A canção dos homens

Quando uma mulher de certa tribo da África sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e, juntas rezam e meditam até que aparece a canção da criança.

Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam sua canção.

Logo, quando começa sua educação, o povo se junta e lhe canta a sua canção.

Quando se torna adulto, a gente se junta e novamente e canta.

Quando chega o momento de seu casamento a pessoa escuta sua canção.

Finalmente quando a sua alma está para ir-se deste mundo, a família e os amigos aproximam-se e, igual seu nascimento, cantam sua canção para acompanhá-lo na viagem.

Nesta tribo da África há ocasião na qual os homens cantam a canção.

Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.

Então lhe cantam sua canção. A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.

Quando reconhecemos nossa própria canção, já não temos desejo nem necessidade de prejudicar ninguém.

Seus amigos conhecem a sua canção e cantam quando esqueces.

Eles recordam tua beleza quando te sentes feio.

Tua totalidade quando estás quebrado.

Tua inocência quando te sentes culpado.

E teu propósito quando estás confuso.

Atribuído a Solba Phamem, uma suposta poetisa africana que, na realidade, aparentemente não existe de fato

Esse poema nos foi entregue impresso em um lindo papel reciclado pela amiga Maria Isabel Pellegrini Vergueiro, que escreve a seguinte dedicatória: “Para os amigos queridos Eduardo e Luiza. Que em 2005 a gente possa cantar juntos!”.

Bolo de milho

O milho que você não me deu eu o transformei em um bolo. O que você me deu vou transformar em um milhão.

“Pois o valor das coisas está dentro de nós.”

W. S. V.

Ainda digo mais, não temos que ter medo do lobo pois é só domesticá-lo que ele se transforma em um bolo. Mais nos acostumamos tanto com o lobo que quando vemos que ele é um simples bolo não gostamos. Na verdade o que gostamos é do ato de transformar.

Mais só alguns têm o privilégio de transformarem-se em robôs e sumirem com o sentimento.

Estou na fila, mas estou quase desistindo, porque não queria que o que sinto por você acabasse.  Porque é tão bommm. É com ele que eu consigo transformar carvão em um diamante rosa. Rsrsrs.

Simplesmente respire.

Luiza Matosinho – Pedagoga formada pela PUC-SP em 2007 e professora na educação infantil da Faces Ensino Bilíngue.

De tarde

Naquele “pic-nic” de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aquarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde (Lisboa, Madalena, 25 de Fevereiro de 1855 — Lisboa, Lumiar, 19 de Julho de 1886), In “O livro de Cesário Verde”, Edições Ática, 1992, comprado por mim em Portugal, Lisboa, na Livraria Buchholz

Moça morena e ágil…

Moça morena e ágil, o sol que nasce das frutas,
e que dilata os trigos, e que retorce as algas,
fez o teu corpo alegre, os luminosos olhos
e essa boca que tem o sorriso da água.

Um sol negro e ansioso enrola-se-te nos fios
da negra cabeleira, quando estende os braços.
Tu brincas com o sol como se fosse um esteiro
e ele deita-te nos olhos dois escuros remansos.

Moça morena e ágil, nada de ti me abeira.
Tudo de ti me afasta, como do meio dia.
Tu és a delirante juventude da abelha,
a embriaguez da onda, a força que há na espiga.

Porém meu coração sombrio te procura
e eu amo teu corpo alegre, tua voz solta e fina.

Borboleta morena, suave e definitiva,
como o trigal e o sol, como a papoila e a água.

Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973), in “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”, tradução de Fernando Assis Pacheco, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1977

Beno Filho: Cavalier Lilica, Pontilhado e Desenho em pastel

Antonio Beno Bassetti Filho começou a pintar em 1973, época em que pintou dezenas de quadros à óleo, sempre gostou muito de pintar cavalos. Muitas dessas obras estão hoje em casa de amigos e familiares. Depois que se formou em direito acabou deixando a pintura de lado por conta da atividade profissional por alguns anos, mas sempre manteve contato com a sua arte. Em 2008 retomou sua atividade artística, criando novas obras em pintura à óleo. Começou então a estudar e desenvolver novas técnicas de nanquim, pastel, e lápis. Em 2018 decidiu focar ainda mais em pontilhismo, luz e sombra (lápis), passou a usar o nome Beno Filho e tem se dedicado à esse estilo desde então. Hoje vende suas obras online por encomendas e vendas direta, e continua aprimorando sua técnica e criando novas obras com o tema de animais e pessoas.

Advogado / Artista Plástico / Espiritualista

Contatos:
www.instagram.com/benofilho
WhatsApp: (11) 9 4332-5619

Comigo me desavim

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.

Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?

Sá de Miranda (Coimbra, Portugal, 28 de agosto de 1481 — Amares, Portugal, 15 de março de 1558), Cantiga

Poema enviado por WhatsApp pelo amigo Edney Cielici Dias, poeta e autor do livro “Cartas da alteridade”, que comentou: “Ah… Sá de Miranda…”.