Bairros da cidade de São Paulo, uma homenagem

Dando seqüência a minha colaboração periódica ao site “Vivendocidade” resolvi contar um pouco das histórias e das peculiaridades de alguns bairros paulistanos me baseando em leituras que fiz de diversas publicações. Entre elas o documento “Índice de Bairros“, do Legislativo Municipal; o livro “São Paulo: 450 bairros, 450 anos”, do jornalista Levino Ponciano; o site da Prefeitura Municipal de São Paulo e a Wikipédia, a enciclopédia livre da internet.

Muitos fatos e curiosidades dos bairros paulistanos podem ser lembrados. Por exemplo, que parte do bairro do Bixiga pertencia, na segunda metade do século XVIII, a Antonio Bexiga, vítima de varíola, doença conhecida popularmente por bexiga. Foi assim que surgiu o nome de um dos bairros mais conhecidos de São Paulo. O Brás, por sua vez, teve início na chácara de José Brás, onde, no início do século XIX, foi pedida a edificação de uma capela em homenagem ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Essa chácara ficava à margem de uma estrada que levava à Penha, com um trecho do caminho conhecido como caminho do José Brás que, depois, passou a ser denominado rua do Brás, conhecida hoje como avenida Rangel Pestana.

Já a história do Bom Retiro é marcada pela chegada dos judeus foragidos da perseguição dos nazistas no final dos anos 30, com sua vinda se acentuando durante os duros anos da Segunda Grande Guerra. Foram eles os responsáveis pelo grande progresso do bairro, sendo pioneiros na venda em prestações em suas lojas de roupas. O bairro de Ermelino Matarazzo tem por peculiaridade aniversariar no Dia do Trabalho, onde é organizada a maior festa popular deste dia, ficando atrás somente das comemorações das centrais sindicais. O nome do bairro é uma homenagem ao neto do conde Francisco Matarazzo, proprietário das indústrias Matarazzo, que atraiu para São Paulo, na década de 40, milhares de brasileiros e imigrantes em busca de emprego.

O bairro do Jardim Brasil, no Distrito de Vila Medeiros, nasceu de uma das duas fazendas de um visionário, o aviador Eduardo Pacheco Chaves, a chamada Fazenda Guapira (de onde nasceram os bairros do Jaçanã, Parque Edú Chaves, Jardim Brasil e outros). A outra fazenda, hoje no município de Guarulhos, se chamava Fazenda Cumbica, e ficava no mesmo local onde abriga hoje um dos maiores aeroportos brasileiros. A escola de pilotagem de Eduardo, que funcionava no terreno da fazenda, chegou a abrigar um grande hangar para os aviões, e obteve reconhecimento da sociedade da época. Assumiu um grande financiamento junto ao Banco do Brasil para a construção do primeiro aeroporto paulista, mais devido às inúmeras dificuldades encontradas na época, o projeto não foi efetivado. Inspirou, no entanto, a construção do Aeroporto Campo de Marte, mais próximo da região central, e não sujeito às dificuldades encontradas na região de origem.

Por fim, conheci a história da Mooca, bairro fundado em 1556, quando os jesuítas construíram uma ponte sobre o rio Tamanduateí. Mooca, do tupi-guarani significa “faz casa”, é uma referência à história dos índios que exclamavam “Mooca!” ao verem os brancos construindo suas casas naquela região. De 1870 a 1890, chegaram os imigrantes, com destaque para os italianos que montaram as primeiras fábricas de massa na região.

Dos cerca de cem bairros pesquisados observei que as comemorações de seus aniversários concentram-se no mês de outubro, com 19 bairros aniversariando, em seguida vem os meses de maio e setembro, com 13 aniversários cada. O menor número de bairros aniversariantes aparece no mês de fevereiro, com apenas dois bairros em festa. Neste mês de março são cinco os bairros em que se comemora a sua fundação: Pacaembu, Pedreira, Jardim Maringá, Indianópolis e Saúde.

O Pacaembu é um bairro nobre e sua história remonta ao século XVI, quando a Sesmaria do Pacaembu foi doada aos jesuítas por Martim Afonso de Sousa que, na época, a subdividiam em Pacaembu de Cima, Pacaembu do Meio e Pacaembu de Baixo. Os religiosos resolveram catequizar os índios da região e para tanto estabeleceram-se em várias aldeias da região. Uma delas situava-se próxima de um riacho que sofria inundações freqüentes. Era o “paã-nga-he-nb-bu”, ou seja, Pacaembu, que em tupi-guarani significa “atoleiro” ou “terras alagadas”.

Como a maioria dos bairros paulistanos ele formou-se do loteamento de diversas propriedades rurais. Com o passar dos anos, o velho sítio do Pacaembu, antes isolado e coberto por vegetação, foi subdividido em pequenas chácaras que cultivavam em sua maioria o chá.

No ano de 1912 a empresa inglesa “City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited” adquiriu terrenos na cidade, e uma dessas áreas seria o futuro bairro do Pacaembu. Essa companhia anunciava a criação de bairros baseados nos princípios básicos da “garden-city” (cidade-jardim), causando alvoroço entre os paulistanos. Por estar em um vale, a “City” enfrentou diversos desafios, como o terreno acidentado e as dificuldades de logística e transportes, pois na época eram utilizados burros de carga.

As primeiras modificações na região foram a canalização do ribeirão Pacaembu, a formação da primeira via do bairro, a Avenida Pacaembu, além da drenagem e aterramento de grandes áreas. O bairro foi projetado de acordo com o modelo cidade-jardim, através de ruas de traçado sinuoso, grandes terrenos e áreas ajardinadas. Houve também melhorias em eletricidade, na rede de água e de esgoto.

Em 1935, a empresa inglesa doou ao poder público um terreno 75 mil m² para a construção do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (ou Pacaembu). Projetada pela Companhia Severo e Villares a obra foi concluída em 1938, sendo inaugurada em 27 de abril de 1940, com a presença do então presidente da República Getúlio Vargas, o qual foi recebido por estrondosa vaia pelos paulistas. Na época era o maior estádio da América Latina.

Possui uma população de perfil bairrista, representada pela “Associação Viva Pacaembu por São Paulo” e “Associação dos Moradores e Amigos do Pacaembu, Perdizes e Higienópolis”, que defendem os interesses de seus moradores. Estas ONGs já lutaram contra mudanças na resolução do tombamento histórico do bairro, construção de estabelecimentos educacionais, verticalização do bairro, poluição visual e eventos no estádio do Pacaembu.

De acordo com o jornalista Levino Ponciano em seu livro “São Paulo: 450 bairros, 450 anos” no dia 9 de março fará aniversário também o bairro de Pedreira, localizado no extremo da zona sul da cidade de São Paulo e às margens da Represa Billings. Com quase 128 mil habitantes esse bairro começou a se formar a mais de meio século atrás e teve seu nome inspirado nas imensas pedreiras que sempre existiram nas suas imediações. Ele tem como principal atrativo a Represa Billings, que foi construída em 1920 por um engenheiro americano de mesmo nome e possui um imenso reservatório com quase 10 bilhões de litros de água e com 127 km² de superfície. Faz divisa com a Cidade Ademar, cujo nome indica ser uma homenagem ao engenheiro responsável pelo loteamento do local, nos anos 50, quando o lugar era um grande descampado. No entanto outra versão diz que o nome vem do ex-governador Ademar de Barros, proprietário de uma grande fazenda na qual o bairro foi iniciado.

Já em 15 de março o Jardim Maringá faz aniversário. Localizado na zona leste da capital paulista ele tem a sua origem a partir de um loteamento de uma área muito extensa e que deu origem também a Vila Matilde. Quem implantou o loteamento que originou esse jardim foi Juvenal Ferreira, cunhado de Dona Escolástica Melchert da Fonseca – que era a proprietária da gleba original e que ia desde a Guaiaúna até a Fazenda do Carmo, conhecida hoje como Parque do Carmo.

Uma peculiaridade deste mês de março é que no mesmo dia 26 será comemorado o aniversário de dois importantes bairros, Indianópolis e Saúde, ambos localizados na zona sul. Conforme relata Levino Ponciano em seu livro sobre os bairros paulistanos, o primeiro localiza-se em uma região que pertencia, no fim do século XIX, a Joaquim Pedro Celestino e à Companhia Territorial Paulista e que foi loteada com a chegada do bonde a vapor que ia até Santo Amaro. Seu nome é uma homenagem à cidade norte-americana de Indianápolis. A sua história mostra que ele começou a crescer nos primeiros anos do século XX e em 26 de março de 1933 deu-se o início da construção da primeira igreja do bairro, a de Nossa Senhora Aparecida, ficando a data como marco de sua fundação. Já o bairro da Saúde era, nos primeiros tempos de São Paulo, apenas parte de um caminho onde os tropeiros faziam parada. Com o passar dos tempos foi construída a Capela de Santa Cruz, passando mais tarde a ser denominada paróquia de Nossa Senhora da Saúde, sendo que, em 1928, iniciou-se a construção de uma grande igreja no local. Um de seus marcos é o famoso Bosque da Saúde, iniciado no início do século XIX e freqüentado por muitos paulistanos. Seu desenvolvimento se consolidou na década de 1970, trazendo grandes edifícios e um comércio pujante.

Artigo publicado originalmente no site “Vivendocidade”, de Carlos Correa Filho (19/02/2012)

Autor: ematosinho

Eduardo Matosinho é economista e sociólogo com bacharelado pela Universidade de São Paulo (USP). Tem 59 anos e é casado com Luiza Maria da Silva Matosinho e com ela tem um filho de nome João Alexandre da Silva Matosinho. Trabalha atualmente na Galeria Pontes (https://www.galeriapontes.com.br/), onde já está há 17 anos.

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