Margens de 22: Presenças Populares – Sesc Carmo

A fruta só dá no seu tempo.
Yalorixá Stella de Oxóssi

Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo sediou a Semana de Arte Moderna. A programação cultural ofertada na ocasião era diferente de tudo o que havia sido até então apresentado naquele espaço. No saguão do teatro aconteceu uma exposição de artes plásticas que, juntamente com o restante da programação, que incluía música e literatura, incomodou o público visitante. Estavam ali reunidas obras que se propunham a romper com os padrões estéticos vigentes à época e inaugurar uma arte genuinamente brasileira.

Apesar de moderna, a Semana de 22 não exibiu peças de teatro, obras fotográficas e cinematográficas e não abarcou a música popular – linguagens artísticas que ficaram às margens do evento. Mais do que isso, hoje podemos afirmar que ali estava representada apenas uma parte do ambiente urbano e cultural que culminou naquilo que hoje conhecemos como modernidade. Do lado de fora do Municipal, mulheres, homens, crianças, trabalhadores urbanos, famílias, cordões carnavalescos e irmandades se ocupavam, naquele momento, de viver de modo digno numa cidade em plena transformação. O evento refletia, de certa forma, o ambiente de desigualdades e segregação que se seguiu à abolição da escravidão em São Paulo.

Essa dupla marginalização – a das linguagens artísticas e tecnológicas e a do público, alheio ao que ali se passava – inspira a exposição Margens de 22: presenças populares. Nela, acionamos materiais históricos e obras atuais de forma a reconstruir, de maneira mais ampla e inclusiva, o ambiente urbano e cultural que culminou naquilo que hoje conhecemos como modernidade. Não é à toa que a exposição destaca as presenças. Desejamos privilegiar, na noção de margem, o sentido de dar lugar, de criar espaço. Em outras palavras, a exposição aposta em dar a ver a presença popular e suas manifestações.

Margens de 22: presenças populares oferece imagens documentais e artísticas cujo tema é, direta ou indiretamente, a população negra em suas relações com o espaço construído e com outras comunidades urbanas. Destaca, além disso, a multiplicidade de autores negros que individual ou coletivamente nos legaram imagens, textos e músicas que dão conta da diversidade de percepções e vivências que compõem a vida coletiva na capital paulista.

No ano em que se celebra o centenário Semana de 22, revisitá-la nos permite ver, com otimismo, um presente culturalmente mais diverso que o passado – o que nos convida a projetar futuros mais abundantes. Esperamos com esta exposição dar margem a falatórios, visibilidades e consciências sobre quem fomos, quem somos e para onde vamos.

Por Alexandre Araujo Bispo, Joice Berth e Tadeu Kaçula, curadores da exposição Margens de 22: presenças populares.

Alexandre Araujo Bispo
Antropólogo, crítico de arte, curador e educador independente. Pesquisa práticas de m emória com foco em fotografia amadora, fotografia de família, cultura visual e arquivos pessoais; artes visuais com ênfase em poéticas afro-brasileiras e imaginários urbanos. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte; Pesquisador do Coletivo ASA – Artes, Saberes, Antropologia; membro do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da UFSB.

Joice Berth
Arquiteta e urbanista, psicanalista em formação, escritora, assessora política e colunista, co-curadora da exposição Casa Carioca do Museu de Arte do Rio, jurada do Prêmio de Arquitetura do Instituto Ruy Ohtake/Akzonobel/ IAB e do Prêmio Marie Claire/Avon para práticas contra a violência doméstica.

Tadeu Kaçula
Sambista, Sociólogo, Pesquisador e Escritor. Mestre e doutorando em mudança social e participação política pela Universidade de São Paulo, especialista em cultura afro diaspórica e patrimônio artístico-cultural afro paulistano.

Serviço

Margens de 22: presenças populares

Local: Sesc Carmo
Abertura: 27 de outubro, às 18h
Período expositivo: 28 de outubro de 2022 a 24 de fevereiro de 2023
Horário de visitação: Segunda a sexta, das 10h às 19h – exceto feriados | Entrada gratuita
Acessibilidade: obras táteis, videoguia e audioguia
Classificação indicativa: Livre

No dia da abertura, haverá serviço de van disponível até o metrô a partir das 20h
É necessário levar seu próprio fone de ouvido.

Agendamento para grupos: segundas e terças-feiras: às 10h e às 16h com duração de 2hrs (com até 40 pessoas) | quinta-feira: às 10h (com 2 h de duração, até 20 pessoas) | sexta-feira: às 16h (com 2h de visitação, até 20 pessoas).
Para agendar escrever um e-mail para agendamento.carmo@sescsp.org.br

Visitas mediadas para grupos espontâneos: Terças, quintas e sextas-feiras: das 12h30 às 13h30

Sesc Carmo
Rua do Carmo, 147, Sé – São Paulo (sescsp.org.br/carmo)

Exposição indicada para o blog por Gejo, o Maldito, que afirmou via WhatsApp: “Tenho uma expo no Sesc Carmo dia 27”.

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 59 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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