Inclinado nas tardes

Inclinado nas tardes lanço as minhas tristes redes
aos teus olhos oceânicos.

Ali se estira e arde na mais alta fogueira
a minha solidão que esbraceja como um náufrago.

Faço rubros sinais sobre os teus olhos ausentes
que ondeiam como o mar à beira dum farol.

Somente guardas trevas, fêmea distante e minha,
do seu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.

Inclinado nas tardes deito as minhas tristes redes
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.

Os pássaros noturnos debicam as primeiras estrelas
que cintilam como a minha alma quando te amo.

Galopa a noite na sua égua sombria
derramando espigas azuis por sobre o campo.

Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973)

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 60 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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