O shampoo

Nas rochas, explosões caladas,
os líquens vão
se abrindo em ondas, em camadas.
Copiam sempre
os anéis da lua, embora não
mudem de lugar, que a gente lembre.

Assim o céu nos dá guarida,
mas é você,
minha querida,
precipitada e intransigente;
só que o Tempo, a gente vê,
é no mínimo indulgente.

Cada estrela no seu cabelo,
na água fria,
com tanto zelo
voa tão nua?
— Vem, deixa eu lavá-lo nesta bacia,
torta e brilhante como a lua.

Elizabeth Bishop (Worcester, Massachusetts, EUA, 8 de fevereiro de 1911 – 6 de outubro de 1979). Tradução de Jorge Pontual, para a revista digital Criativos!

Em Votorantim – SP: Exposição “Amazônia Vida” do artista Aguilar

Abertura: Dia 14 de setembro, das 10 às 16 horas

Período expositivo: de 14 de setembro de 2024 à 14 de janeiro de 2025

De segunda a sexta-feira das 10h às 18h e sábados das 10h às 13h Agendamentos no WhatsApp: (15) 9 9136-0301

Curadoria: Fabio Magalhães

A exposição Amazônia Vida traz a minha visão sobre a floresta amazônica e é um chamado para a conservação desse território diante do desmatamento selvagem e predatório causado pela ganância do comércio de madeiras, pelas extensões desmedidas do plantio de soja e das áreas imensas para a criação de gado.

Essa exposição, em constante construção, é resultado de vivências na Amazônia, principalmente no oeste do Pará, nas cercanias de Santarém, em Alter do Chão e em comunidades ribeirinhas dos rios Tapajós e Arapiuns. Com a cumplicidade de amigos, cai dentro da cultura local.

O lema é:
A Amazônia é terra que precisamos conhecer e respeitar.
A Amazônia é a terra que nos mantém vivos
.”

José Roberto Aguilar

Aguilar sempre pintou como um lutador. O embate entre tintas e tela e a coreografia gestual, são atores importantes na construção da sua poética visual. Isto é, o artista desenvolve um verdadeiro corpo a corpo com a tela, numa relação veloz entre pensamento e ação. Basta visitar seu ateliê para perceber que nesses embates pictóricos seus golpes de tinta extravasam, em muito, os limites da tela.

Percebemos na pintura do artista a presença constante de uma gestualidade musical, de uma fabulação. Aguilar introduz conceitos, palavras, textos e letras à sua plástica. A narrativa adquire, muitas vezes, expressão épica, heroica. Haroldo de Campos (1929-2003), que analisou em profundidade a obra de Aguilar, chamou nossa atenção para esse aspecto poético do artista: “Rapsodo é aquele que urde ou ajunta poemas. Aguilar se apresenta como um rapsodo de imagens”.

Fabio Magalhães – curador

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Receita simples para o bem-viver

transformar-se numa distração de domingo: os
outros dias, como toda a gente faz, suportam-se
insuportáveis; e até domingo entardece amargo,
aquele fedor acre das segundas-feiras automáticas,

pé ante pé dos espremidos no metrô, dos gritos de
pressa e resultado no trabalho: escravo, pensa na
vida; mas sem tempo de pensar? o mundo te diz:
[segue quieto, de cabeça baixa, conta o sucesso em

cifras na tua conta: compra e cala, e torce por um
bom sono sob o silêncio de tanta telha descorada];
a roupa, deixa separada de véspera, passada e pronta:
é estar preparado para tudo, mas habituado ao nada.

Dirceu Villa (São Paulo – SP, 1975)

Eu, que eu possa descansar em paz

Eu, que eu possa descansar em paz ─ Eu, que ainda estou vivo, digo,
Que eu possa ter paz no que tenho de vida.
Eu quero paz agora mesmo, enquanto ainda estou vivo.
Não quero esperar como aquele piedoso que almejava uma perna
do trono de ouro do Paraíso, quero uma cadeira de quatro pernas aqui mesmo,
uma cadeira simples de madeira. Quero o resto da minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo,
minha cara de amante, minha cara de inimigo.
Guerras com velhas armas, paus e pedras, machado enferrujado, palavras,
rasgão de faca cega, amor e ódio,
e guerra com armas de último forno metralham, míssil, palavras, minas
terrestres explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais de que vida é guerra.
Eu quero paz com todo meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz.

Yehuda Amichai (Würzburg – Alemanha de Weimar, 1924 – Jerusalém – Israel, 2000) – Poeta e escritor israelense nascido na Alemanha, é o poeta israelense mais celebrado do século. Retirado da Revista Piauí | Edição 10, Julho 2007