trabalho que Ponciano mais apreciava era o andar na poeira de um bom rabo de saia, serviço que ainda hoje é de minha especial inclinação.”

Meus dias no Sossego findaram quando fui pegado em delito de sem-vergonhismo em campo de pitangueiras.”

José Cândido de Carvalho (Campos dos Goytacazes, 5 de agosto de 1914 — Niterói, 1 de agosto de 1989)

João Guimarães Rosa: Frases de seus escritos e discurso

Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.” In “Grande Sertão: Veredas”.

Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria…
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos…
Essa… a alegria que ele quer
“.

O mundo é mágico.
As pessoas não morrem, ficam encantadas
.” Nota: Frase dita no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 16 de novembro de 1967.

Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar.”

João Guimarães Rosa (Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967)

Casa onde nasci, Vila Odilon, Ourinhos: Como ela está nos dias atuais

Essa casa fica na esquina da Rua Padre Rui Cândido da Silva com a Rua Independência, ao lado da Praça Ítalo Ferrari e bem próxima da Paróquia Santo Antônio (Diocese de Ourinhos-SP).

Fotografias tiradas na quinta-feira passada, dia 22/08, pela amiga Ana Maria Bengozi, e enviadas por WhatsApp