Inclinado nas tardes lanço as minhas tristes redes
aos teus olhos oceânicos.
Ali se estira e arde na mais alta fogueira
a minha solidão que esbraceja como um náufrago.
Faço rubros sinais sobre os teus olhos ausentes
que ondeiam como o mar à beira dum farol.
Somente guardas trevas, fêmea distante e minha,
do seu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.
Inclinado nas tardes deito as minhas tristes redes
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.
Os pássaros noturnos debicam as primeiras estrelas
que cintilam como a minha alma quando te amo.
Galopa a noite na sua égua sombria
derramando espigas azuis por sobre o campo.
Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973)