Quem sou?

Ao meu fidalgo amigo Fernando Pessoa

Nasci de um beijo ardente e criminoso:
Havia em quem o deu a ansiedade
Que têm os velhos, a mocidade
Fugia-lhe e com ela, a vida e gozo.
Em quem o recebeu, o voluptuoso
Enleio de donzela, e a ingenuidade
Do mistério sagrado nessa idade
Em que tudo sorri, tudo é formoso.

Um dia… a flor caiu e o zangão voou
E, do seu cálice eu nasci sozinho,
E assim fiquei, na terra, aonde estou

Abandonado e só sem ter um ninho
Sem ter ninguém, sem ter amor, quem sou?
Só o sêmen caído no caminho.

Raul Leal (Lisboa, 1 de setembro de 1886 – 18 de agosto de 1964). Foi um dos introdutores do futurismo em Portugal, publicando no segundo número da revista Orpheu

Almira Reuter: Palestina meu amor

“O meu terceiro livro é um romance, sim 😍 estou falando sério, é um romance lindo, de uma mulher com seus 78 anos que vive e experimenta deixar só o amor fluir em sua vida. Leiam, tenho certeza que você vai gostar, e vai ver que não existe idade para o amor. Está em várias plataformas em primeiro lugar, quero salientar que fiz pela Editora Mepe, e que para mim está sendo uma nova experiência, e tenho ficado feliz.”

Almira Reuter

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Sobre Almira Reuter

“A arte é a luz que ilumina a
minha caminhada neste mundo”

Ayreuter, é a assinatura artística de Almira Reuter de Miranda, 77 anos, pintora expressionista, mais conhecida por Almira Reuter, uma apaixonada contadora de histórias. Quando é despertada por um tema, mergulha nas pesquisas e deixa a cargo de suas mãos, tintas, pincéis, linhas, agulhas as narrativas carregadas de emoções e cores. Assim nasceram as séries Carandiru, Juscelino Kubistchek, História da Odontologia, entre outras.

Destaca-se como uma das pintoras mais premiadas do Estado do Mato Grosso. Nasceu em 16 de março de 1946, na cidade mineira de Nanuque, foi criada entre a Bahia e Minas Gerais. Em 1967 mudou-se para Cáceres (MT), onde desbravou corajosamente sertões para se dedicar à agropecuária.

Autodidata, nunca frequentou academia, tampouco estudou técnicas de pintura. Em 1982 se estabeleceu em Cuiabá, capital de Mato Grosso. Aos 40 anos (1986) ingressou no mundo das artes e passou a ser reconhecida por apreciadores e críticos de renome, como Aline Figueredo, João Spineli e José Serafim Bertoloto. No ano 2000, fez uma exposição individual intitulada “Reminiscências de Cuyabá”, destaque que ganhou uma tiragem de 15 mil cartões telefônicos com as telas da exposição. Foi citada como referência na obra “Incomum”, de Jacob Klintowitz. Realizou exposições e participou de coletivas no Brasil e no exterior: em Londres, na Canning Hourse Gallery, Inglaterra, na Art Expo New York, na Ava Galleria, Nova York, Estados Unidos, na Casa da Cultura, “A Via Sacra”, Cairo, no Egito e em Roma, na Galeria Tibaldi Arte Contemporânea, “Memórias do Brasil – Imigração Italiana no Brasil”, Itália.

Destacou-se em salões e ganhou vários prêmios entre eles o intitulado “Obras Primas”, da Funarte, pela exposição em Brasília, tratando do episódio Carandiru. A artista ousa experimentar diversas técnicas e materiais como estopa, seda, chitão, filó, barbante, aço, papel, metal, barro, tecido. Fez esculturas, instalações, criou bonecos de pano dentre outros elementos que ganham vida e forma em suas mãos criativas. Almira busca se reinventar a cada dia sem perder a magistral caligrafia.

Trabalhou temáticas como drogas, política e corrupção, mostrando que a arte é seu peculiar instrumento de manifestação. Atualmente, mora no Balneário Camboriú, Santa Catarina, onde se reinventa a cada dia e começa uma nova fase na arte têxtil, que a artista denomina “tramas”.

Contatos:
www.facebook.com/almira.reuter
www.instagram.com/almira_reuter
almirareuter88@gmail.com
WhatsApp: (65) 9 9924-0469

Sinfonia de cor

Sempre defronte
de mim
o mar azul, o mar imenso, o mar sem fim,
todo igual e azul até ao horizonte.

Neste dia delirante
de luz crua a jorrar, intensa, lá do alto,
uma vela distante
mancha de branco o seu azul-cobalto.

Um traço de espuma branca
junto à penedia
marca a linha da costa em enseada franca.

E a nota branca
das gaivotas em bando,
esvoaçando
à revelia,
e um ritmo novo de alegria,
de ruído e de graça.

Perto uma vela passa,
lenço branco a acenar…

Não ter asas também para poder voar
aonde me levasse a minha fantasia!
E ser gaivota e mergulhar
na água e bater asas,
alegre, todo o dia!

Poisar nos calhaus negros, que são brasas,
brasas negras a arder,
e ver aos pés a referver
aos borbotões de espuma.

Dar um grito e subir,
subir alto e distante,
já quando a terra se esfuma
e o mar aumenta, quanto mais avante.

Partir!

Partir para o delírio das alturas,
só, entre o céu e o mar,
longe do mundo e mais das criaturas.

Ah! Não ter asas e poder voar
de alma desvairada,
entontecer-me de espaço…

– Nota branca riscada
entre o azul do céu e o azul do mar.

Depois voltar
para ver
o sol morrer
num clarão de fogueira,
incendiando o céu, metalizando o mar…

E ver a noite abrir
o regaço
para deixar cair
uma a uma as estrelas.

Adormecer a vê-las…

Depois sonhar,
num delírio de cor, a noite inteira.

Armando Côrtes-Rodrigues (Vila Franca do Campo, Portugal , 28 de fevereiro de 1891 — Ponta Delgada, Portugal , 14 de outubro de 1971). In “Antologia Poética”

A Palavra

“…Sim senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam… Prosterno-me diante delas… Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as… Amo tanto as palavras… As inesperadas… As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem… Vocábulos amados… Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho… Persigo algumas palavras… São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema… Agarro-as no voo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas… E então as envolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as… Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda… Tudo está na palavra… (…)”

Pablo Neruda (Parral, Chile, 12 de julho de 1904 — Santiago, Chile, 23 de setembro de 1973), in “Confesso que vivi”, tradução de Olga Savary, Difel – Difusão Editorial S. A., São Paulo, 1974

Hai-kais

O Pensamento

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.

*

Hora de ter saudade

Houve aquele tempo…
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)

*

Cigarra

Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.

*

Consolo

A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.

*

Chuva de primavera

Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.

*

Noturno

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.

*

Os andaimes

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.

*

Tristeza

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

Guilherme de Almeida (Campinas, São Paulo, 24 de julho de 1890 — São Paulo, 11 de julho de 1969). Alguns de seus hai-kais extraídos do livro “Poesia Vária”, São Paulo, 23 de fevereiro de 1937

Samba japonês

Aqui pela primeira vez
Eu canto pra vocês
Um samba e um batuque feito para japonês
E vem aqui dançar comigo
Sem levar um tombo
E só se para quando ouvir o som daquele gongo
Tóquio é a cidade que
Quase vive em paz
Porque a polícia lá estuda até arranjos florais
Bruce Lee, Kung-fu, Shaolin chegou
E veio sambando e cantando em nagô
O sol então nos encontrará
Pela madrugada
De mãos dadas como num conto de fadas
Cor de jade e de marfim, nos invade
Amor sem fim, felicidade é uma coisa assim
O sol então nos encontrará
Pela madrugada
De mãos dadas como num conto de fadas
Cor de jade e de marfim, nos invade
Amor sem fim, felicidade é uma coisa assim

Jorge Mautner (Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1941) / Nelson Jacobina (Rio de Janeiro, 1953 — Rio de Janeiro, 31 de maio de 2012)