Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.
Bendito o riso assim que se desata
– Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!
Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos…
Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh’alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!
Augusto dos Anjos (Engenho Pau D’Arco, Vila do Espírito Santo, atual município de Sapé, Paraíba, 20 de abril de 1884 – Leopoldina, Minas Gerais, 12 de novembro de 1914). In “Eu e Outras Poesias”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998