Dança dos Planetas

Ilumina o Sol –
O que transportam de lá seus raios
Para flores e pedras
Tão poderosamente?

Tece a alma –
O que eleva a vida
Da crença à contemplação
De maneira tão ansiante?

Oh procura, tu alma
Em pedras o raio,
Em flores a luz –
Tu encontras a ti mesma.

Rudolf Steiner (Kraljevec, fronteira austro-húngara, 27 de fevereiro de 1861 — Dornach, Suíça, 30 de março de 1925). Trad. Valdemar W. Setzer (VWS); rev. Sonia A. L. Setzer (SALS)

Edmundo, meu pai, 25 anos sem ele

Na data de hoje completam 25 anos do falecimento de Edmundo de Oliveira Matosinho – que, se estivesse ainda entre nós, teria 103 anos. Saudades!

* Dois Córregos/ SP, 13 de maio de 1921 – + São Paulo/ SP, 6 de agosto de 1999

Eterno farmacêutico!

Por sua alma haverá missa em São Paulo nessa terça-feira, 06/08, às 19 horas, na Paróquia Santa Teresinha, localizada na Rua Maranhão, 617 – Higienópolis – Telefone: (11) 3660-1220; e em Ourinhos/ SP, onde meu pai viveu boa parte de sua vida, devido ao feriado municipal (Dia do Santo Padroeiro, Senhor Bom Jesus), será na quarta-feira, 07/08, às 19:30 horas, na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, conhecida por Seminário Josefino (Rua Amazonas, 1.119 – Vila Perino – Telefone: (14) 3335-9495), encomendada pelo primo Ângelo Silva Neto.

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)

O vaso de flores

Rosa confundido ao branco
flores e flores reversas
recolhem e derramam a flama velada
atirando-a de volta
à cornucopia da lâmpada

pétalas obscurecidas de través com malva

vermelho onde em volutas
cada pétala põe seu fulgor sobre outra pétala
à volta de gargantas flamiverdes

pétalas radiantes de luz transverberada
pelejando
                   no alto
as folhas
estirando o seu verde acanhado
para fora da borda do vaso

e eis ali o vaso, de todo obscuro
garrido em sua capa de musgo.

William Carlos Williams (Rutherford , Nova Jersey , Estados Unidos, 17 de setembro de 1883 — 4 de março de 1973). Tradução: José Paulo Paes (Taquaritinga, São Paulo, 1926 — São Paulo, 9 de outubro de 1998)

A educação pela pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

João Cabral de Melo Neto (Recife, 9 de janeiro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999)

Canção e calendário

Sol de montanha
Sol esquivo de montanha
Felicidade
Teu nome é
Maria Antonieta d’Alkmin

No fundo do poço
No cimo do monte
No poço sem fundo
Na ponte quebrada
No rego da fonte
Na ponta da lança
No monte profundo
Nevada
Entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d’Alkmin

Felicidade forjada nas trevas
Entre os crimes contra mim
Sol de montanha
Maria Antonieta d’Alkmin

Não quero mais as moreninhas de Macedo
Não quero mais as namoradas
Do senhor poeta
Alberto d’Oliveira
Quero você
Não quero mais
Crucificadas em meus cabelos
Quero você

Não quero mais
A inglesa Elena
Não quero mais
A irmã da Nena
Não quero mais
A Bela Elena
Anabela
Ana Bolena
Quero você

Toma conta do céu
Toma conta da terra
Toma conta do mar
Toma conta de mim
Maria Antonieta d’Alkmin

E se ele viver
Defenderei
E se ela vier
Defenderei
E se eles vierem
Defenderei
E se elas vierem todas
Numa guirlanda de flechas
Defenderei
Defenderei
Defenderei

Cais de minha vida
Partida sete vezes
Cais de minha vida quebrada

Nas prisões
Suada nas ruas
Modelada
Na aurora indecisa dos hospitais

Bonançosa bonança

Oswald de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954)