Preparando o desfecho


tudo veio do branco
O sonho, o verso, o Nico,
o papel, eu mesmo vim
do branco, em ondas do além,
num batuque distante.
E uma lenha foi queimando
com o sol e o som ritmado.
Muita fumaça cor de cinza fez-se.
Aquilo chegava até aqui bem claro.
O preto chegou para atrapalhar.
Veio brinca-brincando, pontinhos,
e dele fez-se a escrita, a bic.
Betume, grafite, nanquim.
O sujo virou pintura: um pássaro,
um rato, um mostro, um vírus –
a comunicação ficou complicada:
um filtro criado por um japonês
melhorou deveras e o robô-menino
aprendeu uma nova língua
– o inglês – e até viajou de avião.
Viu Mickey na Disneylândia.
De náufrago virou um país
e criou este livro que ora apresento.
Atenção: mantenham a luz verde
da caixa sempre acesa
que a criança quer falar
pelo micro com vocês, quer crescer,
quer dizer, aos poucos, o que é
que tem do lado de lá…
na ilha que se encontra quando
se passa dessa para uma outra
dimensão da vida além da nossa.
Seu trabalho é tecer um imenso
tapete multicolorido e todo
desenhado de formas antigas
e históricas, que dizem muito.
Como aquele sonho que contou
onde um imenso bloco de gelo se
desprendeu e escorregou morro
abaixo fazendo a caneta nanquim
vazar e manchar a cama de tinta.
Quem fornece a linha para o tapete é
uma imensa aranha, que fica no oriente
do mundo como um satélite em órbita.
Às vezes, na noite, ela se adentra
em nossos apartamentos e deita
sua teia sobre nós, enfumaçando
nossos sonhos e nos assustando.
Seu mundo parece uma tôca quente
de cabeleireiro que suga tudo
que é ruim, feio e sujo na vida.
Aquele menino um dia cresceu e
foi trabalhar com coisas difíceis e áridas.
Vivia reunido pensando no mundo-trabalho.
No caminho de volta do Hotel-fazenda,
na crise, encontrou uma estrada cheia
de flores vermelhas nas árvores,
(Meio que dizendo que tudo estava bem e
que o campo trabalhava por nós) e,
no fim da linha, uma cidade acinzentada e
medonha parecendo um enterro em cujo
carro fúnebre estava ele mesmo, em
seu delírio de vidro. Por fim, em casa, não
encontrava a chave na mala confusa.
Precisou da ajuda bem-vinda do anjo amigo.
Quando entrou encontrou a paz e
o tempo necessário para respirar e refletir.
Por isso segue escrevendo versos:
esse é o seu verdadeiro remédio azul.
Muito ainda se tem a dizer.
O difícil é começar

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 59 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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