Desejo de passagem – Primeira versão

Ontem vi uma pomba
Na praça Buenos Aires
Buscando desesperadamente
A sua comida
Entre tantos passantes havia
Uma menina toda suja de
Brincar na areia
Na sua calcinha havia uma
Roda marrom e seus braços
Se moviam numa
Rapidez espetacular.

Eu andava por lá
Pensando em somente uma
Coisa: em passar por aquele
Caminho tão conhecido e
Adorado. Queria simplesmente
Observar as árvores e os pássaros.
Via velhinhos cansados e babás
Fofocando sobre a vida alheia
Pensava em passar e passava
Alegre como quem não quer
Nada da vida…

Gravuras de Renata Basile no acervo da Galeria Gravura Brasileira

Renata Basile nasceu em Casa Branca (SP) em 1962 e vive e trabalha em São Paulo, capital. É gravadora licenciada em Educação Artística pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) em 1986, onde estudou xilogravura, gravura em metal e litografia com Evandro Carlos Jardim e Regina Silveira. Em 1988 estudou também desenho com Carlos Fajardo. Além disso estudou xilogravura em papel e tecido com Maria Bonomi em 1995 e fotogravura com Sheila Goloborotko no Museu Lasar Segal em 2008. Atualmente orienta oficinas de linoleogravura, monotipia, cologravura e grafiti no SESC Pompéia, em São Paulo. Já expôs na Galeria União Cultural Brasil-Estados Unidos e na Galeria SESC Paulista. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior.

Contatos:
Galeria Gravura Brasileira
Rua Ásia, 219 – Cerqueira César – São Paulo
Fone: (11) 3624-0301
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Para esquecer

Beije-me
Minhas mãos
Meus ombros
Minha tez

Beije-me
Meu cotovelo
Minha orelha
Minha cicatriz

Beije-me
Minha nuca
Minha curva do joelho
Minhas unhas

Beije-me
Meus pêlos
Minha axila
Minha testa

Beije-me
Minha boca
Minha boca
Minha boca
Lábios e língua

Fazei-me esquecer

Ricardo Alves: Lançamento falhado (Rocket explosion) e Canto com samambaia

Graduado 2012 em Artes Plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) em 2012, participou de mostras coletivas em cidades como São Paulo/SP, Ribeirão Preto/SP, Rio de Janeiro/RJ, Belém/PA, Nova York/USA, Londrina/PR, Tsukuba/Japão, entre outras. Foi premiado nos salões de arte de Ribeirão Preto, Santo André e Guarulhos através dos quais teve obras incorporadas aos acervos públicos desses locais. Realizou as primeiras mostras individuais em 2016, na Galeria Sancovsky em São Paulo capital e no Museu de Arte de Ribeirão Preto/SP.

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Agitação e náusea

Tem momentos em que a vida
É agitação e ansiedade
Três noites sem dormir
Pensando o pensado
Criando um círculo vicioso
Na qual o corpo-espírito
Se afundam numa névoa
A natureza é bem mais simples
Que a mente urbana conturbada
Dá-me natureza lições de vida e
De simplicidade.

Bosque da Biologia – USP, 21/Mar/1988.

Exposição “Do começo do mundo”: Zé Bezerra

“Estão todos mais do que convidados para a primeira exposição do Novos Para Nós: “Do começo do mundo” é uma celebração da obra do artista popular Zé Bezerra, morador do Vale do Catimbau. Ele caminha pela vegetação baixa e encontra a umburana morta e retorcida. Nesta hora, não há espaço para dúvidas: segundo ele, o próprio movimento da madeira já sugere seres do seu imaginário: tatu, paca, cachorro, urutau, mãe da lua, homens e figuras da região. Com um baixo e preciso número de cortes, as peças “param de pé”.

Anotem os detalhes e levem os amigos:

Local: Ondina 55 (Rua Olímpio Catão, 74 – Perdizes, São Paulo-SP). Um super obrigado aos parceiros do Ondina 55, Casa Delas e Arapuru Gin por fazerem essa exposição possível.”

Renan Quevedo
Novos Para Nós (em uma jornada pelo Brasil em busca de artistas populares)

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Pela memória do mestre Sarubbi

Em 1999, um ano e sete meses antes de sua morte, Valdir Sarubbi concluiu o seu livro de memórias intitulado “Estórias Paralelas”. Dessa obra de 140 páginas seleciono dois trechos do conto “Outras Memórias”, que encerra o livro e onde Quelé, alter-ego do autor, relembra, segundo palavras do próprio Sarubbi, “sua primeira infância no sítio ao levar o filho adolescente para conhecer o lugar. Tem uma vivência muito forte junto com o filho ao banhar-se em um igarapé onde se esquece do relógio que o acompanhou durante muitos anos”.

“Escrevi estas memórias numa tarde de Outubro quase trinta anos depois que fui pela ultima vez à Lontra. Voltei lá quando senti necessidade de mostrar a meu filho aquele pedaço de terra onde vivi minha infância. Mostrei para ele coisa por coisa do que ainda existia lá. A mangueira de perto da casa envelheceu e se tornou uma árvore imensa. A casa onde morávamos está aos pedaços, mais parece uma tapera. Os bacurizeiros permanecem ainda lá, também encanecidos, mas bastante altaneiros. Contei estórias para ele. Eu dizia: aqui fiz isso, ali fiz aquilo. Ele sorria e parecia reconhecer tudo. Porque quando ele era pequeno eu costumava me sentar ao lado de sua cama na hora de dormir e lhe contava esses e outros fatos que acabei contando neste relato.”

(…)

“Ao escrever essas memórias fico tentando imaginar aquele relógio que me acompanhou durante uma boa parte de minha vida certamente com seus ponteiros parados, misturado com os pedregulhos, escondido na areia fininha. E naquele silêncio molhado as piabinhas darão voltas e revoltas por cima do local onde ele está adormecido. Talvez um dia alguém o encontre e o coloque no braço, sem ter a mínima idéia que ele já esteve no meu. Mas é possível também que ele permaneça lá, solitário enterrado, imune ao encontro, pelos séculos dos séculos, amém.”

Valdir Sarubbi (Bragança, Pará, 10 de outubro de 1939 – São Paulo, 8 de novembro de 2000)

Foto: Sonia Zveibil

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