Uma arte

A arte de perder não tarda a aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
e a perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
Se a arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde passaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarde a aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta. Nenhum desastre.

– Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente;
A arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda – Escreva isso! – lembre desastre.

Elizabeth Bishop (Worcester, Massachusetts, EUA, 8 de fevereiro de 1911 – 6 de outubro de 1979)

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 59 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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