Galeria Pontes apresenta seu acervo de Antônio Poteiro

Poteiro – Antônio Batista de Sousa (Antônio Poteiro) nasceu em Santa Cristina de Pousa (Portugal) no ano de 1925 e faleceu em 8 de junho de 2010, aos 84 anos. Chegando ao Brasil ainda criança, morou sucessivamente em São Paulo e Minas Gerais, viveu na Ilha do Bananal entre os Carajás e, finalmente, radicou-se em Goiânia. Ganhando a vida como fabricante de cerâmica utilitária (de onde lhe adveio o epíteto de Poteiro), aos poucos foi imprimindo qualidade artística a seus potes, estimulado por Antonio de Melo e pela pintora e folclorista Regina Lacerda. Com o passar dos anos muitos de seus potes assumiriam a condição de autênticas esculturas em cerâmica, superando pela carga estética sua condição primeira de simples recipientes caseiros para revelar, na forma cada vez mais complexa e na elaborada ornamentação, uma imaginação dominada pelo insólito e o fantástico. Passando posteriormente a pintar, a conselho de Siron Franco e de outros artistas goianos, levou para a pintura os mesmos elementos utilizados em suas peças de cerâmica, priorizando uma temática nascida do sonho e do pesadelo. É, dentre os artistas brasileiros, dos mais conhecidos e apreciados no exterior, em função do grande número de exposições internacionais de que tem participado desde 1972.

Bunico

O canto dos pássaros anunciou
E a mata em revoada: uno, mais um
Meu filho chegou…
Bunico – mamãe disse no dezembro.
Meu primeiro sobrinho, no passado, como escrevi na porta
Do guarda-roupa de casa em Ourinhos: Biriba.
É sorte grande ver um rebento chegar:
Boneco, buneco, bunico,
Martim, Tim, Nico, Nenê – Tantos pássaros.
Um pandeiro por tocar e uma peteca em repouso esperando
Seu toque mágico com as mãos firmes que Deus te deu.
Um séquito de aves na praça que meu pai gostava
E onde conheci tua mãe e comecei a sonhar contigo,
Te esperam para a comitiva que te seguirá.
O pio da mata ecoou no ventre da mãe Luiza e te acalentou.
O girino, o ovo, o feto, o bebê, o homem, o ser.
A mágica da vida e a eterna música do tempo.
No belo canto do curió e do uirapurú.
A Amazônia, o Pantanal, a mata ciliar do Paranapanema,
As curvas do pai Tietê, o céu de minha terra que é São Paulo
Que a todos recebeu e que é tua também.
As veredas de um João e o os Severinos de outro.
O Piauí todo correndo em suas veias.
Portugal e Holanda: tantas histórias
Do vaqueiro Pedro Branco e do caipira Edmundo de Dois Córregos
Da Maria no céu e da Raimunda na terra de Campo Maior.
Um João para nos ajudar a nos redescobrir.

Rua Alagoas, 29/Dez/2005.

Livros de Edna Matosinho de Pontes: “Eu me ensinei” e “A xilogravura popular”

Eu me ensinei – Narrativas da criatividade popular brasileira

Sinopse: Em “Eu me ensinei”, os artistas são todos autodidatas, mestres de um saber primoroso e intuitivo. A mais pura arte popular brasileira. Escrito com base em mais de cem entrevistas com artistas populares feitas ao longo de anos. Percorrendo diferentes estados brasileiros coletando documentação fotográfica, este livro é um panorama animador que mostra que a arte popular está viva e em constante renovação.
Preço: R$ 300,00

A xilogravura popular: Xilógrafos e poetas de cordel
(Feito em parceria com Fabio Magalhães)

Sinopse: “A Xilogravura Popular – Xilógrafos e Poetas de Cordel”, reúne um expressivo conjunto de xilogravuras criadas por artistas populares ligados ao Cordel. A profusão temática reunida na exposição realizada no Museu Nacional da República, em Brasília (novembro de 2018 – fevereiro de 2019) e aqui reproduzida, revela a extraordinária riqueza do imaginário popular do sertão nordestino. Há, também, obras de artistas plásticos que, embora não façam parte da denominada arte popular, produziram xilogravuras com linguagens de ‘parentesco’ com o Cordel. A maioria das gravuras expostas, apesar de retratar histórias criadas por poetas populares e apresentar personagens e alegorias vinculados aos folhetos de Cordel, foi feita para ser apreciada como obra de arte autônoma e não mais como ilustração dos folhetos, que obedeciam o pequeno formato dos clichês de 15 x 10,5 cm. Vários fatores levaram a xilogravura de Cordel a tornar-se independente do folheto e ganhar prestígio como obra de arte. É importante salientar que a independência se deu sem abdicar da poética e do modo de fazer que caracterizam o Cordel. A mudança ocorreu quando a xilogravura popular despertou interesse de intelectuais e de artistas modernos e, também, quando muitas editoras abandonaram a xilogravura e passaram a substituir as capas dos folhetos por clichês fotográficos e pela zincogravura, com imagens mais ‘nítidas’ e de fácil percepção. Entretanto, os gravadores populares ao aceitar encomendas em formados de maior dimensão mantiveram o mesmo modo de entalhe da madeira, alguns conservaram, até mesmo, as mesmas ferramentas, e as imagens criadas permaneceram aquelas oriundas das crenças e das histórias que alimentavam os folhetos.Na poesia rimada e na xilogravura surgem histórias e imagens fantásticas – da vida amorosa; dos milagres e castigos de Deus; de proezas diabo e da luta do bem contra o mal; de cangaceiros, reis e princesas; de monstros sobrenaturais, como o lobisomem; de sátira e crítica social; da fome e da fartura; da força da natureza, das secas que flagelam a região.
Preço: R$ 150,00

Esses livros podem ser adquiridos através da Galeria Pontes (galeria@galeriapontes.com.br ou 11 3129-4218) ou através do site da Livraria Martins Fontes (Clique aqui)

Preparando o desfecho


tudo veio do branco
O sonho, o verso, o Nico,
o papel, eu mesmo vim
do branco, em ondas do além,
num batuque distante.
E uma lenha foi queimando
com o sol e o som ritmado.
Muita fumaça cor de cinza fez-se.
Aquilo chegava até aqui bem claro.
O preto chegou para atrapalhar.
Veio brinca-brincando, pontinhos,
e dele fez-se a escrita, a bic.
Betume, grafite, nanquim.
O sujo virou pintura: um pássaro,
um rato, um mostro, um vírus –
a comunicação ficou complicada:
um filtro criado por um japonês
melhorou deveras e o robô-menino
aprendeu uma nova língua
– o inglês – e até viajou de avião.
Viu Mickey na Disneylândia.
De náufrago virou um país
e criou este livro que ora apresento.
Atenção: mantenham a luz verde
da caixa sempre acesa
que a criança quer falar
pelo micro com vocês, quer crescer,
quer dizer, aos poucos, o que é
que tem do lado de lá…
na ilha que se encontra quando
se passa dessa para uma outra
dimensão da vida além da nossa.
Seu trabalho é tecer um imenso
tapete multicolorido e todo
desenhado de formas antigas
e históricas, que dizem muito.
Como aquele sonho que contou
onde um imenso bloco de gelo se
desprendeu e escorregou morro
abaixo fazendo a caneta nanquim
vazar e manchar a cama de tinta.
Quem fornece a linha para o tapete é
uma imensa aranha, que fica no oriente
do mundo como um satélite em órbita.
Às vezes, na noite, ela se adentra
em nossos apartamentos e deita
sua teia sobre nós, enfumaçando
nossos sonhos e nos assustando.
Seu mundo parece uma tôca quente
de cabeleireiro que suga tudo
que é ruim, feio e sujo na vida.
Aquele menino um dia cresceu e
foi trabalhar com coisas difíceis e áridas.
Vivia reunido pensando no mundo-trabalho.
No caminho de volta do Hotel-fazenda,
na crise, encontrou uma estrada cheia
de flores vermelhas nas árvores,
(Meio que dizendo que tudo estava bem e
que o campo trabalhava por nós) e,
no fim da linha, uma cidade acinzentada e
medonha parecendo um enterro em cujo
carro fúnebre estava ele mesmo, em
seu delírio de vidro. Por fim, em casa, não
encontrava a chave na mala confusa.
Precisou da ajuda bem-vinda do anjo amigo.
Quando entrou encontrou a paz e
o tempo necessário para respirar e refletir.
Por isso segue escrevendo versos:
esse é o seu verdadeiro remédio azul.
Muito ainda se tem a dizer.
O difícil é começar

Rodrigo Pecci: São Paulo e Fugindo

Rodrigo Pecci nasceu em Porto Alegre em 1976. Atualmente mora e trabalha em São Paulo, capital. Por dez anos atuou como técnico, impressor e professor de gravura em metal no Museu do Trabalho, em Porto Alegre, trabalhando com artistas como Maria Tomazelli, Eduardo Haesbaert e Wilson Cavalcanti. Participou de diversas exposições e salões no Rio Grande do Sul, entre elas “Olhar Intimista”, da exposição “Diálogos” em 2004, que ocorreu simultaneamente em Porto Alegre, na Casa de Cultura Mário Quintana, e em Quilicura, Chile. Foi vencedor do Prêmio Açorianos/ Artes Plásticas – Destaque em Gravuras, no ano de 2008. Ilustrou dois livros do escritor Altair Martins, “A Parede no Escuro” (2009) e “Enquanto Água” (2011). Lançou, em 2010, um livro de desenhos da coleção Gafanhoto. Em 2012 participou como artista convidado do acervo da Galeria Logo em São Paulo com a exposição “Lista”. Rodrigo trabalhou no Instituto Tomie Ohtake e no Centro Cultural Carlos Oswald, como professor de gravura. Foi um dos artistas da coletiva “As Margens do Centro”, no Estúdio Lâmina, onde também teve sua exposição individual “Desajustados … Nômades… Andarilhos…” em 2011, também em São Paulo. Em 2015, na Matilha Cultural em São Paulo, teve sua exposição individual intitulada “Fila da Sopa”. Em 2016 se muda para New Orleans, Estados Unidos, para uma temporada de um ano onde participa de uma residência no Joan Mitchell Center, realiza a exposição individual “Distant Gaze” na May Gallery e participa de 3 exposições coletivas: “Synopsis of an Urban Memoir” no Andrew Freedman house, no Bronx, NY, “Passenger” em New Orleans e “Jazz, Rock’n Roll & Fashion 2D” em NY.

Descrição das obras:
“São Paulo” – PVA s/ madeira – 90 x 90 cm – 2019
“Fugindo” – óleo s/ tela – 40 x 30 cm – 2018

Contatos:
www.facebook.com/rodrigo.pecci.798
www.instagram.com/rodrigo_pecci
rodrigoepecci@gmail.com
Cel.: (11) 9 5050-0057

Crônica de Fernando Pacheco Jordão: Salmão defumado no deserto

Fui acordado às 4 horas da manhã para a refeição que, até hoje, é a de memória mais extraordinária de minha vida. Foi no Egito, numa viagem toda ela cheia de surpresas e deslumbramentos. Fomos chamados, minha mulher e eu, àquela hora, para o passeio mais esperado da viagem. Embarcamos numa van, com uns 20 ingleses muito afáveis, nossos companheiros de aventura, e viajamos alguns quilômetros por estrada de terra, a partir do hotel em Luxor. Uns 20 minutos depois, estávamos todos apertados numa nacelle, esperando os preparativos para a decolagem de um grande balão multicolorido, cujo bojo lentamente se enchia de ar quente. Completada a operação, subimos, céu ainda escuro. À medida que o balão ganhava altura, o sol magicamente se erguia junto, na linha do horizonte. Durante alguns minutos, em magnífico silêncio, pairamos sobre as tumbas dos faraós do Vale dos Reis. A grande surpresa nos aguardava na aterrissagem. Montada ali no deserto, uma mesa com o nosso breakfast: finas lâminas de salmão defumado, pão preto e – não podia faltar! – um champanhe gelado. E ainda torradas, manteiga, chá e café com leite. Pena que não veio Peter O´Toole, como Lawrence da Arábia. Nada é perfeito, mas valeu cada minuto, cada libra esterlina. E o Egito vale muitíssimo a pena, mesmo sem o requinte de um breakfast inglês no meio do deserto.

Fernando Pacheco Jordão (1937 – 2017) faleceu em São Paulo aos 80 anos. Atuou no jornalismo desde 1957, quando iniciou sua carreira na antiga Rádio Nacional, em São Paulo. Posteriormente, trabalhou como repórter, redator e editor de diversos veículos, como O Estado de S. Paulo, TV Excelsior, BBC de Londres, TV Globo, TV Cultura de São Paulo, revistas IstoÉ e Veja. Como consultor e assessor político atuou nas campanhas dos governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin. Dirigente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do assassinato de Vladimir Herzog, Fernando escreveu o livro “Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte no Brasil”, que já está na sexta edição e constitui documento fundamental para a História do Brasil. Foi sócio-diretor da FPJ – Fato, Pesquisa e Jornalismo. Hoje é patrono do “Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão”, realizado pelo Instituto Vladimir Herzog desde 2009 e que já está em sua 11ª edição.